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quinta-feira, 1 de março de 2012

Jesus e Maria de Magdala

                                                                   



Jesus e Maria de Magdala

Muito se falou e se escreveu sobre a questão de um suposto casamento entre Jesus e Maria de Magdala, o qual teria sido escondido durante séculos pela Igreja, e que teria gerado descendência carnal do Galileu.

Há um problema de ordem teológica. Deus pertence à esfera divina, Ele é criador e, portanto, não pertence à criação. A criação e tudo o que ela contém não pertence à esfera divina. A esfera divina é por si mesma isenta de pecado, mal, degradação, decadência, corrupção, o mesmo não acontece com a criação, que misteriosamente foi tocada pelo pecado.

Javé é o Outro absoluto, que basta a si mesmo, porém sendo um Deus-comunidade que existe e coexiste em três pessoas distintas, uníssonas, não se contendo em si por amor, cria o mundo. Mas Ele não pertence ao mundo.

Não se contendo, por amor, novamente, Ele resolve penetrar e fazer parte da criação, em determinado momento da história humana. Como a criação foi contaminada pelo mal, Ele que é bom e donde emana toda bondade e santidade, sem violentar a própria Criação, necessita de uma mulher para se encarnar na história humana. Daí a questão da imaculada conceição de Maria, que obrigatoriamente teria que ser preservada de todo pecado e escolhida na mente e no coração de Deus antes de todos os tempos. Até aí sem novidades. Ora, não teria sentido Jesus sendo Deus e Deus sendo Jesus, Ele coabitar com outro ser humano e procriar, deixando uma descendência carnal, no mesmo nível dos deuses da Grécia e outras religiões orientais, onde a cópula destes deuses com humanas geraram semi-deuses. Devemos lembrar sempre que a cultura e a religião de Jesus é a judaica. Não há a menor possibilidade de promiscuidade, entre Deus e humanos. Deve se ter sempre em mente a delicadeza e a sutileza do texto de Lucas quando da fecundação de Maria onde se diz “O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra”. Nada de cópula divina, nem magia, nem rituais nem cerimônias secretas.

Não sei com que plenitude Jesus tinha a consciência de sua divindade. Se o plano divino era participar de maneira real e concreta da humanidade, para o resgate da idéia inicial com a qual foi concebida pelo Pai, não teria o menor sentido Jesus deixar uma descendência carnal aqui na terra e mesmo que, Ele deixou uma descendência espiritual na qual somos todos chamados a ser seus irmãos e irmãs, através de fazermos a vontade do Pai e incorporar seu corpo e seu sangue ao nosso.

É difícil imaginar Deus-Filho tendo uma relação sexual com Maria Madalena, mesmo que fosse com a nobre intenção de gerar uma nova vida.

Acaso Ele realmente fosse casado com Maria de Magdala, ao morrer na cruz, não teria confiado a sua (nossa) mãe aos cuidados de João, já que a nora estaria apta a ficar na casa cuidando dela. Creio, no entanto, que ela era apaixonada por Ele, mas uma paixão que deve ser analisada e vista com os olhos da cultura semita de dois mil anos atrás. Uma paixão que é traduzida em profunda admiração, gratidão, e sublimada em seguimento aos ideais da pessoa amada. Imaginem que hoje, a cultura do Islã em alguns países, é rígida a tal ponto que uma mulher não mostra a face em público, nem pode conversar com homem algum a não ser do círculo familiar, muito menos tocá-lo. Imaginem há dois mil anos.

Creio que paixões podem ser sublimadas com crescimento de ambos, vejam Clara e Francisco, Luísa e Vicente, Tereza e João da Cruz, e tantos e tantas... Por fim, mesmo com a estrutura masculina da Igreja, esta só foi se formar nos moldes que é hoje, a partir de Constantino no século IV, creio que, sendo Maria  Madalena casada com Jesus, ela a teria acolhido como acolheu a Maria nos seus primórdios, pois devemos lembrar, que mesmo fracos e covardes e de pouca fé, os discípulos não eram homens vis nem mentirosos nem perseguidores de mulheres, pois se assim o fossem de nada valeria seu testemunho.

Assuero Gomes.


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