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sábado, 29 de junho de 2013

O jogo dos ricos


 
 
 
 
 
O jogo dos ricos

 

Na copa de 1970 eu era bem jovem, então com quatorze anos. Não entendia nada de política. Assisti e vibrei muito com as vitórias daquela seleção.

Passando o tempo cada vez mais ouvia dizer que futebol era uma espécie de manipulação sobre o povo para que este se tornasse menos participativo na política nacional, uma espécie de ópio.

O futebol era um esporte e um divertimento das massas. Um momento de ufanismo, como uma fumaça dissipante para os graves problemas pelos quais o povo passava. Era até para se torcer sem muita vibração, pois tudo aquilo era um circo das elites dominantes, financiado com o capital estrangeiro; como no tempo dos imperadores romanos, o estádio era o Coliseu.

Isso eu ouvia falar e fui crescendo ouvindo isso. Continuei sem entender muito de política.

O jogo mudou de lado. Quem estava na geral agora está no palanque oficial. O futebol continua sendo um dos grandes amores do povo brasileiro, só que ele agora assiste de fora dos gramados, de fora do Coliseu. O espetáculo ficou muito caro, inacessível.

Telões são armados na periferia. O povo precisa ser mantido a uma distância segura. Os estrangeiros agora ditam a lei dentro dos estádios e ao redor deles.

Não entendo como um simples ingresso para um campeonato de confederação possa custar algo em torno de trinta por cento do salário de um trabalhador, que construiu o estádio com o suor de seu rosto e que na Copa do Mundo venha a custar quase cinco vezes o seu salário.

Continuo sem entender de política, e devo confessar, também de futebol.

Estamos no segundo tempo daquela copa de 1970?

Pareço ainda escutar ‘somos 200 milhões em ação, todos juntos vamos’... ou será que eu estou ouvindo 90 milhões, ou isso é o valor do metro quadrado de cada coliseu ou arena, como seja, construída em regime de urgência? O tempo prega peças na nossa memória.

No tempo dos imperadores, Roma dava a cada cidadão o pão de cada dia (o que era possibilitado pelos pesados impostos da classe média e despojos de guerra) e propiciava espetáculos circenses, lutas de gladiadores, lutas de homens e feras e finalmente o martírio dos cristãos, para que o povo satisfeito se mantivesse calmo, ordeiro e feliz, se é que alienação pode-se chamar de felicidade.

Na minha ingenuidade ou ignorância política e futebolística, pensei que a Copa de 70 houvesse  acabado e que agora um novo jogo se iniciava, mas o jogo é o mesmo, a arena é a mesma, o público interno elitizou-se e ascendeu da geral para a social, o que mudou foi a cor do padrão e o povo assistindo bem longe, no telão da comunidade ‘pacificada’, bebendo sua cerveja e comendo seu pão.

 

Assuero Gomes


Médico e escritor

 

 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

35.000 médicos estrangeiros

Médicos continuam reclamando contra importação de estrangeiros


POSTADO ÀS 14:43 EM 27 DE Junho DE 2013

Assuero Gomes
Médico e escritor

O ministro da saúde diz que vai trazer 35.000 médicos estrangeiros.

Agora virou delírio.

Esses são os países e comunidades onde se fala o idioma português, além do Brasil, é claro:

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e outras comunidades, como por exemplo, as presentes em Goa, na Índia; e em Guiné Equatorial.

Pergunto eu, será que esses povos terão um excedente médico de tal porte? Poderia até desconsiderar Portugal, que já rejeitou a proposta indecente de enviar seus médicos para atuar onde às vezes nem água encanada tem, e confiná-los em determinados lugarejos esquecidos pelo Estado.

Ou será que vão trazer tudo de Cuba mesmo? Aí já seria uma invasão...

Uma assertiva dessas é um verdadeiro achincalhe à inteligência do povo brasileiro e um tripudiar às suas reais e legítimas necessidades.

