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Gula e temperança, dos pecados do Capital.
Esse “pecado” aos olhos medievais está ligado ao ato de
comer e desejar comer muito, mais e cada vez mais. Foi relacionado também ao
desejo de possuir em detrimento da falta que o próximo sente.
Hoje sabemos, nem tanto quanto deveríamos, que o desejo
insaciável de comer e sua consequência trágica que é a obesidade, está muito
mais relacionado a distúrbios metabólicos e afetivos do que à maldade e à falha
de caráter ou de religiosidade. Podemos, no entanto, analisar esse problema do
ponto de vista do capitalismo. Enquanto uma pequena parte do mundo consome
desenfreadamente os alimentos, e de maneira errada, a grande parcela da
população mundial passa fome, literalmente, não ingerindo nem o mínimo para se
manter viva durante poucas semanas, além da escassez da água potável. Fome e
sede para mais de um bilhão de seres humanos enquanto alguns milhões estão
obesos incentivados pela indústria e pelo marketing.
A quantidade de alimento produzido e o que se deixa estragar
por falta de conservação, transporte e distribuição, dá para alimentar com
fartura todos os seres humanos. O que falta é a partilha. Ampliamos a noção de
“pecado” individual para coletivo.
No âmbito individual, a gula moderna está refinada e
disfarçada, muito bem por sinal. Não mais comer em quantidades exageradas, mas
comer o “especial”, o inacessível para a maioria dos mortais, numa verdadeira
idolatria à boa mesa.
Não é por acaso que se divulga e investe tanto em
gastronomia, como jamais aconteceu. Verdadeira fortuna se gasta por um jantar a
dois, custo esse que daria para alimentar com tranquilidade mais cem pessoas.
Quando pagamos, por exemplo, por uma especiaria como o
açafrão algo em torno de R$ 150.000,00 o quilo, ou R$ 2.000,00 por um quilo de
trufa branca, ou ainda R$ 2.500,00 por um quilo do café da Ilha de Sumatra,
chamado de Kopi
Luwak ou milhares de dólares por um vinho, e
assim por diante, creio eu ser esse o atual pecado da gula produzido pela
idolatria ao capital.
A temperança é a virtude contraposta à gula. Além de ser uma
conduta saudável, que gera harmonia, associada à caridade, no sentido
verdadeiro dessa palavra, de promover o desenvolvimento social e não apenas dar
esmolas, equilibra o nosso ser, nosso corpo e o ambiente no qual vivemos nesse
curto espaço de tempo que nos é dado por Deus, antes da vida definitiva.
Assuero Gomes
Médico e escritor
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