Visitantes

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES por Geraldo Frencken


PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES

 



 

            No próximo dia 10 de maio completam-se 27 anos da morte por assassinato do PADRE JOSIMO MORAIS TAVARES. Desejo refletir um instante sobre mais este sangue derramado sobre o solo brasileiro.

            Josimo, nascido em Marabá (PA), recebeu a ordenação para o serviço no meio do povo em 1979. Logo em seguida foi nomeado para trabalhar numa área cheia de conflitos de terra, região situada, hoje em dia, no norte do estado do Tocantins, chamada de ‘Bico do Papagaio’. Ele se tornou um dos coordenadores da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), com sede na cidade de Imperatriz (MA). Em abril de 1985 recebeu ameaças de morte, que se concretizaram logo em seguida, no dia 10 de maio daquele mesmo ano, quando Padre Josimo covardemente foi assassinado, pelas costas, ao entrar na sede da CPT. O pistoleiro e mais quatro envolvidos foram presos e condenados a 18 anos de prisão. Os mandantes, porém, sendo eles dois fazendeiros e um juiz, nunca foram chamados, nem para prestar algum depoimento.

            Estes fatos ocorreram há 27 anos. Talvez alguém pergunte, porque relembrar um acontecimento de tanto tempo atrás e tão distante da nossa vida.

            Precisamos ficar bem informados sobre o que acontece em nosso país. A morte de Padre Josimo não é um fato isolado e distante de nós, ou então um assunto que não interessaria. O relatório da Comissão da Pastoral da Terra de 2011 (ainda não disponho dos dados sobre o ano de 2012), a respeito da situação em que se encontra o homem no campo, nos dá uma idéia da realidade vivida por tanta gente. Apresento apenas os dados mais alarmantes e preocupantes:

Ø  em 2011 foram assassinados 29 camponeses, isto é, gente pobre e simples do campo; destes 29, só no Pará foram ceifadas doze vidas;

Ø  foram registradas 347 ameaças de morte de trabalhadores rurais;

Ø  89 trabalhadores do campo foram presos em 2011;

Ø  215 foram agredidos;

Ø  em total foram envolvidas 603.355 pessoas em conflitos de terra, sendo quase a metade nos estados do Nordeste.

A situação no campo é de total insegurança, de guerra, de morte. A cada ano o número de assassinatos aumenta, a quantidade de conflitos cresce. Mortes sempre do lado dos posseiros e pobres agricultores. Do lado dos fazendeiros e poderosos, dificilmente alguém é preso. O famoso massacre, em 1996, de Eldorado dos Carajás, no Pará, no qual foram assassinados 19 posseiros, ainda não resultou na prisão de todos os envolvidos por parte da Polícia Militar do Pará. O processo em razão da morte da irmã Dorothy Stang, morta em 2005, ainda não resultou em justiça de verdade. Não aquela justiça triunfante de prender algum assassino ou, muito raramente, um mandante de assassinatos.  A verdadeira justiça acontece, como nos diz Dom Helder, “quando acabam as grandes injustiças de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra para morar” (em sua súplica “Mariama”, da Missa dos Quilombos). Justiça se concretiza quando, no campo, os pequenos agricultores com suas famílias possam possuir um pedaço de chão suficiente para o sustento de sua família, a fim de construir vida digna, isto é, com condições para lavrar a terra e escoar sua produção, com estradas trafegáveis, com educação escolar para os filhos, assistência na saúde para todos, ou seja, quando os governos municipais, estaduais e federal, coloquem em prática, de fato, políticas públicas que visem o bem desta parcela do povo brasileiro no meio da mata amazônica ou no sertão nordestino. Aqui, no Nordeste, essa situação do homem no campo ainda é agravada quando o povo, mais uma vez, passa por um período de seca que aflige milhares e milhares de famílias. Nós nos perguntamos: porque nunca tem dinheiro para fornecer água à população no sertão, ao menos água para beber? Como um governante pode dormir em paz, gastando bilhões e bilhões de reais em estádios, ou para aquele ridículo aquário em Fortaleza (350 milhões de reais!), e em outras obras supérfluas, enquanto o povo não tem nem sequer água para beber, dividindo com os animais o restinho sujo, contido num poço ou em algum açude!? Até quando deixamo-nos enganar por aquela velha e contínua política de “panis et circenses”? Também é preocupante constatarmos que, diante de problemas tão graves, as igrejas cristãs, todas elas, ficam num silêncio cada vez mais ensurdecedor. Ninguém mais fala nada! Não há mais observância da tanta problemática vivida pelo povo. Não há mais senso crítico e, consequentemente, sumiu a denúncia, enquanto sabemos que é de tradição bíblica a denúncia do mal anteceder ao anúncio do bem. Sem denúncia, o anúncio se torna um vazio, sem fundamento e sem sentido, um mero palavratório “como um metal que ressoa, um címbalo retumbante” (cf. 1 Cor 13, 1), pois a verdadeira denúncia é feita por amor.

A morte do Padre Josimo, dos posseiros de Carajás, da irmã Dorothy, de tantos outros e de tantas outras não pode ser em vão. Um dia deverá “raiar o dia, no qual a luz brilhará como a aurora, a justiça irá à nossa frente e a glória de Javé nos acompanhará” (cf. Isaias 58).  Isto, porém, depende também de nós. Não temos o direito de jogar os problemas criados pela própria humanidade lá para cima, para ver se Deus dê um jeito. Ele fez a parte dEle e estará sempre ao nosso lado, se nós fizermos a nossa! Paulo Freire dizia: Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Ou seja, o nosso papel não é assistirmos, calados e passivos, o trem da história passar, e sim assumirmos a nossa responsabilidade pela sociedade em que vivemos.

 

Fortaleza, 07 de maio de 2013,

Geraldo Frencken
 
..............................................................................................................
O que eu sinto é que depois de tanto tempo de governo que se dizia socialista e democrático ainda continue tudo como dantes.
Assuero

Nenhum comentário:

Postar um comentário