A NECESSIDADE DE SERMOS
CUIDADOS E CUIDADORES
A Organização das Nações Unidas
declarou o dia 06 de novembro “Dia
Internacional para a prevenção da exploração do meio ambiente”.
Torna-se cabível, exatamente neste
dia, nos interrogarmos sobre o cuidado em relação ao meio ambiente. A toda hora
nos chegam informações com dados preocupantes a respeito do processo do degelo
dos polos Norte e Sul, da desertificação de extensas áreas de nosso planeta
(por sinal no próprio Nordeste), como também recebemos, constantemente,
notícias acerca de desastres ecológicos pelo mundo afora.
A fim de aprofundar nossa reflexão,
apresento-lhes uma fábula-mito, descrito por Higino, um romano que vivia alguns
anos antes da era cristã, isto é, mais ou menos entre 60 e 10 antes de Cristo. Vou
transcrevê-la do jeito que a encontramos no livro Saber cuidar de Leonardo Boff (Petrópolis: Editora Vozes, 1999). Eis
a fábula-mito:
“Certo
dia, ao atravessar um rio, Cuidado
viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco de barro
e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter.
Cuidado
pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.
Quando,
porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldada, Júpiter o
proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.
Enquanto
Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora
feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão
generalizada.
De
comum acordo pediram a Saturno que
funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:
‘Você,
Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião
da morte dessa criatura.
Você,
Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando
essa criatura morrer.
Mas
como você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus
cuidados enquanto ela viver.
E
uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta
criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus,
que significa terra fértil.’ “
O que esta bela fábula-mito pode-nos
ensinar?
Aprendemos, por mais uma vez, que
nós, seres humanos, somos terra, parte dela, o que significa que formamos uma
unidade íntima e profunda com a Terra. Mas devemos entender que nesta unidade,
cada uma das partes tem a sua função, a sua missão, porque, embora unidos, não
somos iguais.
Entendamos bem: a terra tem por
missão sustentar-nos, e ela o faz por nos oferecer seus frutos: ervas,
verduras, plantas, árvores, de todas as espécies, gostos e belezas, que, por
sua vez, dão origem ao nosso sustento, tornando-se a base da nossa sobrevivência.
Nós, por nossa vez, somos chamados a
pensar a terra. Este é nosso lado espiritual, a dimensão que nos faz capazes de
refletir sobre a terra, discuti-la contemplá-la e aprender dela. Contemplar a terra,
no mais profundo sentido da palavra, significa, portanto, contemplar e entender
a nós mesmos, o nosso próprio ser. Isto, no entanto, não quer dizer sermos
superiores a ela, uma vez que, quando houver verdadeira unidade, não podem
existir superiores e inferiores.
Esta coexistência, este viver numa
livre interdependência nos leva ao cuidado: o que seria de nós se a terra
deixasse de cuidar de nós, de zelar pela nossa vida? E o que seria da terra se nós
não cuidássemos dela?
Nós precisamos de tudo que a terra
guarda dentro de si. Toda a riqueza dela é vida, vida dela e vida para nós. Mas
precisamos usufruir de toda esta riqueza de maneira bem pensada, com
inteligência e respeito, pensando não somente no dia de hoje, e muito menos a
partir de uma desenfreada exploração que machuca a terra, porque aprendemos que,
ao machucá-la, ferimos a nós mesmos.
Gosto muito de recordar as palavras
de Dom Helder, quando ele diz que “Deus
decidiu fazer do homem criador ao lado dEle”. Com estas palavras, o Dom
interpreta a história da origem do homem e da mulher, como escrita no livro de
Gênesis, quando Deus nos cria à sua imagem e semelhança: Deus é criador,
portanto nós também o somos. Daí é apenas um passo para entender que aquele que
cria não pode explorar, não pode destruir, e, de maneira alguma, impossibilitar
a vida daqui para frente. Portanto, procuremos ter, nós homens e mulheres,
feitos do húmus, a alegria de CUIDAR da VIDA!
Fortaleza, 6-11-2013,
Geraldo Frencken
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