Encantadoras
de serpentes
Quem pode escapar aos encantos de Circe, ou dos
cuidados de Hygiea ou de Panaceia? Quem sabe encantar a serpente do caduceu com
tamanha graça e garra?
Vejo mulheres guerreiras de branco, que geram
vida, renda e cuidado para os seus, que defendem e sustentam seus lares,
independentes de companheiros se os houver. Que se entregam à vida com unhas
bem cuidadas, com suave força, de suas mãos poderosas, muitas vezes com luvas
de látex, desafiando o destino de ser mulher no terceiro mundo.
Coração às vezes machucados às vezes em festa,
músculos cansados de trabalho ou de exercícios roubados de um tempo escasso,
corpo seu, guardado ou generoso, que protege as crias e enfrenta o mundo, que
se entrega e se recolhe.
Nada é alheio ao olhar dessas Dianas de Asclépio.
Nada lhe foge ao mínimo detalhe, que lhe entrega uma intrusa ao menor
movimento, mas que lhe cega ao primeiro encanto.
Filhas de Rita Lobato e Amélia Cavalcanti vão
desafiando o tempo, as condições de trabalho, os companheiros, os filhos, a
sociedade, os governos, as estruturas, as desigualdades, as injustiças,
desbravando campos minados e desfraldando bandeiras ao vento que vem do amanhã.
Vão vencendo o frio, o calor, o sono, as sogras, e escrevendo uma nova
história, como diz um poema de um fado português, como a gaivota que enfrenta e
vence a tempestade em mar alto.
Quem transmigrou o caduceu de Mercúrio para o
bastão de Esculápio certamente foi uma dessas deusas encantadoras de serpente.
A serpente é símbolo de astúcia e de vitória sobre a morte, pois quando
eminente seu final o réptil se desvencilha de sua pele (casca) deixando-a para
trás e confundindo seu algoz consegue escapar, mas quem venceu a serpente?
Uma homenagem às médicas pernambucanas, que
exercem seu ofício com dedicação e abnegação, enfrentando todo tipo de
dificuldade, que são protagonistas dos próprios lares e responsáveis em grande
parte ou porcentagem pelo custeio da vida da família.
São maioria e grande responsável pela força de
trabalho médico e ainda assim há discriminação recebendo, em alguns lugares,
rendimentos menores que os percebido pelos médicos. Independentes, essas guerreiras de branco não
se deixam cooptar por favores de governos nem de quem quer que seja, pois com
suas mãos limpas, lavam as feridas do descaso da nação, enxugam as lágrimas de
muitas mães pacientes e de muitas crianças doentes, minoram a dor e o
sofrimento de um país enfermo de cidadania.
Entre plantões, ambulatórios, clínicas e
consultórios vão deixando suas marcas de vida vitoriosa, e seus exemplos são e
serão sempre um motivo de orgulho para a Medicina de Pernambuco e para todo
estado.
Quem encanta a serpente do Bastão de Esculápio
senão uma bela Circe de Calcutá, refletida nos espelhos de Tejucupaco.
Assuero Gomes
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