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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Juventude, Fraternidade e Fé


 
imagem Google (Juventude Mariana Vicentina)
 
 
Juventude, Fraternidade e Fé

 

O desafio maior da Igreja nos tempos atuais e vindouros próximos é mostrar a novidade do movimento de Jesus à juventude. Inicialmente a religião cristã seduziu, no sentido bíblico, os escravos, os pequenos artesãos, os periféricos do império romano, e dentre eles principalmente os jovens pobres, porque a semente e a bandeira da mudança estão e estarão sempre no coração e nas mãos dos jovens.

A pregação cristã primordial anunciava o advento iminente do Reino, onde as estruturas conservadoras e hierárquicas, tais como eram postas na época, seriam implodidas e assim os pobres teriam vez, aos perseguidos seria feita justiça, os famintos saciados, os ricos despedidos de mãos vazias, os poderosos destronados, os imigrantes acolhidos, os doentes curados e assim por diante. Isso é a própria pregação para uma juventude com gana de mudar o mundo. Ia mais além, dizia que quem não abandonasse pai e mãe por causa do Reino não seria digno de entrar nele, deixassem que os mortos enterrassem seus mortos, não olhassem para trás, etc... O início da pregação cristã era muito subversivo e arrebatou multidões, até o momento em que houve uma conversão forçada, a partir de Constantino no séc. IV, de todo império ao cristianismo. O que era novo tornou-se velho, o que era subversivo agora subvertia, o que era perigoso agora era a própria estabilidade.

A juventude da Europa, do Oriente, dos Estados Unidos, do Brasil e da América Latina em geral, se encontra mergulhada numa dolorosa, duradoura e profunda crise. Em proporções desiguais, mas toda ela está lutando contra o desemprego, a desestruturação familiar, problema com drogas e violência, falta de perspectiva, falta de liberdade, falta de identidade.

No Brasil a imensa maioria de criminosos é de jovens, de mortes violentas é de jovens, desempregados idem, drogados, prostituídos, marginalizados. Uma crise sem precedentes onde a religião deixou de ter importância na vida deles, pois não responde aos seus anseios nem tampouco à sua situação concreta de vida.

A sociedade consumista e imediatista, e vejamos bem, não foi criada pelos jovens e sim oferecida a eles, excludente e com uma presença fraca, quando há, de um Estado que muitas vezes ocupa a mídia com escândalos e mais escândalos.

O que esperar de um caldo social desse, altamente explosivo? Qual a mensagem que podemos transmitir e levar aos jovens sobre a grande novidade (evangelho) do Ressuscitado? Sermões, passeatas, festas, proibições, interdições?

Precisamos reinventar a pedagogia cristã, ter mais fé na renovação que o Espírito Santo trás, não podemos jamais deixar a novidade do Evangelho envelhecer.

Eis um desafio e tanto!

 

Assuero Gomes

Médico e escritor

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A renúncia do Papa,The Pope's resignation, La renuncia del Papa, Der Papst Rücktritt, Le pape démission, התפטרותו של האפיפיור, De paus aftreden, A pápa lemondását, Dimissioni del Papa, Papae renuntiationem, Папа отставку


A renúncia do Papa

 

Ratzinger me surpreende mais uma vez. Confesso que quando da sua escolha para suceder João Paulo II uma decepção e um desânimo tomou conta do espírito de uma parte de cristãos católicos que almejavam uma Igreja mais progressista nos moldes e orientações do Concílio Vaticano II.

Surpreendeu-me, como já tive oportunidade de expressar em outro artigo, a maneira como ele conseguiu ouvir opiniões de outras vozes antes de tomar algumas decisões. A grande vantagem de Bento XVI é que ele é um teólogo. A diferença de quem estuda e reflete honestamente é saber de suas próprias limitações. Ratzinger jamais foi um messiânico, justiça se faça. Ele permitiu que o lado obscuro e sujo da Igreja viesse à tona, especificamente a questão da pedofilia e a financeira.

Um breve papado de oito anos, mas que mergulhou profundamente na história. O segundo papa que renuncia de livre e espontânea vontade, em dois mil anos.

Certamente a mídia vai expor à exaustão a sua renúncia, elucubrações sobre o assunto vão ocupar a mente de milhares e milhares de pessoas, outra dezena de livros de ficção e conspirações vai ser editada e vai fazer a fortuna de alguns. As causas da renúncia vão ser pesquisadas e aventadas com mil e uma possibilidades: doença, política interna, política externa, etc... Dificuldades de ordem teológica e administrativa vão ser levantadas.

O Papa renunciando continua infalível? O sucessor tomando uma atitude ou emitindo um decreto ou um ensinamento diferente de Bento XVI, a quem os católicos deverão seguir? Deixando de ser Papa a assistência do Espírito Santo recairá sobre o próximo automaticamente? Ele deixa de ser o administrador da Igreja e chefe de Estado, mas continua iluminado? Será o que, depois da abdicação: um bispo, um cardeal, ocupará um cargo especial, um Papa honorário?

