D. Helder e os
corrutos.
Assuero Gomes
Os profetas abominam a corrução e os corrutos.
Todos eles. O modelo clássico de profeta de Deus, saído do meio do povo, sem
vínculo algum com os círculos de poder é Amós.
Esse profeta era um pastor de Técua, uma região
limítrofe do deserto Judá, que foi enviado por Deus a profetizar a Israel, na
época do rei Jeroboão II, em torno de 750 a.C.
Era uma época áurea desse reinado (Reino do Norte)
com expansão econômica e fausto considerável (nada se igualando ao Egito e aos
povos da Mesopotâmia). O luxo dos governantes se opunha drasticamente à miséria
do povo. Passagens da sua profecia fariam corar de ódio as elites de Brasília e
ele certamente seria morto em alguma esquina encomendada.
Ouçam: ... não retirarei o castigo, porque vendem o justo por
dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos, suspirando pelo pó da terra, sobre a
cabeça dos pobres, pervertem o caminho dos mansos; e um homem e seu pai entram
à mesma moça, para profanarem o meu santo nome.... ou ainda se referindo às
damas da corte: Ouvi esta palavra vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria,
que oprimis aos pobres, que esmagais os necessitados, que dizeis a vossos
senhores: Dai cá, e bebamos.
Muitos
desses reis e mandatários do palácio tentaram cooptar os profetas para que
deturpassem a palavra de Deus e justificassem o estado de miséria dos pobres e
seus impostos exorbitantes para a manutenção do luxo de uma corte opulenta e
decadente, infestada por falcatruas, roubos, discórdias, acordos clandestinos,
propinas e sonegações.
A
memória de um profeta é algo muito precioso para o povo da nação onde ele
profetizava, pois suas palavras, gestos, ações são referências perpétuas que
iluminam o caminho de sua gente em tempos obscuros e tenebrosos. A memória de
um profeta é sagrada. Usar de sua memória para tentar angariar simpatia ou
esconder ações indignas ou incompatíveis com o que é certo e correto e digno, é
uma profanação.
As
pessoas que conviveram com D. Helder estão, aos poucos, indo fazer companhia a
ele, no movimento inexorável do tempo. Posso afirmar com toda segurança que o
Dom nunca teve partido político, nunca pregou luta de classes e sempre foi
firme no diálogo e contava com sua força moral para jamais permitir que se
usasse seu nome para fins partidários ou para justificar algum tipo de conduta
moralmente controversa. A sua luta sempre foi em favor da justiça e em favor
dos pobres, da harmonia fraterna e contra toda forma de ditadura tanto de
direita ou de esquerda (naquele tempo ainda havia direita e esquerda). Sua vida
foi frugal e monástica, posso assim comparar, sendo seu mosteiro o próprio
mundo, e jamais se permitiu a guardar nada para si, nem mesmo cem réis.
O
profeta Amós depois de profetizar a deportação de Judá foi perseguido pelo rei
e sua corte com seus sacerdotes. Retornou a Judá, provavelmente ao seu rebanho
e não se tem notícia de sua morte. Sua memória e profecia são preservadas com o
zelo extremo como o são as coisas de Deus pelo povo judeu e pelos cristãos, e é
um referencial inesgotável da ojeriza que o Senhor sente contra a exploração
dos pobres e a corrução.
D.
Helder será sempre o Eterno Dom de Olinda e Recife, sua memória deve ser
preservada e protegida para que, como toda profecia e vida de um profeta, seja
luz e ilumine os caminhos do seu povo nesses tempos obscuros nos quais vivemos.
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