PADRE
JOSIMO MORAIS TAVARES
No próximo dia 10 de maio completam-se 27 anos da morte
por assassinato do PADRE JOSIMO MORAIS
TAVARES. Desejo refletir um instante sobre mais este sangue derramado sobre
o solo brasileiro.
Josimo, nascido em Marabá (PA), recebeu a ordenação para
o serviço no meio do povo em 1979. Logo em seguida foi nomeado para trabalhar
numa área cheia de conflitos de terra, região situada, hoje em dia, no norte do
estado do Tocantins, chamada de ‘Bico do Papagaio’. Ele se tornou um dos
coordenadores da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), com sede na cidade de
Imperatriz (MA). Em abril de 1985 recebeu ameaças de morte, que se
concretizaram logo em seguida, no dia 10 de maio daquele mesmo ano, quando
Padre Josimo covardemente foi assassinado, pelas costas, ao entrar na sede da
CPT. O pistoleiro e mais quatro envolvidos foram presos e condenados a 18 anos
de prisão. Os mandantes, porém, sendo eles dois fazendeiros e um juiz, nunca
foram chamados, nem para prestar algum depoimento.
Estes fatos ocorreram há 27 anos. Talvez alguém pergunte,
porque relembrar um acontecimento de tanto tempo atrás e tão distante da nossa
vida.
Precisamos ficar bem informados sobre o que acontece em
nosso país. A morte de Padre Josimo não é um fato isolado e distante de nós, ou
então um assunto que não interessaria. O relatório da Comissão da Pastoral da
Terra de 2011 (ainda não disponho dos dados sobre o ano de 2012), a respeito da
situação em que se encontra o homem no campo, nos dá uma idéia da realidade
vivida por tanta gente. Apresento apenas os dados mais alarmantes e
preocupantes:
Ø em
2011 foram assassinados 29 camponeses, isto é, gente pobre e simples do campo;
destes 29, só no Pará foram ceifadas doze vidas;
Ø foram
registradas 347 ameaças de morte de trabalhadores rurais;
Ø 89
trabalhadores do campo foram presos em 2011;
Ø 215
foram agredidos;
Ø em
total foram envolvidas 603.355 pessoas em conflitos de terra, sendo quase a
metade nos estados do Nordeste.
A
situação no campo é de total insegurança, de guerra, de morte. A cada ano o
número de assassinatos aumenta, a quantidade de conflitos cresce. Mortes sempre
do lado dos posseiros e pobres agricultores. Do lado dos fazendeiros e
poderosos, dificilmente alguém é preso. O famoso massacre, em 1996, de Eldorado
dos Carajás, no Pará, no qual foram assassinados 19 posseiros, ainda não
resultou na prisão de todos os envolvidos por parte da Polícia Militar do Pará.
O processo em razão da morte da irmã Dorothy Stang, morta em 2005, ainda não
resultou em justiça de verdade. Não aquela justiça triunfante de prender algum
assassino ou, muito raramente, um mandante de assassinatos. A verdadeira justiça acontece, como nos diz
Dom Helder, “quando acabam as grandes injustiças de uns sem saber o que fazer com
tanta terra e milhões sem um palmo de terra para morar” (em sua súplica
“Mariama”, da Missa dos Quilombos).
Justiça se concretiza quando, no campo, os pequenos agricultores com suas
famílias possam possuir um pedaço de chão suficiente para o sustento de sua
família, a fim de construir vida digna, isto é, com condições para lavrar a
terra e escoar sua produção, com estradas trafegáveis, com educação escolar
para os filhos, assistência na saúde para todos, ou seja, quando os governos
municipais, estaduais e federal, coloquem em prática, de fato, políticas
públicas que visem o bem desta parcela do povo brasileiro no meio da mata
amazônica ou no sertão nordestino. Aqui, no Nordeste, essa situação do homem no
campo ainda é agravada quando o povo, mais uma vez, passa por um período de
seca que aflige milhares e milhares de famílias. Nós nos perguntamos: porque
nunca tem dinheiro para fornecer água à população no sertão, ao menos água para
beber? Como um governante pode dormir em paz, gastando bilhões e bilhões de
reais em estádios, ou para aquele ridículo aquário em Fortaleza (350 milhões de
reais!), e em outras obras supérfluas, enquanto o povo não tem nem sequer água
para beber, dividindo com os animais o restinho sujo, contido num poço ou em
algum açude!? Até quando deixamo-nos enganar por aquela velha e contínua política
de “panis et circenses”? Também é preocupante
constatarmos que, diante de problemas tão graves, as igrejas cristãs, todas
elas, ficam num silêncio cada vez mais ensurdecedor. Ninguém mais fala nada!
Não há mais observância da tanta problemática vivida pelo povo. Não há mais
senso crítico e, consequentemente, sumiu a denúncia, enquanto sabemos que é de tradição bíblica a denúncia do mal anteceder ao anúncio do
bem. Sem denúncia, o anúncio se torna um vazio, sem fundamento e sem
sentido, um mero palavratório “como um
metal que ressoa, um címbalo retumbante” (cf. 1 Cor 13, 1), pois a
verdadeira denúncia é feita por amor.
A
morte do Padre Josimo, dos posseiros de Carajás, da irmã Dorothy, de tantos
outros e de tantas outras não pode ser em vão. Um dia deverá “raiar o dia, no qual a luz brilhará como a
aurora, a justiça irá à nossa frente e a glória de Javé nos acompanhará”
(cf. Isaias 58). Isto, porém, depende também de nós. Não
temos o direito de jogar os problemas criados pela própria humanidade lá para
cima, para ver se Deus dê um jeito. Ele fez a parte dEle e estará sempre ao
nosso lado, se nós fizermos a nossa! Paulo Freire dizia: “Não
é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na
ação-reflexão”. Ou seja, o nosso papel não é assistirmos,
calados e passivos, o trem da história passar, e sim assumirmos a nossa
responsabilidade pela sociedade em que vivemos.
Fortaleza, 07 de maio de 2013,
Geraldo Frencken
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O que eu sinto é que depois de tanto tempo de governo que se dizia socialista e democrático ainda continue tudo como dantes.
Assuero
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