Questionamentos de ordem teológica, filosófica e prática serão inúmeros, mas a Igreja com sua sabedoria saberá conduzir-se através dos caminhos da humanidade, de maneira lenta, dando respostas atrasadas a perguntas urgentes, respondendo rapidamente a perguntas sem respostas, criando perguntas sem ter as respostas, com suas falhas, seus pecados, suas virtudes, erros e acertos, mas caminhando, completando no próprio corpo as chagas do Cristo, que misteriosamente continua amando-a.



Bento XVI fez um movimento incomensurável e de inquestionável amplitude, que vai repercutir na história da Igreja e, portanto na história da humanidade.

A sensação que me passa, decorridos alguns dias, é a de um profeta que vendo os que deveriam ser pastores do povo, imersos num turbilhão de situações conflituosas com a vontade de Deus, faz um último, solene, surpreendente, tranquilo, consciente e único gesto profético, como ator definitivo de uma cena definitiva, retirando-se para se manter radicalmente inserido, protagonista e eloquente no silêncio de quem não comunga com a realidade na qual a instituição está mergulhada. 

Ratzinger me surpreendeu, como surpreendeu a um quarto da população mundial. Mergulhou na sua própria humanidade, um mergulho profundo e sereno, como daqueles que vislumbrando a imensidão do mar se questionam da sua própria imagem refletida numa pequena poça no seu banheiro ou espelho de barbear, e se apaixonando pelo mar mergulham despidos de si próprios.

Bento XVI mostrou que a infalibilidade do Papa é possível, pois está inserida na sua falibilidade humana.

 

Assuero Gomes


Cristão católico leigo da arquidiocese de Olinda e Recife

 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Oh, Luz boa!

 
 
 
Oh, Luz boa!
 
 
 
from Youtube
 
 
 
 Fotos Assuero






sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Igreja e a barca


 

 
 
 
 
A Igreja e a barca

 

Ereta na margem do rio, a igreja, antiga, de madeira construída, guardava toda a história e a tradição do lugar, que empobrecido pela monocultura, criou uma verdadeira zona de miséria. Os pobres proliferavam ao redor da igreja, vivendo da pesca minguada do rio, que a indústria poluiu, sem criar empregos, pois automatizada, dispensou a mão-de-obra já barata, que de explorada passou a excluída.

Aconteceu que, por causa destes desequilíbrios nada naturais, o rio além de corroer as margens, subia cada vez mais. Invadiu os casebres e acabou com a pesca já mirrada. A população não tinha como se salvar. Decidiram então construir uma barca na qual coubesse a todos. A única madeira viável era a da igreja. O velho pároco bradando ameaças do inferno foi contra. Era a casa de Deus, propriedade da Igreja, depositária da tradição. Quem ousasse tocar numa só talisca daquela madeira sagrada seria excomungado por dilapidação.

A água subia. Parecia até que um segundo dilúvio de Noé estava para acontecer. As pessoas se reuniram e tomadas de coragem, que as situações extremas encarregam de providenciar, amarraram o padre à pouca distância e começaram a arrancar as tábuas da salvação. O pároco chorava sentindo-se culpado por não defender com a vida sua igreja. O povo, a bem da verdade, há muito tempo já não freqüentava mais assiduamente as celebrações, pois a fome e as doenças apertando, com o desemprego, não tinham como pensar no etéreo. A barriga vazia e o choro de crianças com fome, são péssimas companhias para a meditação e o louvor.

Madeira por madeira, pregos enferrujados de centenas de anos, muitos cupins sorrateiros. A estrutura eclesial foi sendo desmontada pelo povo, que naquela hora precisava mais de uma barca que de um edifício. O cura exortava os ribeirinhos a pararem com aquele sacrilégio. A água subia. O povo começava a se organizar em comunidade na iminência da catástrofe. Precisavam chegar à outra margem. As águas estavam mais profundas e revoltas. A água começava a banhar os pés do pobre padre, que a estas alturas já rezava o breviário decorada e piedosamente.

Em questão de horas, a igreja estava praticamente toda desmontada e um esboço de embarcação estava surgindo, como num milagre. Os pobres estavam transformando a igreja em barca. “Um dia, muito antigamente, a Igreja já foi uma barca”, lembrou um ancião “e os padres já foram pescadores”. O ancião era a memória do povo. Na construção da barca todos trabalharam com afinco. A água subia galopante. Talvez não desse tempo. O padre iniciou o terço. Estava aflito. A barca se completava com o esforço sobre-humano de cada um.

As paredes, o forro, os bancos, o altar, o confessionário, o genuflexório, tudo, tudo, foi transformado na barca. A barca da salvação dos pobres. A barca que deveria chegar à outra margem, transportando-os, em segurança, por sobre águas turbulentas e profundas. Com água nos joelhos, estava quase pronta. As crianças forma colocadas a bordo, em primeiro. Desamarraram o pároco, que vendo e sentido a água subindo por sobre sua batina, deu graças a Deus pela barca e correu como pode para nela adentrar.