Porque não falou-se na carreira de estado para o médico?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestações do povo brasileiro




Manifestações do povo brasileiro

Ainda sob a névoa da fumaça lacrimogênica, ainda um pouco surdo pelo barulho da multidão, é um tanto cedo para avaliar os motivos e o processo e o destino dessa grande manifestação da insatisfação do povo brasileiro.
Alguns mitos precisam ser derrubados logo para que não atrapalhem a visão panorâmica e a análise dos acontecimentos. Vamos lá, incorrendo no risco de errar:
 
1- Não foi uma manifestação pacífica.
Embora todos de bom senso desejem isso, mas houve violência, em proporções pequenas em relação à grandiosidade do evento.
 
2- Não foi desorganizada.
 
3 - Foi dirigida especificamente contra a corrupção dos dirigentes e da classe política
Embora o gatilho inicial tenha sido o aumento das passagens dos coletivos, por detrás está o gasto absurdo com a estrutura super, super, super, hiperfaturada da copa e seus eventos, o desvio de dinheiro público, as condições precárias de saúde, educação, segurança e transporte, a PEC 37, todos filhos bastardos da corrupção.
 
4 - Deve ter havido uma ligação com o boato da Caixa Econômica e o Bolsa Família.
Um ensaio?
 
5 - Grupos infiltrados e organizados no meio de manifestantes.
 
A impressão que se apresenta é que algum grupo interessado em tumultuar o processo político (iniciou em SP?) sucessório ensaiou algum movimento de aparência anárquica, e não dimensionou nem avaliou a insatisfação da imensa maioria dos brasileiros com a situação escandalosa do país. Perdeu o controle e deu nessa manifestação de uma nação que acorda.
O continuar da caminhada não sabemos, é como abrir a caixa de Pandora, cheia de surpresas... o Brasil não será como antes.
 
Assuero Gomes

terça-feira, 4 de junho de 2013


 
Cubanalização da medicina na república bolivariana do Brasil
 
A polêmica gerada com a declarada intenção do governo de trazer ao país 6.000 médicos cubanos para trabalhar em áreas carentes onde não há assistência de saúde, tem sentido. É uma medida polêmica, muito polêmica. Embora, agora, enquanto escrevo este artigo, midiaticamente o governo afirma que vai tentar trazer médicos portugueses e espanhóis, que não virão com certeza.
A ideia básica é importar médicos para grotões de miséria, sem infraestrutura nenhuma, muito menos de saúde no sentido de suprir esse direito básico constitucional para nossos cidadãos. “Não há saúde porque não há médicos dispostos a atender nesses locais. Os médicos formados não querem atender aos pobres, preferindo ganhar muito dinheiro nas capitais”. O que há por detrás dessa tentativa do governo?
Aos fatos não se contrapõem argumentos. O Brasil não tem deficiência de médicos. Somos 400.000 profissionais, atuando cada um em pelo menos dois serviços, geralmente um no setor público, ou num plantão e no setor privado, isso perfaz um total de aproximadamente 800.000 locais de atendimentos, estatisticamente para nossa população seria suficiente. O que há é uma má distribuição dos locais de trabalho. Uma grande maioria se concentra na grande São Paulo, Distrito Federal e Rio, além de Vitória do Espírito Santo. Há deficiência de médicos no Norte e locais do Nordeste principalmente.
Os médicos não querem atender os pobres nesses lugares? Outra inverdade midiática. Os médicos não vão para esses lugares porque não há a mínima condição de trabalho. Um médico com apenas um estetoscópio e um tensiômetro, por mais boa vontade que tenha, não faz milagre, sem um suporte de laboratório e de imagem por rudimentar que seja. Na primeira morte do paciente a sua vida e a dele estarão acabadas, será crucificado. Jovens recém-formados e até com dois anos de Residência se forem para esses lugares que nem água potável têm, pouco poderão fazer, muito menos uma medicina séria. O médico só, não faz saúde, pode até querer ou tentar.
A solução consiste em dotar estes lugares da presença do Estado (aqui a nível federal, estadual e municipal), que está omisso com sua população desde muitas décadas. Trazer estrutura de educação, segurança, e saúde. Equipar ambulatórios e centros de medicina de família, com núcleos de especialidades, com suporte técnico adequado, hospitais, maternidades.  Dotar o médico de uma carreira de estado como tem o juiz, o promotor, com sua progressão profissional, garantida a nível federal, para evitar que um prefeito qualquer em tempo de eleição chame um médico  para trabalhar, oferecendo um belo salário e sem suporte algum de infraestrutura, passada a eleição, o despeça de mãos vazias, como acontece sempre.
A solução passa por aí e por aí poderíamos receber médicos de quaisquer países que queiram vir dignamente, prestando concurso e avaliação de seu diploma como em qualquer nação civilizada.
Trazer médicos cubanos sem validação de diploma para esses locais sem as mínimas condições é algo tenebroso, injusto e até desumano. Esses profissionais ficariam confinados àquela localidade tendo cerceado seu direito de ir e vir, com sua profissão semivalidada, só para atender casos simples e básicos, sem poder realizar cirurgias, ganhando muito menos que os médicos brasileiros e fiscalizados pelo próprio governo cubano, que ganharia a maior parte de seus salários. Seriam médicos de segunda classe para cidadãos de segunda classe, confinados, configurando trabalho semiescravo.
Mais por trás ainda, há uma questão ideológica muito forte, nessa atitude de transgredir a lei da nação, permitindo que médicos de outro país atuem aqui sem a devida validação legal de seus diplomas...
 
