Sobre a Esperança...
Das virtudes, esta talvez seja a mais insana, a mais
romântica e a mais necessária. Encontrar encontros onde nada há, vitória no
desespero, razão na loucura.
Encontrar o belo, vagueando como olhos de poeta, na feia
realidade quase constante, e a construção imaginária na ruína, o humano na
desgraça e na solidão, companhia.
A Esperança é aquela companheira solitária de noites insones
e lágrimas enxutas de não consolo. É um voo rasante sobre um precipício medonho
de profundidade colossal. A Esperança é ainda irmã da Fé e da Caridade. Essas
três irmãs sustentam o mundo tal qual o conhecemos e abrem nossos olhos e
corações para um mundo bem maior, onde o tempo e a distância já não dizem
muito.
A Esperança é um sopro vital que anima corpos já combalidos
pelo desânimo e pela realidade da dor e da angústia. É o prato de comida que
embora visto vazio, sacia a fome milenar, é ainda a veste imaginária de um
corpo nu no inverno ou a chave miraculosa de uma cadeia e de uma corrente de
suplício.
“Liberta, liberta, liberta Senhor da minha masmorra, enche
de esperança esse coração combalido, restaura minhas forças, para que
humildemente possa me prostar a teus pés em agradecimento eterno, e possa eu te
louvar pela eternidade afora” assim dizia uma canção penitencial da Idade
Média.
Bem aventurado aquele que distribui esperança por onde
passa, pois vivifica a Criação.
Homens, mulheres, instituições são chamados constantemente
por Deus a suscitar esperança entre os povos, como profetas ressurrectos. Como
profetas que animam civilizações a saírem dos sepulcros e a desenfaixarem suas
mordaças, como profetas que vergam os reis e juizes impunes. A Esperança anda
firme onde tudo mais claudica, é como as pernas de um cego que o ajudam a
caminhar na escuridão.
O olhar dos enamorados está pleno da luz da Esperança, ele
reflete o futuro. O perdão também, pois o coração de quem celebra o perdão, já
derramou Esperança no cálice sagrado do coração do outro.
A Misericórdia que banha o mundo com suas águas cristalinas
de geração em geração, faz germinar a
Esperança na seara da humanidade, e o que restaria de uma sem a outra? Apenas
um campo vazio e desértico, prenho de nada.
A Esperança é ainda como um dom, desses que a alguns nos
podem parecer tolos como aqueles românticos que buscam em rimas e noites não
dormidas, agradar a mulher amada, e continuam escrevendo versos, mesmo sabendo
que ela jamais os lerá, mesmo sabendo que ela talvez nem exista mais, mas sem
saber, mesmo assim, seus versos serão consolos para futuros amantes e continuam
escrevendo com as tintas luminosas das estrelas, fazendo as noites menos
escuras e mais bonitas, até que a aurora desponte.
Assuero Gomes
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