Estando pronta ao mesmo tempo em que as águas revoltas do rio varriam os alicerces da antiga igreja e dos casebres, todos se acomodaram e puderam iniciar mais esta travessia nas suas vidas, e nunca, nunca mesmo, aquela igreja, agora transformada, salvou tanta gente.

 

Assuero Gomes.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

QUARESMA

 
 
 
 
 
Reflexões quaresmais ao longo dos anos...
do Jornal Igreja Nova
 
QUARESMA




E TU, ONDE MORAS ?


FEVEIRO/MARÇO/ABRIL - 1993



Estávamos pensando no editorial deste número do IGREJA NOVA, como trazer alguma contribuição para o tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Preocupados com as terríveis estatísticas de famílias sem moradia, de seres humanos sem lar, de projetos mirabolantes do próprios Jesus em pessoa, na noite de 05 de março apareceu na calçada da casa onde se faz a editoração do jornal.

Como responder nossas indagações, lá estava ele... bem à nossa frente!

Trajando uma camiseta desbotada e um roto calção sujo, estava tonto, de fome e de cola. Não se suportava em pé, e quando lhe perguntamos, onde moras? Desatou num pranto cujas lágrimas misturadas com catarro batizaram seu esquálido tórax de onze anos e obnubilado pela dor um "depois de Caruaru caiu tonto no chão.

Tomamos sua lata de cola e lhes demos algum alimento. A velha, triste e verdadeira estória de sempre, o "pai" bêbado e violento, a mãe morta, a fuga em alguma carroceria de caminhão, o primeiro vício, e lá esta ele, desta vez não estava discutindo com os doutores do templo, ou estava? Desta vez não era o pequeno Yeshua mas José Francisco da Silva. Lembramo-nos de José, tantos Josés, lembramos de Francisco, eterno grito de Assis, lembramos também dos Silva, nome do Brasil descalço, desempregado, do Brasil morando nas ruas, nas pontes, nos viadutos, nas delegacias, no lixo.

E Jesus nos perguntou, e tu, onde moras? Menos tonto, menos desfigurado, porém tão eloqüente que uma sensação de vazio e impotência tomou conta de nós. A criatura, obra prima de Deus, ali estava que nem bem humana já parecia. Ali estava a questionar nossa religião, nossa aspiração de vida, nosso engajamento político. Não nos deixou sofismar: "senhor tu moras no sacrário, tu moras no coração do homem, tu moras no paraíso celeste, tu moras sentado à direita do Pai, tu moras com Maria a Rainha do Céu", não nos deixaste sofismar, nos mostraste que realmente tu estás a procurar uma casa, um alimentação digna, um escola, uma família, um futuro humano, realmente tu apenas queres ser humano, simplesmente humano.




"ERAS TU, SENHOR ?"!

MARÇO-1995



E chegando o dia, depois da noite da última partida, eis que surge o Senhor da História, bem à nossa frente.

Deste encontro ninguém se furtará. Nem rico, nem pobre; nem crente ou ateu, de qualquer denominação, de qualquer raça. Nem o melhor ou o pior dos homens, ou das mulheres. Sem nada falar, o Senhor nos permitirá uma consciência plena de nossa vida. E de repente um turbilhão organizado de lembranças penetrará e trará à tona, do fundo de nosso ser, esta consciência. Como uma luz forte, fortíssima, iluminará nossas opções em relação aos outros. Então aos poucos, iremos notando que nossos adornos religiosos, nossos fetiches, nossos rituais, estão caindo por terra. E aos poucos nossa "moral", desvinculada da realidade de sofrimento dos nossos irmãos, vai caindo também. Percebendo já há algum tempo que nossa segurança produzida pelo acúmulo de bens, foi deixada lá para trás, desde ontem... E vamos ficando nus. Frágeis como recém-nascidos. E o Senhor da História, nada nos pergunta. Nada nos julga. Nada nos diz. Apenas nos fita com um olhar de compaixão amorosa. Sentimos então que não somos merecedores de sua presença, de seu olhar. De repente sua face, começa a se transformar no rosto de tantos irmãos que passaram por nossas vidas. É o mendigo, é o menino de rua, a menor prostituída, é o desempregado, é o abortado pela sociedade, é a multidão dos sem vez e sem voz, dos excluídos. É uma família inteira dos Sem-Terra, dos perseguidos, dos injustiçados, dos oprimidos. Aí, nossa nudez vai ficando mais intensa e surge então na nossa pele, as opções pessoais, as opções políticas, o novelo das relações que mativemos conosco mesmo, com nossa família, nossa comunidade e nosso povo.

Num olhar entre atônito e desesperado, esboçaremos uma pergunta tímida e constrangida : - Eras tu,Senhor?!



