Presença
Algumas pessoas iluminam as vidas dos outros, com sua
presença, mesmo estando ausentes. A presença é algo tão essencial como um afago
de mãe ou o conselho de pai. É vital, é estruturante.
Há pessoas que permanecem presentes mesmo quando já partiram,
enquanto outras estando lado a lado, estão tão distantes que já nos parecem
indiferentes. Há presenças luminosas, mas há as sombrias, as tenebrosas,
aquelas que sugam a energia do outro, que sugam até o brilho e a cor, que
desbotam, que opacificam.
Um sinal, um aceno, um simples pedaço de pão, uma fotografia
ou um sofejo de uma música guardada na memória do coração, que se acende num
instante mágico da mente saudosa, bastam para que a presença se faça presente,
a distância e o tempo se consuma como fogo que não queima mas aquece, e nos
transporte para junto daquele que nos faz falta.
A presença é tão importante que todos os projetos humanos,
todos sem exceção, só florescem e dão
frutos com a presença. A presença do líder, do idealizador, individual ou
coletiva, é com ela que a vida prospera.
Muitas vezes empreendimentos começam tão alvissareiros, e até progridem, mas
quando se dispersam os criadores ou as lideranças ou mesmo quando as ausências
são maiores que as presenças, fatalmente declinarão, murcharão e finalmente se
apagarão. Uns podem demorar anos e gerações, outros fenecem com apenas um
verão, sepultando sonhos e enterrando ideais. Assim a família humana, grupos
religiosos, empresas, instituições.
Quantos grupos se foram quando seus líderes partiram? Hoje
nem lembrança resta. E que dizer dos empreendimentos, das coorporações, das
indústrias, das pequenas empresas, das grandes? Muitas e muitas, as que
permanecem e superam os desafios, alheios e próprios, têm geralmente líderes
dedicados, humanos e presentes que fazem toda a diferença.
No tempo de Jesus na Galileia, surgiram inúmeros grupos,
denominados batistas, que tinham a característica de seguimento de um líder e
um punhado de seguidores, andarilhos, que pregavam o final dos tempos e o
batismo pela conversão dos pecados. Desses grupos o mais famoso, depois do de
Jesus, foi o do seu primo João, que com a sua morte decapitado a mando de
Herodes, dispersou-se e muitos dos seu seguidores aderiram ao movimento de
Jesus, o único que permaneceu até hoje, multiplicado por milhões e milhões de
seguidores. A sua presença foi e é fundamental para manter-se após dois mil
anos. A presença palpável e palatável, no pobre e no pão repartido.
A nossa presença na Terra é fugaz, como um grão de areia na
ampulheta do deserto, ou a chama trêmula de uma vela numa tempestade. Façamos
dela luz para quem nos foi dado conviver ou mesmo encontrar em momentos
baldios. Refúgio e consolo para quem precisa e acolhimento, sempre. Assim
fazendo nossa luz será passada adiante no caminho dos nossos filhos e netos, e
estará acesa certamente nos olhos de Deus.
Assuero Gomes
Médico e escritor
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