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sábado, 9 de novembro de 2013

Sobre a Esperança...


 
 
 
 
 
 
Sobre a Esperança...

 

 

Das virtudes, esta talvez seja a mais insana, a mais romântica e a mais necessária. Encontrar encontros onde nada há, vitória no desespero, razão na loucura.

Encontrar o belo, vagueando como olhos de poeta, na feia realidade quase constante, e a construção imaginária na ruína, o humano na desgraça e na solidão, companhia.

A Esperança é aquela companheira solitária de noites insones e lágrimas enxutas de não consolo. É um voo rasante sobre um precipício medonho de profundidade colossal. A Esperança é ainda irmã da Fé e da Caridade. Essas três irmãs sustentam o mundo tal qual o conhecemos e abrem nossos olhos e corações para um mundo bem maior, onde o tempo e a distância já não dizem muito.

A Esperança é um sopro vital que anima corpos já combalidos pelo desânimo e pela realidade da dor e da angústia. É o prato de comida que embora visto vazio, sacia a fome milenar, é ainda a veste imaginária de um corpo nu no inverno ou a chave miraculosa de uma cadeia e de uma corrente de suplício.

“Liberta, liberta, liberta Senhor da minha masmorra, enche de esperança esse coração combalido, restaura minhas forças, para que humildemente possa me prostar a teus pés em agradecimento eterno, e possa eu te louvar pela eternidade afora” assim dizia uma canção penitencial da Idade Média.

Bem aventurado aquele que distribui esperança por onde passa, pois vivifica a Criação.

Homens, mulheres, instituições são chamados constantemente por Deus a suscitar esperança entre os povos, como profetas ressurrectos. Como profetas que animam civilizações a saírem dos sepulcros e a desenfaixarem suas mordaças, como profetas que vergam os reis e juizes impunes. A Esperança anda firme onde tudo mais claudica, é como as pernas de um cego que o ajudam a caminhar na escuridão.

O olhar dos enamorados está pleno da luz da Esperança, ele reflete o futuro. O perdão também, pois o coração de quem celebra o perdão, já derramou Esperança no cálice sagrado do coração do outro.

A Misericórdia que banha o mundo com suas águas cristalinas de geração em geração, faz germinar  a Esperança na seara da humanidade, e o que restaria de uma sem a outra? Apenas um campo vazio e desértico, prenho de nada.

A Esperança é ainda como um dom, desses que a alguns nos podem parecer tolos como aqueles românticos que buscam em rimas e noites não dormidas, agradar a mulher amada, e continuam escrevendo versos, mesmo sabendo que ela jamais os lerá, mesmo sabendo que ela talvez nem exista mais, mas sem saber, mesmo assim, seus versos serão consolos para futuros amantes e continuam escrevendo com as tintas luminosas das estrelas, fazendo as noites menos escuras e mais bonitas, até que a aurora desponte.

 

Assuero Gomes

 

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