A SEMANA SANTA

MARÇO- 1996



Celebrar a Semana Santa é vivenciar, passo a passo os últimos momentos de Jesus de Nazaré aqui nesta terra, mergulhar com Ele na escuridão do sepulcro e no terceiro dia experimentar a plenitude da

Vida !

Podemos seguir este caminho de duas maneiras: a sós ou com a comunidade.

Se o percorrermos sozinhos, poderemos até a ter um conforto e um consolo nesta semana. Poderemos nos fortalecer na penitência da Sexta-feira, na espera da vigília do Sábado e na alegria do Domingo de Páscoa. Para muitos fiéis, este é o caminho mais usual de todos os anos. Alegarão com certa razão, que esta é a tradição e que Jesus cuida da salvação particular de sua alma.

Dois perigos nesta estrada, no entanto existem: o primeiro é que o caminho que percorremos pode não ser o da morte e ressurreição, mas um caminho criado por nossos próprios interesses e aspirações, por mais belos e sinceros que sejam; o segundo, é que o Jesus que seguimos sozinhos não seja o Jesus histórico, das escrituras, mas um mito que criamos à nossa imagem e semelhança, para responder às nossas angustias. Os dois perigos na verdade são um só.

Por outro lado, se caminharmos na Semana Santa, junto com a comunidade, estaremos sempre descobrindo um caminho novo, estaremos dividindo a penitência e somando as conversões, estaremos lavando os pés uns dos outros mas ao mesmo tempo experimentando na Santa Ceia da Quinta-feira o esplendor de uma vida eterna contida no pão partilhado entre os famintos.





EU ESTAVA PRESO E ME VISITASTE

JANEIRO/FEVEREIRO-1997




Estar preso, representa uma situação de submissão extrema incompatível com a imagem de Deus que existe em nós. Há quem afirme que a maior glória de Deus é o Homem e a Mulher de pé, plenos, completos em todas as suas aspirações e possibilidades.

Visitar um preso, é antes de tudo resgatar esta dignidade rompida.

Poder-se-ia compor as várias faces e situações de uma pessoa sem liberdade, tais como os escravos dos vícios, das paixões, dos instintos, das estruturas sociais, dos dogmas, dos ritos, da própria carga genética... mas neste tempo propício o Espírito nos pede para olharmos mais profundamente os encarcerados. Pede para refletirmos a situação desumana em que vivem estas criaturas de Deus, irmãos e irmãs nossas, que são jogadas nos calabouços subterrâneos de uma sociedade mais cruel do que muitos dos crimes dos que ali estão.

É hora de pensarmos nas questões que se apresentam a nossos olhos e a nossos corações: Por que, neste país, os grandes criminosos, os megadelinquentes, os poderosos corruptos, vivem livres e nababescamente ?Por que quem tem dinheiro para subornar e montar caríssimos esquemas de corrupção, imunes à ação da justiça, jamais vão para cadeia? Onde estão aqueles que desviam o dinheiro dos órfãos e das viúvas e dos aposentados ? Em que cela se encontram ?

Visitar os encarcerados é lutar pela justiça. Visitar um preso é levar no coração a fagulha do amor de Jesus. Um amor que está muito além da simples justiça dos homens, um amor que é misericórdia e compaixão.

Que esta Campanha da Fraternidade abra os caminhos do nosso país para a justiça, a paz, e a liberdade, e que seus filhos e filhas possam experimentar a presença de Jesus em suas vidas, concretamente.



UM DEUS ANALFABETO

JANEIRO/FEVEREIRO - 1998



De todas as loucuras do amor de Deus para com suas criaturas prediletas, é a Eucaristia a maior delas, sem dúvida. Tornar-se pão e tornar-se vinho para comungar com os homens e as mulheres de todos os tempos e de todos lugares.

De todas as loucuras que a insensatez dos homens e das mulheres faz com Deus, algumas são tão escandalosas que apenas uma infinita misericórdia, muito além da justiça, faz que Ele continue amando e chamando a todos de filhos e filhas.

Como cultuar a Jesus e ao mesmo tempo obrigá-lo a passar fome, retirar-lhe o direito de ter até onde deitar a cabeça, fazer dEle uma imagem de Deus analfabeto ? A insensatez e o egoísmo dos homens e das mulheres faz grandes celebrações, cultos monumentais, ergue templos suntuosos na procura da sua glória, no entanto não O vê onde Ele mais está: nos pobres dos pobres.

A Campanha da Fraternidade deste ano nos leva a abrir a janela do coração e ver Jesus no corpo e no sangue dos analfabetos. Numa imensa massa sem instrução que exige ser fermentada em povo.

Perguntará Deus com certeza a cada um de nós e à nação brasileira : - Onde estavas ? Pois eu estava com sede de saber e não me destes de beber desta água...em vez de lápis e papel me deste a escuridão da ignorância e uma cuia para mendigar nas esquinas.