Assuero Gomes
Médico e escritor
 

sábado, 1 de junho de 2013

Navegando os espaços vazios...


 
 
 
Navegando os espaços vazios...

 

Onde só os místicos chegavam os cientistas agora aportam. O universo teve um começo, um início, um tempo inicial. O início do primeiro dia, numa explosão de luz. Toda a massa concentrada num único ponto, que explode expandindo-se em luz. O universo se iniciou numa fonte de luz (energia).

Ainda em expansão, à medida que a luz se afastava desse ponto inicial se transforma em matéria, em corpos celestes, em massas de hidrogênio em combustão, em estrelas, planetas, cometas, galáxias infinitas.

O que acontece no cosmos acontece no íntimo da matéria. Das mesmas partículas de energia/matéria, na sua inconstância aleatória, na dança dos elementos subatômicos, na incerteza de Heisenberg e nos moldes de Higgs, como um Platão moderno, essas partículas se juntam como que predestinadas e dão origem aos elementos, e dão origem à vida.

Até aí tudo misteriosamente perfeito. Algo mais misterioso ainda vale nossa reflexão: os espaços vazios.

Ora, entre os prováveis lugares que as partículas atômicas e subatômicas ocupam entre si, há um espaço vazio muito maior que o próprio átomo. Multiplicado ao quase infinito dos átomos de um beija-flor ou de um pedaço de chumbo, há mais espaço vazio entre tudo que percebemos do que os corpos sólidos dos próprios seres ou materiais. Se pudéssemos enxergar microscopicamente até o mais íntimo do íntimo veríamos até a nós mesmos como uma espécie de móbile sem fio, com energia gravitando minúsculas partículas transmutadas ora em matéria, ora em luz.

O que é mais intrigante de tudo, a meu ver, é: o que leva os mesmos tipos de átomos a se agruparem, para formarem o beija-flor, a flor, o chumbo, o ser humano? É como se tijolos de  luz que se juntem e formem casas, praças, prédios, fontes, estradas, hospitais, clubes, igrejas, castelos e casebres. Todos, sem exceção, têm mais espaços vazios que concretos.

Alguma coisa serve de amálgama que une tudo em todos e em cada um, e alguma força como que molda com antecedência imediata, a substância que vai ser gerada naquele momento. As forças antagônicas que atraem e repelem já são observadas e estudadas há algum tempo, mas a força que preenche os espaços vazios...

Creio que a ciência está bem perto de se encontrar com o Espírito (pneuma) de Deus. Nós sabemos que Ele perpassa a tudo e a todos, que renova a Criação, que sopra quando e aonde quer, que destrói estruturas iníquas e soergue a humanidade sofrida no dia a dia dos humanos, que consola o pobre e liberta o oprimido.

Escrito em Pentecostes de 2013...

 

Assuero Gomes