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sábado, 13 de fevereiro de 2016

O Silêncio dos Inocentes



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                   O Silêncio dos Inocentes

Assuero Gomes


Quando as crianças gritam de dor nas esperas intermináveis das filas dos hospitais e ambulatórios do serviço público de saúde, ou quando as gestantes buscam maternidades que não há, como num filme de horror, as palavras do pastor negro, Dr. King, cobrando a omissão dos justos frente à injustiça, caem pesadas sobre a nação; ou ainda quando se pergunta por quem os sinos dobram, e ninguém responde como se nada estivesse acontecendo, há um grito mudo no ar.
Entidades e pessoas, pessoas e entidades, de passado combativo, cuja voz ecoava e fazia vibrar os corações e os pulsos de um país, hoje quedam silenciosas frente a um desmonte sem antecedentes, e parecem ouvir uma suave melodia como Maria Antonieta às vésperas da Revolução ou mesmo a corte brasileira nas noites que antecederam ao golpe militar republicano.
Percebo em mim e em outras pessoas a angústia que Clarice Starling sentia quando, mesmo depois de adulta, ouvia o som das ovelhas sendo mortas na fazenda de sua infância, e eram para ela como o grito de crianças sofrendo.
O Brasil está literalmente sacrificando suas crianças, gestantes e idosos, numa nem tão sutil desfaçatez, aniquilando a chance de um futuro melhor para as gerações que estão iniciando suas vidas, jogando pelo ralo da história a esperança de ser uma pátria mãe.
O silêncio das entidades incomoda tanto quanto o grito dos inocentes. A estrutura vil de poder que se instalou faz Dr. Lecter parecer um beato. Os tentáculos e as mandíbulas do Mal já avançam nas entranhas da nação e a decompõem em pedaços indigestos, e os que silenciam, como se consentissem, serão julgados, quiçá severamente pelo futuro.
Houve um tempo, não tão distante, que instituições se rebelaram contra coturnos e fuzis e mantiveram acesas as chamas da cidadania que só a liberdade alimenta. Hoje o descalabro de propinas, negociatas, processos escusos, desmontam a nação e o silêncio dos justos incomoda mais que o cinismo dos ímpios.
Dr. Hannibal Lecter comandava as mentes criminosas de dentro das grades, numa prisão de segurança máxima. Vale a pena lembrar a frase que ele continua dizendo para a futura geração de brasileiros, ‘nossas cicatrizes servem para nos lembrar de que o passado foi real’.
O início das investigações mostra a procura de um perfil psicológico de um assassino em série de mulheres que deixa sempre a pista de uma mariposa tropical no corpo de suas vítimas (as mulheres não eram gestantes nem as mariposas estavam contaminadas com nenhum vírus). Clarice busca, a partir do mentor do criminoso, desvendar o submundo tenebroso das mentes doentias. Clarice é da Polícia Federal Americana (FBI) e consegue solucionar este caso apesar das várias tentativas de intromissão na sua investigação.
O processo de corrupção que se instalou no país é tão predador que se tornou autofágico, como um canibal que se vê sozinho numa ilha e come seu próprio corpo.
Ao final o Dr. Lecter pergunta “ainda ouve as ovelhas à noite, Clarice?”. Aqui ainda gritam e gemem, toda noite.
Dedico esse texto em homenagem a CNBB e a OAB.







Um comentário:

  1. Prezado Dr. Assuero,

    Boa tarde.

    Procurando na Internet por referências ao Recife da minha juventude, encontrei em seu belíssimo blog uma postagem que me encheu de emoção e de saudades, sobre os 94 anos do Padre Arnaldo Cabral de Sousa, comemorados em 12 de novembro de 2012.

    Padre Arnaldo era o nosso pároco, pois morávamos na Rua Angustura, nº 118, numa majestosa casa que já não existe mais. Dono de uma oratória magnífica, algo que jamais vi em outra pessoa até hoje, Padre Arnaldo lotava a matriz do Espinheiro com suas práticas, presenciadas com imenso carinho e atenção por fiéis de todos os cantos do Recife nos anos 60.

    Gostaria de saber se o Padre Arnaldo ainda está vivo. E se estiver, gostaria de obter o seu endereço para escrever-lhe algumas linhas.

    Moro no Rio de Janeiro desde 1966. Mas a minha família permanece em Recife, cidade que nunca deixou o meu coração.

    Meu pai, Mário Ribeiro de Gusmão, já falecido, era muito amigo do Padre Arnaldo, que foi escolhido por nós para celebrar a sua Missa de Sétimo Dia, na Matriz do Espinheiro.

    Agradeço-lhe antecipadamente pela atenção que puder me dispensar.

    Meus dados para contato são:

    Philippe Gusmão
    philippe@unisys.com.br
    (21) 99484-2266

    Forte abraço.

    Philippe

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