Atendamos pois ao apelo que o Espírito Santo nos faz e que nossa insensatez e nosso egoísmo se transformem em força construtiva para resgatarmos nossos irmãos e irmãs da margem da sociedade. Assim poderemos ver a Deus bem ao nosso lado e certamente o culto Lhe será agradável. Pois como já se sabe, a maior glória de Deus é o homem e a mulher em sua plenitude, de pé, lúcidos e libertos de toda opressão !



SEM TRABALHO POR QUE ...
MARÇO- 1999



Sem trabalho porque não tiveste fé suficiente? Porque não oraste em frente à TV ou porque não bebeste da água milagrosa? Onde está tua carteira de trabalho que não levaste para o padre ou o pastor abençoar?

Sem trabalho porque a fatalidade do terceiro milênio carrega energias negativas e forças cósmicas contra o emprego? Ou porque a bolsa da cochinchina caiu? Será que moras num país paupérrimo assolado por vulcões, terremotos, maremotos e toda sorte de catástrofes naturais? Há guerra civil declarada no teu país?

Sem trabalho porque é vontade de Deus castigar os impenitentes?

Na verdade Deus fez mais que sua parte: nos deu um país enorme, com reservas biológicas que, racionalmente aproveitadas, dariam para vivermos com fartura eternamente, um país sem grandes catástrofes naturais, um povo bom na sua essência, que consegue se alegrar e manter a fé mesmo após 500 anos de exploração, nos deu também uma pluralidade cultural sem precedentes, uma civilização a construir com todos os seus desafios, e nos deu fundamentalmente a liberdade que só os filhos e filhas têm. Nos deu sua Palavra, Jesus Cristo, para em torno dEle e com Ele construirmos nossas vidas. Nos deu ainda sua mãe, Maria, intercessora carinhosa deste país moreno, imagem e semelhança sua, Aparecida.

Sem trabalho por que?

Sem trabalho porque a opção que fizemos, consciente ou inconscientemente, de modelo social, afasta-se completamente da proposta de Jesus. A nossa opção, a da maioria, foi aquela que nos incita a consumir compulsivamente, a acumular sem partilhar, a apostar na disputa egoísta pelos bens de consumo não essenciais. Um modelo que contempla a vaidade, a exibição da aparência em detrimento do ser, onde o humano é substituído pelo lucro. O preço que pagamos é bem alto. E como é ! Medo, violência, grades, perversões, drogas, desemprego, destruição....um modelo importado e inspirado nos demônios do Norte, o mesmo modelo usado para tentar Jesus no início de sua quaresma: ter, poder e prazer.

Vale a reflexão como num programa televisivo: trocaríamos os carros importados por um sistema de transporte coletivo eficiente? Trocaríamos nosso atendimento em hospitais-hotéis de luxo por um sistema de saúde socializado e humanizado? E as escolas? Colocaríamos nossos filhos em escolas públicas otimizadas, lado a lado com o filho da lavadeira, em igual oportunidade para todos? Nossa religião constrói templos de luxo para todos ou há separação de classes nas igrejas?

Sem emprego porque os homens e as mulheres que têm acesso às informações e que são formadores de opinião pública, deixaram-se seduzir pelo luxo dos ricos e ainda introjetaram na mente e nos corações de muitos pobres a sensação de inferioridade, colocando na direção do nosso país, em todos os níveis, pessoas descomprometidas com o modelo de Jesus. Sem emprego porque o nosso pavor irracional de perdermos o pouco que temos nos acovarda a tal ponto, que já não levantamos outra bandeira que não a da nossa própria sobrevivência. Sem emprego porque o próprio Jesus está desempregado, falando no deserto de nossos corações, sem ser ouvido...




UMA QUARESMA, UMA CAMPANHA
JANEIRO/FEVEREIRO - 2001




Vemos um Cristo torturado que caminha para a cruz, no corpo de tantos jovens traz as chagas da tortura. As chagas que uma sociedade injusta lhe impôs. Dentre as feridas estão a fome, a desigualdade social, a falta de perspectiva, as drogas. O Cristo jovem. A Ele oferecem vinho e mirra, ou maconha, ou cocaína, ou crack. Ele recusa. Precisa seguir a missão conscientemente, lúcido, mesmo que o sangue lhe escorra pelos olhos, a visão embotada. Precisa seguir caminhando com a cruz aos ombros. Caindo, levantando, caindo de novo. É jovem o Cristo.

O Reino está perto. Logo ali depois do Calvário. O caminho é penoso. Pedras. Mães chorando. Não chorem por mim, mas pelos seus filhos. Estes que a sociedade da idolatria do lucro transformou em consumidores de drogas. Chorem por eles. Mães de Israel, da praça de Maio, dos Desempregados.

