Dia Mundial da Saúde
Muito a desejar e pouco a comemorar. O planeta está doente.
Os povos da periferia estão doentes e famintos, sem teto e sem chão. Grandes
levas de emigrantes varrem o planeta em busca de melhores condições de
sobrevivência. O Brasil retrocede em décadas sua saúde pública e traz para
dentro de si epidemias jamais esperadas.
Saúde é saneamento, é moradia, é alimentação, é vacina, é
orientação médica, é lazer, é esperança, é segurança, é ar puro, água
cristalina, é VIDA. Enquanto países do terceiro e quarto mundo sangram suas
dores à míngua, assistimos o avanço da medicina a patamares nunca imaginados em
poucos lugares privilegiados.
Aqui faltam vacinas, esparadrapos, penicilina, vergonha e
honestidade. Sobra corrupção, ganância, desperdício. Desejar um belo e
maravilhoso dia mundial da saúde é como admirar uma olimpíada numa manhã de sol
envolta num cenário artificial.
A Terra grávida de esperança geme as dores de um amanhã
melhor, mas falta-lhe um lugar para parir com segurança, essa aurora. Quem era
para proteger, explorou. Quem era para ajudar subjugou, quem era para promover
a justiça, corrompeu. Bandeiras fincadas no ventre dessa Terra tremulam, sem
ter quem as empunhem.
Mas a esperança, a virtude última dos condenados, faz
irracionalmente nascer brotos na aridez de um horizonte incerto. Os dois
grandes avanços da humanidade, que realmente mudaram o curso de sua caminhada
foram: a descoberta da água potável e as vacinas; depois delas a vida na Terra
nunca mais foi a mesma.
Dia Mundial da Saúde, um copo de água limpa, um pedaço de
pão. Uma roupa. Um abrigo. Um abraço. Quanta diferença faz esses presentes, tão
ausentes. Brindaria com a água e me banquetearia com o pão. Pão dividido com o
irmão vestido de humano. Num grande abraço apertado. Assim, assim, seria
celebrado o dia.
Assuero Gomes
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