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sábado, 28 de abril de 2012







Uma reflexão de Padre Arnaldo Cabral 







50 ANOS DE AMOR AO PRÓXIMO




Reflexão de Pe. Arnaldo Cabral por ocasião do jubileu de ouro da ordenação sacerdotal de Pe. Edwaldo Gomes, pároco de Casa Forte, Recife, PE – Dezembro de 2006





         Meus irmãos, minhas irmãs, meu amigo José Edwaldo:



          Pascoal afirmava que o coração tem razões e tem motivos que a inteligência não compreende; que vocês compreendam a minha presença aqui neste momento. Não desconheço as limitações que a idade realiza, não digo assim, traiçoeiramente, mas dentro daquilo que é normal num processo de envelhecença.

         Não teria nunca a ousadia, que graças a Deus o bom senso nunca me faltou, para assumir, sem uma motivação bastante forte, estar aqui nessa situação. Espero, com a graça de Deus, não castigar vocês com a prolixidade que hoje caracteriza as minhas pregações.

         Estamos celebrando um dos mais significativos mistérios da infinita misericórdia e bondade do Pai que não só nos deu o seu Filho unigênito, mas através do Filho nos fez participar, penetrar e usufruir o seu próprio mistério.

         Então, pelo sacramento de Ordem, que não é outra coisa senão aquele sinal que, pela imposição das mãos do ministro, uma pessoa batizada, assumida e configurada a Cristo, servo, pastor, sacerdote e mestre, torna-se sinal, instrumento de sua pessoa e de sua ação na igreja e no mundo. O sacerdote é um caráter que o sacramento realiza, há como que uma fusão do agir do padre com o agir do Cristo. Este caráter, esta marca é indelével e inamissível. Quem foi padre jamais deixará de ser padre. Renunciar ao ministério não é renunciar ao sacerdócio. Isto não depende da ação humana. Esta ação do Espírito configurando alguém ao Cristo sacerdote é perpétua. Então, para nós, que pela misericórdia e graça de Deus continuamos no ministério, esse sinal sacramental é uma exigência de que cada vez e sempre mais, nós nos assemelhemos a Jesus.

         No ritual da ordenação há o momento em que o ordenando diz ao ordenado: conforma a tua vida à Paixão do Senhor. Antigamente, esta palavra se dizia com outras palavras. Era a mesma exigência de assumir o que celebrava, o que fazia: então, o centro da dignidade inamissível, repito, que não é grandeza humana e não é nenhuma autorização para nos julgarmos melhores a quem quer que seja para termos a ousadia de assumirmos posições de dominação e de poder.

Esta grandeza é toda colocada dentro de um projeto de serviço que faz com que o próprio filho de Deus seja servo. Eu não vim para ser servido, eu vim para servir.

Sacerdócio, servo, serviço dentro daqueles que realmente assumem fazer-se para o outro.



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Foi muito oportuna essa escolha do evangelho da missa de hoje.

Em momento nenhum Jesus insistiu com tanta clareza na necessidade de imitarmos o significado e a dimensão do seu gesto de lavar os pés dos discípulos, escolhendo como sinal o que havia de mais depreciativo na cultura da época, que era lavar os pés de alguém. Entre nós e entre Cristo há uma tal comunhão de ação que deveria realizar uma comunhão de vida que em todas as nossas ações sacerdotais fossem ações do Cristo. Ele age em nós e através de nós, nessa dimensão de instrumento vivo; esta é realmente outra lição: nós não somos a causa principal, nós não realizamos nada por nossa conta; o agente principal é que se serve do instrumento. Então o que é realização efetiva do nosso trabalho, do nosso serviço, tudo é obra e graça de Deus nosso Pai pelo Espírito Santo que nos foi dado para que nós pudéssemos, em nome de Jesus, com a sua autoridade, conduzir o Povo de Deus.

         Ser padre não é nada mais nada menos do que ocupar o lugar de Jesus. Por isso, a devoção fundamental do padre é essa. Não é simplesmente realizar ritos ou pronunciar palavras. A celebração exige uma consonância dos sentimentos interiores do padre, das suas intenções e da sua vontade com os sentimentos do Cristo. Repetindo as palavras de Jesus, “fazei isto em memória de mim”, Jesus não nos está mandando simplesmente realizar o prodígio de transformar o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue. Jesus se entregou. Jesus está dizendo a nós, “faça aquilo que eu fiz”. E o que foi que Jesus fez? Jesus se entregou. Jesus deu a sua vida. Jesus se imolou para que nós tenhamos a vida. Aí está a súmula da espiritualidade do padre: viver o que é sacramento vivo de Jesus. Responsável por representá-lo na Igreja como liturgo, celebrante, como aquele que atrai para o povo as bênçãos e graça de Deus.

Essa força do mistério do sacerdócio não é exclusiva do sacerdote.

Como sabemos é necessário que o coração esteja em sintonia com o coração de Jesus. Então, assim nós podemos fazer realmente, podemos realizar, pela compaixão, aquilo que se afirma do próprio Jesus. Compadecer-se. E essa celebração comemorativa traz a possibilidade, como que uma nova ordem, ordenação, de um novo momento, naquele que faz, que celebra o aniversário, um novo florescer, um novo crescer dentro desse projeto. Morrer com Jesus para então fazer os outros viverem. Esse mistério de doação, de serviço, de entrega isso que a carta aos Hebreus lembrou tanto, é graça divina.

Ninguém merece, ninguém alcançaria os próprios méritos, mas é o olhar misericordioso de Deus visando o bem do povo. Não há padre para si mesmo, todo sacerdote é para o serviço do povo, visando o bem do povo.





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Isso é uma ação do Espírito que escolhe os que quer. Ninguém tem mais mérito por ter sido escolhido sobre os que não foram escolhidos e assim se pode continuar no mundo.

Os sentimentos de Cristo, tendem em vós os mesmos sentimentos: pensar como Jesus, servir como Jesus, assumir como Jesus o último lugar. “Quem quiser ser o maior, seja o menor. Aprendei de mim que estou servindo vocês”.

Esta celebração meus irmãos, minhas irmãs, toda a sua beleza e grandeza, seja um convite profundo a todos nós para que nossa vida cresça mais na devoção a Jesus Cristo. Na devoção à Santa Missa, e todos nós marcados pelo caráter sacramental, vivamos o que somos. Dessa forma, estamos santificando o mundo e o nosso serviço ao povo e o nosso apostolado não seja outra, senão exigência do amor.

Nada façamos pelo interesse pessoal nem façamos unicamente para dizer que fazemos. O amor é a alma de toda a ação pastoral. O serviço ao próximo é a única demonstração de que nós amamos e servimos a Deus. O ser pobre e humilde como Jesus para testemunhar essa mensagem de igualdade e fraternidade que ele trouxe para o mundo é uma exigência da nossa fidelidade ao sacerdócio.



Padre Arnaldo Cabral de Souza

Pároco aposentado do Espinheiro – Recife

Por vários anos reitor, diretor e professor do seminário de Olinda.

















































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