Depois da curva do Gólgota é a montanha da Ressurreição, mas é preciso este caminho. Caminhar é preciso. É preciso enxugar as feridas do Cristo, as lágrimas das mães, consolar a aflição dos pais e oferecer um caminho aos jovens. Abreviar o Calvário, antecipar a Vida, distribuí-la fartamente, democraticamente, plenamente.

O Cristo ressuscitado resplandece, ilumina, conduz. Chama a si as famílias, os pobres, os jovens. Chama a si como chama viva e incandescente a tudo e a todos, pois o sofrimento já sofreu e não há mais nada o que sofrer. A Quaresma Ele já a viveu plenamente, espera-nos pois para a Páscoa, uma Páscoa que preparou com carinho de irmão. É um Cristo jovem. É um Cristo lúcido.




Quaresma - tempo de sacrifício ou tempo de paz?

Janeiro/Fevereiro- 2003



Cheguei em casa na manhã da quarta-feira de cinzas, cansado e feliz, depois de ter desfilado com muito orgulho por meu bloco. Lembrei que a quaresma estava começando e imaginei que sacrifício faria, para melhor preparar-me para a páscoa. Nem cheguei a dormir. O som dos tiros que ressoavam perto de minha janela, penetravam em minha alma, fazendo feridas profundas, fazendo-a sangrar. Era a guerra urbana continuando, depois da trégua para o carnaval.

E o tempo da quaresma chegou, trazendo pânico e desespero para a minha cidade, com incêndios, mortes de inocentes e o pavor estampado em cada rosto, doendo em cada coração.

Do outro lado do mundo, judeus e palestinos continuam matando-se uns aos outros, travando batalhas sangrentas, deixando órfãos de pais, de filhos e de irmãos dois povos sofridos, numa guerra que parece nunca ter fim.

Não muito distante dali, um outro povo sofrido, oprimido pela miséria e por um regime autoritário, vê-se agora vítima de uma outra opressão que destrói suas casas e mata seus filhos: a que advém da ganância e da sede incontida de poder, travestida de salvadora. Não é essa a bandeira desfraldada pelos invasores de terras alheias? Agem como morcegos sedentos que depois de sugar o sangue da vítima, sopram-lhe a ferida para aliviar a dor. Não seria melhor não ter feito a ferida?

Ligo a tv e algo de bom aparece: a Campanha da Fraternidade nos conclamando a valorizar os nossos idosos. Idosos que padecem nas filas dos aposentados em busca do seu magro pagamento ou nas filas do SUS, aguardando um atendimento médico. Idosos que, depositários de nosso passado, deveriam ser a sedimentação de nosso futuro, com sua sabedoria e sua experiência, mas que ainda são tratados como estorvo, algumas vezes jogados por suas famílias em lares para idosos, de onde nunca mais sairão e sequer recebem visita.

O tempo de quaresma para todas essas pessoas há muito começou, bem como o tempo do calvário. Fico me perguntando então, quando, para elas, começará o tempo da ressurreição?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

DOM HELDER PESSOA CAMARA, SEMPRE


DOM HELDER PESSOA CAMARA, SEMPRE

 

No dia 07 de fevereiro de 1909 nasceu, na cidade de Fortaleza, Dom Helder Pessoa Camara. Depois de uma vida na qual praticou a pobreza evangélica, se dedicou, permanentemente, aos pobres, defendeu, com firmeza, os Direitos Humanos, e deu um novo rosto à Igreja no Brasil, o “Profeta do Século XX”, abafado e perseguido pelos governos militares e não entendido pela hierarquia da própria Igreja, encontrou-se com seu Criador na noite do dia 27 de agosto de 1999.

Gostaria de contar alguns fatos pouco divulgados, porém verídicos, daqueles dias. Claudete e eu – morávamos naquele ano em Recife -  fomos participantes, portanto, testemunhos oculares, da cerimônia de despedida do Dom.

Na tarde-noite daquele sábado, dia 28 de agosto de 1999, uma grande multidão acompanhava o Dom, cujo corpo era coberto de flores de todas as cores e todos os perfumes. O caminho era longo, desde a Igreja das Fronteiras, morada do Dom, passando pelas avenidas do Recife, subindo os morros de Olinda, até chagar em frente à catedral, onde se concentrava, desde cedo, grande multidão que rezava sua fé, chorava sua dor, mas cantava também sua esperança, divina força dos pobres. Havia sido preparada uma área reservada e cercada na qual, ao redor do corpo do Dom, encontravam-se bispos, padres e alguns convidados. O povo ao redor, sem poder ver o rosto descansado do seu pastor, participava intensamente daquela celebração da vida e ressurreição. Em dado momento, um jovem se soltou no meio do povo, desenrolou e mostrou a bandeira do Movimento dos Sem Terra, e colocou-a sobre o Dom. Enquanto uns ficavam sem saber como reagir diante de tal atitude inusitada, outros, isto é, quase todos, aprovavam este gesto, que expressava uma simbologia que, embora não fizesse parte do rito litúrgico (talvez exatamente por causa disso), proporcionava profundo sentido àquela celebração.

