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Dom
Helder, o centenário e os trabalhadores de última hora
Dom Helder, die Hundertjahrfeier und Arbeiter last minute
Com a aproximação do
centenário de nascimento de Dom Helder Camara em fevereiro próximo e o afã de
seus admiradores e outros ligados à estrutura da Igreja em prestar-lhe uma
justa homenagem, me vêm à mente duas coisas: a primeira é a parábola dos
trabalhadores de última hora e a segunda é um pensamento de Padre Arnaldo
Cabral.
Na parábola
identificamos o pai de família que vai buscar trabalhadores para sua vinha na
praça da cidade. Contrata-os por uma diária estipulada para a época (1 denário)
e à medida que o dia vai passando ele retorna à praça e vai chamando os
desempregados e a todos dá o mesmo pagamento, mesmo com diferenças
gritantes de horários de trabalho.
Em analogia vejo o
IDHeC (Instituto Dom Helder Camara) como os trabalhadores de primeira hora,
aqueles que sempre estiveram ao lado do nosso arcebispo nos momentos mais
tenebrosos quando era perigoso e maldito estar junto de um profeta “chamado”
vermelho.
A CNBB seria os
trabalhadores de segunda hora: entidade idealizada e fundada pelo próprio Dom,
para dar mais autonomia e liberdade aos nossos bispos e principalmente uma
maior resolutividade aos problemas gritantes do Povo de Deus.
A Arquidiocese de
Olinda e Recife seria os trabalhadores da undécima hora (última hora).
A parábola segue
contando que muitos são chamados...
Dom Helder no seu
espírito imenso e imerso na generosidade e misericórdia de Deus, certamente
ficará feliz e agradecido por toda e qualquer manifestação em memória de seu trabalho,
no espaço de tempo que o Senhor lhe permitiu. Ficará um pouco constrangido com
as loas à sua pessoa, mas as perdoará, pois terão sido manifestações, as
sinceras, do carinho de intelectuais, dirigentes, assessores, funcionários. Não
julgará intenções, pois seu coração infantil não conjuga este verbo.
Apreciará, sem dúvida,
celebrações da santa missa, celebrações ecumênicas, manifestações culturais,
livros, artigos, memoriais, procissões, simpósios, semanas, jornadas, cultos,
seminários, etc.
Nada dirá, no entanto,
pois seu espírito nunca foi esse, sobre o esquecimento dos trabalhadores de
todas as horas, acerca dos Pobres. Sua fome e sua miséria. Seu
subdesenvolvimento, seu perambular nas ruas e calçadas, desnudos e sedentos.
Suas prisões sem visita. Ficará triste e pedirá ao Pai, “perdoe-lhes, eles não
sabem o que fazem”.
A segunda coisa que me
veio à mente, foi o pensamento de Padre Arnaldo Cabral, que certa vez o
expressou na frente do Dom com os padres de nossa arquidiocese naquele tempo “o
problema, Dom Helder, é que todos nós o admiramos, mas nenhum de nós o imita”.
E a parábola em dado momento diz: ... encontrou ainda outros que estavam
desocupados, aos quais disse: Por que permaneceis aí o dia inteiro sem
trabalhar? – É, disseram eles, que ninguém nos contratou. Ele então lhes disse:
Ide vós também para a minha vinha.
Talvez nossa Igreja
demore mais cem anos para dimensionar, com justiça, o homem e sua obra, a obra
que Deus realizou no seu povo através dele. Certamente Olinda e Recife, como
cidades impenitentes que são, não mereceram Dom Helder. Continuam sem merecer,
pois excluindo os Pobres e negando-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus,
se dizem cristãs. O Dom se alegrará mais com cada copo d´água oferecido a um
destes pequeninos...
Em 15 de abril de 2008
Assuero Gomes
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