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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sobre a Saudade...


                         
                                              mural Tributo a Gaudí  - Simepe PE Brasil                                            

 
 
 
 
Sobre a Saudade
 
A saudade às vezes pesa demais, pois nem sempre é só cinzas ou papel desbotado, nem música nem olhar; às vezes corta ou apunhala traiçoeira, como uma palavra inesperada num momento inoportuno.
Pode ser sutil ou atrevida, inconstante ou perpétua, mas lateja, arde e queima, devagarzinho assim como quem não chega, chegando, no inverso universo do espelho onde quem parte está voltando e quem vai chega, mas quem chega já partiu.
A saudade às vezes pesa tanto que tem que se dividir com alguém, uma saudade partilhada, para se sobreviver. Um vento que sopra contra a face pode trazê-la, numa tempestade ou num acalanto. Mantêm-se incógnita por muito tempo, assim latente e como um peregrino que chega ao seu destino se inflama em transe e bate no dorso como a ponta do suplício. Dói, como dói, entre partidas definitivas ou entre lapsos de tempos vazios de espera.
Saudade é a presença ausente, é o desafeto do afeto, é a dor doída e a lágrima retida.
A saudade é irmã fatal da solidão, como nesse depoimento colhido entre lágrimas secas:
“... e a solidão era tanta que eu perguntei a ela qual o momento no qual estivéramos mais unidos. Ela abanou a cabeça como se não soubesse ou como se não importasse. Eu lembrei então de toda nossa trajetória juntos. Havia se passado uns bons cinquenta anos, talvez cem, ou a eternidade, talvez trinta para não exagerar, mas é porque quando se está só, o tempo se torna turvo.
Continuei falando sozinho, como se não houvesse mais ninguém na sala, nem no quarto. E realmente havia?
A ironia é que depois de muito pensar, descobri que o momento em que estivemos mais unidos, foi no momento da separação, um pouco depois do natal, quando deixamos nosso filho e voltamos sozinhos para o outro lado. Escondíamos nosso choro silencioso um do outro e dele. Foi uma cumplicidade extrema e ela, a solidão, e eu, jamais fomos os mesmos a partir daí. Por mais que nos aproximássemos ela se afastava e eu também ...” Ou ainda: “ sempre nos restará os momentos que passamos juntos, esses ninguém nos poderá roubar”.
Há saudades suaves, mornas, tênues, que acariciam nosso coração. São lembranças de um tempo que não retorna, são momentos que pareciam tão insignificantes, gestos banais, lugares comuns, guardados amiúde, perfumes fugazes, e agora retornam para nos consolar. Saudade de pessoas que nos fizeram bem, que foram como anjos de almíscar que deixaram suas impressões benéficas nas nossas vidas e seguiram em frente.
A saudade preenche os espaços vazios dos corpos celestiais e dos nossos, é a sabedoria do sentir, o consolo do desespero, enfim, a saudade é tão humana, tão humana, que move nossos corações e destinos para o Criador.
 
Assuero Gomes
Médico e escritor.
 

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