Quase treze anos depois, em 17 de agosto de 2012, na Sé de Olinda, por motivos diversos, foi realizada a exumação dos restos mortais de Dom Helder. Ouçam o que aconteceu naquela manhã fria e chuvosa de agosto. Assuero Gomes, médico pediatra e escritor, amigo e fiel seguidor do Dom, nos apresentou o seguinte relato, acompanhado de bela reflexão:

“Depois de praticamente treze anos sepultado no chão dessa igreja, seus restos mortais repousarão ao lado dos de D. Lamartine, bispo irmão que o auxiliou no pastoreio da Arquidiocese de Olinda e Recife e dos de Padre Henrique, mártir da ditadura que se instalou no nosso país a partir de 1964.

Envolta em seu caixão ainda restava a bandeira do Movimento dos Sem Terra, intacta, na época, um símbolo da luta de camponeses em busca de um pedaço de terra para plantar e sobreviver com suas famílias. Lembro-me do dia do enterro.

Confesso que nutria em meu íntimo a esperança de que o corpo dele estivesse intacto também, tal qual a bandeira, pois no meu pensamento isso seria um sinal poderoso para a Igreja, de que o Dom é um santo e como tal, tudo que ele lutara e escrevera e sinalizara teria que ser aceito oficialmente. Ledo engano. Mais uma vez o profeta surpreende! Mais uma vez ele nos mostra que os pobres é que são os profetas de Deus.

Lentamente ele nos vai ensinando sua última lição, ou seria a primeira na vida plena? Não importa, é uma lição importante, um ensinamento para nós e para nossa Igreja: tudo passa, prestígio, glória, cargos, poder. Tudo é pó e ao pó tudo retorna. Outro ensinamento: os pobres são os destinatários primeiros da boa nova do Ressuscitado, pois só Ele é quem saiu do túmulo com vida, e vida plena.

Pouco a pouco a morte vai mostrando aos olhos humanos o estrago que causa, mesmo nas pessoas mais especiais e queridas. O som lúgubre, oco, de saudade, destampa as lajes do chão da Sé. Outra surpresa, o Dom foi sepultado como os leigos o são, com a cabeça voltada para a porta, e não ao contrário, como os clérigos. O que o desgaste da morte não mostra é o que os olhos da fé iluminam, como uma luz vinda do alto a nos perguntar: por que procuram o vivo dentre os mortos?

A resposta veio-me algumas horas após. Saindo dali, deu-se à luz uma criança, nos meus braços, saudável, chorando forte a plenos pulmões, inspirando e expirando o sopro da vida, o pneuma que a tudo anima.

Certamente mais um sinal do Dom, ensinando que a vida é eterna.”
Que o espírito de Dom Helder possa sobreviver na prática da vida de cada um(a) de nós.

Fortaleza, 06-02-2013,

Geraldo Frencken

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

104 ANOS DO NASCIMENTO DE DOM HELDER CAMARA


                                                                  Pe. João Pubben e Fernando Lindoso
 
 
 
 
IGREJA DAS FRONTEIRAS – RECIFE

7 de fevereiro de 2013

 

104 ANOS DO NASCIMENTO DE DOM HELDER CAMARA

 

Queridas Irmãs, Caros Irmãos,

Paz & Alegria!

 

É bom que Jesus de Nazaré, Maria de Nazaré, Francisco de Assis, Vicente de Paulo e Helder Pessoa Camara têm muitas admiradoras e muitos admiradores.

Mas, do que eles necessitam mais é de seguidoras e seguidores, discípulas e discípulos.

Nosso Dom é Profeta de um Mundo melhor, um Mundo mais justo, mais humano, mais “respirável” – como ele gostava de dizer. Pessoas com problemas pulmonares entendem muito bem o que isso significa.

Nosso Dom é Profeta de uma Igreja nova, uma Igreja servidora e pobre, preocupada muito mais com a vida do Povo do que com suas próprias estruturas, com poder, posses e fama. Jesus não veio para que todos tenham vida?

Nosso irmão e amigo Marcelo Barros ouviu, poucos dias antes da partida do Dom, do coração e da boca dele: “Não deixe a Profecia cair”.

Penso que ele é um bom presidente desta Eucaristia que todos juntos vamos viver!

 
por João Pubben

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Escravidão na arte e política americanas

Escravidão na arte e política americanas


Arte e política, duas visões sobre a realidade americana


Interessante: dois filmes sobre o tema da escravidão concorrerem ao Oscar nos Estados Unidos, justamente no periodo da reeleição de Barak Obama.

Django Livre de Tarantino e Lincoln de Spielberg. Manderlay de Lar von Trier também foca nesse assunto e se compararmos com Nascimento de uma Nação (1915) de D.W. Griffith, veremos quanto a democracia é sofrida, mas que vale a pena, vale. Qualquer sacrifício por ela. Em menos de 100 anos a escolha e confirmação para mais um mandato de um presidente negro, é algo admirável.

