A festa dos desesperados
Como quem estivesse em iminência de ser preso ou degolado,
ou desempregado, juntou-se o grupo para uma festa. Uma grande festa para
mostrar normalidade. Dessas festas de encher os olhos e ser comentada pelo
bairro, e encher os salões de manicure com conversas e mais conversas.
Prostitutas de luxo e outras até banais, luz vermelha como
nos melhores cabarés de Jorge Amado, palco vermelho, olhos vermelhos. Risos
frouxos, gargalhadas como anteparos do medo. Bandeirolas vermelhas.
Uma cantora, como uma travesti, destoava entre roucas
palavras, outras vezes amaciava em falsete. Tudo era falso, até o brilho da
noite tenebrosa.
Chamem os incautos, os bêbados, as catitas, os que acham que
essa luz é melhor que o amanhã. Comam, bebam, requebrem, cantem, pois é o
melhor que conseguiram e amanhã podem perder.
A orquestra de doze tocava suas músicas caribenhas e a
rouca, entre caras e bocas, se esforçava para agradar.
A festa dos desesperados espichava a noite para que não acabasse.
Cachaça para as mesas mais afastadas da diretoria, rum para a mais perto,
whisky se chegando e na mesa central puro malte importado.
Ao som desse bolero...
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