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Uma Nação corrompida
Uma pessoa, no tempo de Jesus, era considerada legalmente
morta, após o quarto dia. Daí a visita do mestre à casa do amigo Lázaro, no
quarto dia de seu falecimento, ter sido achada muito tardia por parte dos
familiares.
Era considerada oficialmente morta uma pessoa após o quarto
dia, porque seu rosto estava já em processo de decomposição e se tornava
irreconhecível. Sua identidade estava irremediavelmente perdida, era um cadáver
(carne dada aos vermes). Daí o pavor à corrupção dos mortos, como algo
inexplicável e não compatível com o projeto de Deus, de vida plena. Corrupção
dos corpos é a síntese entranhada da morte. Daí também os antigos povos
tentarem mumificar os corpos, para preservar a identidade do morto e, portanto,
seu significado no nosso mundo. Daí a Igreja, num costume bem antigo, pensar em
sinal de santidade àqueles corpos preservados após anos e anos de sua morte.
Uma pessoa representa sua nação. Uma nação representa seu
cidadão. As instituições representam seus instituídos e vice e versa.
A corrupção entranhada visceralmente na nossa nação, em cada
indivíduo e nas instituições é a causa primeira de nossa morte como um povo
soberano. Muitos de nós brasileiros estamos vivendo em tumbas e entre túmulos,
como o próprio Lázaro.
Quando uma criança se alimenta de lixo e bebe água
apodrecida, quando não vai à escola regularmente nem brinca pacificamente como
outra qualquer, quando os jovens são absorvidos pela droga e o crime, quando
quem deveria zelar pela integridade dos filhos da pátria está corrompido até
seu âmago, quando se dilapida o suor e o sangue do trabalhador em propinas e
desvios obscuros, se cava mais profunda ainda a própria sepultura da nação.
O Brasil está decompondo sua própria face perante o restante
do mundo, a nossa face, a face de cada um, que juntas formam a identidade
nacional. Toneladas de maquiagem midiática se consomem para mascarar o defunto,
mas seu odor já se espalha. Não adianta copas, nem olimpíadas, nem shows de
samba e mulheres nuas, nem arroubos de performances políticas, pois a nação
está corrompida. Crianças são ensinadas pelos pais (quando os têm) a ter
vantagem sobre os colegas, meios de comunicação ensinam modelos estranhos de
comportamento, alunos agridem professores, adultos subornam, idosos são
maltratados, a saúde pública é aviltada pelo descaso do governo, e tudo se
transforma num grande e triste e grotesco baile funk verde e amarelo.
Talvez não estejamos no quarto dia, talvez o mestre venha a
nos visitar e nos converta (metanoia), e nos anime a retirar a pedra do
sepulcro e desenfaixar o nosso povo para que se levante e ande com suas
próprias pernas, para bem longe da morte.
Assuero Gomes
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