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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Presença


 
 
 
 
 
 
Presença
 

Algumas pessoas iluminam as vidas dos outros, com sua presença, mesmo estando ausentes. A presença é algo tão essencial como um afago de mãe ou o conselho de pai. É vital, é estruturante.

 pessoas que  permanecem presentes mesmo quando já partiram, enquanto outras estando lado a lado, estão tão distantes que já nos parecem indiferentes. Há presenças luminosas, mas há as sombrias, as tenebrosas, aquelas que sugam a energia do outro, que sugam até o brilho e a cor, que desbotam, que opacificam.

Um sinal, um aceno, um simples pedaço de pão, uma fotografia ou um sofejo de uma música guardada na memória do coração, que se acende num instante mágico da mente saudosa, bastam para que a presença se faça presente, a distância e o tempo se consuma como fogo que não queima mas aquece, e nos transporte para junto daquele que nos faz falta.

A presença é tão importante que todos os projetos humanos, todos sem exceção, só florescem e  dão frutos com a presença. A presença do líder, do idealizador, individual ou coletiva,  é com ela que a vida prospera. Muitas vezes empreendimentos começam tão alvissareiros, e até progridem, mas quando se dispersam os criadores ou as lideranças ou mesmo quando as ausências são maiores que as presenças, fatalmente declinarão, murcharão e finalmente se apagarão. Uns podem demorar anos e gerações, outros fenecem com apenas um verão, sepultando sonhos e enterrando ideais. Assim a família humana, grupos religiosos, empresas, instituições.

Quantos grupos se foram quando seus líderes partiram? Hoje nem lembrança resta. E que dizer dos empreendimentos, das coorporações, das indústrias, das pequenas empresas, das grandes? Muitas e muitas, as que permanecem e superam os desafios, alheios e próprios, têm geralmente líderes dedicados, humanos e presentes que fazem toda a diferença.

No tempo de Jesus na Galileia, surgiram inúmeros grupos, denominados batistas, que tinham a característica de seguimento de um líder e um punhado de seguidores, andarilhos, que pregavam o final dos tempos e o batismo pela conversão dos pecados. Desses grupos o mais famoso, depois do de Jesus, foi o do seu primo João, que com a sua morte decapitado a mando de Herodes, dispersou-se e muitos dos seu seguidores aderiram ao movimento de Jesus, o único que permaneceu até hoje, multiplicado por milhões e milhões de seguidores. A sua presença foi e é fundamental para manter-se após dois mil anos. A presença palpável e palatável, no pobre e no pão repartido.

A nossa presença na Terra é fugaz, como um grão de areia na ampulheta do deserto, ou a chama trêmula de uma vela numa tempestade. Façamos dela luz para quem nos foi dado conviver ou mesmo encontrar em momentos baldios. Refúgio e consolo para quem precisa e acolhimento, sempre. Assim fazendo nossa luz será passada adiante no caminho dos nossos filhos e netos, e estará acesa certamente nos olhos de Deus.

 
Assuero Gomes


Médico e escritor

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