    




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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Brasil: Perspectivas da Saúde para 2013:


 
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Perspectivas da Saúde para 2013:

 

Um ano de transição. No bojo da crise internacional e com o mercado interno dando sinais de exaustão, é previsível uma diminuição acentuada da arrecadação tributária; junte-se a isso a transição do poder político na esfera federal após as eleições municipais, gerando mais medidas conjunturais de efeito midiático que a abordagem de problemas estruturais crônicos de um apodrecido sistema de saúde pública, com seus remendos ineficientes e repetitivos.

O ano de 2013 não se mostra promissor; na saúde pública nem na saúde suplementar. Nesta, um modelo que já passou do ponto crítico onde é irreversível a instalação do caos, onde os médicos e médicas não suportam mais nem a carga de impostos, nem o custo do consultório, nem a insignificância do que recebe dos “planos de  saúde”, naquela, o SUS, será muito pior que2012, pois um governo que “brinca” de financiar saúde sem apor os devidos recursos, não deixa esperança para ninguém.

Um lado ‘positivo’ é o que nos aponta para a visão de que o aprofundamento da crise tem que gerar uma solução. Do caos é de onde se gera o cosmo.

Assuero Gomes

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sistema de saúde brasileiro


Sistema de saúde brasileiro


Sistema de saúde brasileiro

Sistema de saúde brasileiro                                                imagem do google

 

Que o universo flui, é um fato aceito sem controvérsias e do conhecimento desde a antiguidade. Flui em todo seu sistema, desde a microesfera até o infinito cósmico, na vida de uma abelha, nas ondas do mar, na incerteza subatômica da matéria. Tudo flui e nada é estagnado.

Sabemos também que todos os sistemas são erguidos através da organização (cosmo) de infinitas desordens (caos). Nenhum sistema é totalmente estável, nem mesmo o diamante em sua eternidade. Sabemos também que os sistemas estão vivos através do alinhamento de forças que o apoiam (biofílicas) e do conflito de forças opostas (necrofílicas) e se mantêm quando essas forças alinhadas superam as opositoras. Assim é o universo, assim é a vida: um paradoxal equilíbrio precário.

Há um ponto em toda essa dinâmica que é tido como ponto crucial onde não há retorno. Seria um ponto em que a situação de equilíbrio estaria irremediavelmente perdida, seria o ponto do caos. O sistema, passando daquele ponto, irremediavelmente não teria capacidade de se recompor, retornaria ao caos de onde saiu. Isso é verdade para o planeta, para as galáxias, para a saúde das pessoas, para os relacionamentos humanos, para as empresas.

Especificamente trazendo essas assertivas para o modelo de saúde adotado pelo Brasil, vemos que o Sistema Único de Saúde implantado no início da década de 80, nasceu com as melhores das intenções e como um projeto de vanguarda compatível com as aspirações do povo brasileiro, respaldado na constituição e com o vento benfazejo da democracia. Excelente.

Como qualquer criança tinha tudo para crescer e desenvolver suas capacidades e tronar-se um adulto completo, realizado e feliz. Tinha, mas não teve. Como a maioria dos projetos do país, são projetos. O SUS não recebeu a devida atenção e não recebe até hoje, atenção em forma de financiamento, de cuidado, de empenho e de educação. Cansado de dizer e saber, que o Brasil não investe quase nada em saúde, e fica nos últimos lugares das nações com um pouco mais de poder econômico. Estamos falando de um país que é a sexta economia mundial.

Na deficiência do SUS surge e cresce a rede suplementar de assistência à saúde, medicina privada, e no seu bojo os ‘planos’ de saúde. O sistema foi pensado também nos moldes da década de 80 onde os médicos eram profissionais autônomos com seus consultórios particulares, a medicina era bem menos sofisticada e cara, e o universo de brasileiros que tinha acesso a essa medicina era bem menor.

Há alguns anos o sistema (SUS e medicina suplementar) vinha dando sinais de falência, de exaustão, de que se aproximava do ponto do caos. Não foi falta de aviso dado pelos médicos  que sofrem na pele as consequências e pela população que sofre na carne e nos ossos.

Consultórios fechados, ‘Planos’ de saúde fechando e deixando a população sem assistência e os donos ricos, noticiário sensacionalista quase diariamente sobre atendimento da população na rede pública, e sempre o médico que está lá dando a sua vida na linha de frente, carregando a cruz nas costas de um sistema falido, levando toda a culpa, e o povo sangrando.

Talvez a crise se aprofunde ainda mais um pouco apesar da maquilagem midiática que se usa, e do caos total surja algum modelo novo que reestruture o sistema.

Brasileiro, profissão esperança, como diz o texto.

Assuero Gomes

assuerogomes@terra.com.br  Médico e escritor.