segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Para a espera do Natal
Para a espera do Natal
Talvez devamos nos portar como quem espera um visitante que não marcou hora nem dia, mas que deixou a esperança de sua presença, por esses tempos. devemos perguntar então: - será que Ele vem?
Para quem perguntar? A única pessoa que poderia nos responder seria o primo, João. Mas João anda muito abusado ultimamente. Carrancudo. Exigente. Às vezes faz até ameaças: o machado está posto, o fogo está aceso, a palha será juntada e jogada no fogo, convertam-se raça de víboras, e assim por diante.
João já está cansado de tanta patifaria e podridão nesse lugar. É roubo, suborno, traficância, adultério, sodomia, coação, violência. A violência é tanta que não dá mais para relaxar. Quem era para fazer a justiça, suborna. Quem era para libertar, oprime. Quem era para salvar, corrompe. Quem era para alimentar e saciar, desvia. Quem era para gritar, cala os pequeninos. Quem era para proteger, violenta.
Não sei não, está difícil... João não transige.
Seu primo vem?
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
A Porta do Coveiro
A porta do coveiro
Na cidade em ruínas havia
várias portas, que eram como portais. Essas portas ligavam realidades
diferentes, porém na mesma dimensão. Era como entrar em uma tentando sair e
aparecer na outra. Pois bem, havia a porta do prefeito, do gari, do médico, do
padre, do juiz, do engenheiro, da advogada, do pistoleiro, da beata, da professora e a do coveiro. Havia outras, a bem
da verdade, mas essas já dá para se contar essa história.
Quem tentava sair desse
lugar sempre retornava por outra porta.
A porta do prefeito era a
mais procurada. Indubitavelmente. Quase todo mundo pelo menos uma vez na vida
batia lá. Para pedir e algumas vezes para reclamar. Quase nunca eram atendidos.
Mas continuava sempre a mais procurada.
A porta do gari era uma
porta singela, em contraste com a do prefeito. Uma porta limpa a do gari. Por
lá toda sujeira da cidade passava e ninguém notava. Ninguém ia lá, a não ser
quando esse entrava em greve e ia bater na porta do prefeito e o lixo se
amontoava. A porta do médico ninguém queria visitar, mas pelo menos uma vez na
vida, todos passavam por ela. Da porta do prefeito, quando se conseguia entrar
se saía sempre. Desanimado e às vezes pela porta dos fundos. Da porta do gari
ninguém entrava, então também não se saía. Da porta do médico se entrava a
contragostro e se saía às vezes satisfeito, às vezes apreensivo outras vezes
não se saía.
A porta do padre, essa
era imponente. Majestosa. Era antiga como a cidade, que aliás fora surgindo ao
redor dessa porta. Alguns habitantes da cidade habitualmente entravam por ela.
Entravam pesados e saíam mais leves em todos os sentidos, mas a média de idade
deles estava aumentando. Quanto a porta
do juiz, esta era quase inacessível. Ninguém queria ir. Só em última necessidade
e geralmente na companhia da advogada. Este sim, tinha uma porta fácil.
Construída pelo engenheiro. O engenheiro por sua vez tinha uma porta retangualar,
calculada, medida na forma justa. Quando construiu a porta da advogada houve
uma querela qualquer.
Quem entrava pela porta
do juiz algumas vezes saíam pela porta dos fundos que é gradeada. Demoravam
muito e muito para de lá sair. Da porta do engenheiro, ao transpô-la
poder-se-ia retornar, estava sempre no mesmo lugar, imutável. Ao se passar pela
porta da advogada se ía e se vinha, se entrava e se saía. Se buscava uma
preciosidade que se estava preste a se perder.
A porta do pistoleiro era
sui generis. Escura. Construída com restos. Sombria. Pouca gente entrava por
ela, alguns saíam. Aparentemente mais leves, com um peso invisível que jamais
seria descartado. Ao lado estava a porta da beata. Uma porta antiga cheia de
santos e amuletos. O interessante era que todas essas portas descritas estavam
mesmo numa única rua curvilínea. Quem entrava na porta da beata saía mais leve,
mais contente. Mais que qualquer outra, a porta da professora era a mais
frequentada. Todos os habitantes daquela cidade estranha haviam passado por
ela. Saíam melhores do que entravam.
Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br
sábado, 29 de novembro de 2014
Vem Senhor!
DO IRMÃO PADRE JOÃO
PUBBEN
Irmãs/Irmãos,
Paz e Alegria!
Há 45 anos, o tempo do Advento que nos
encaminha para o Natal, também começou no dia 30 de novembro.
Envio – com amizade – “VEM, SENHOR”,
que Dom Helder confiou ao papel em sua vigília de 29/30.11.1969.
Desejo para todas e todos uma valiosa
preparação para celebrar a Encarnação de Jesus, neste ano, JP
VEM, SENHOR !
Não sorrias,
dizendo
que já estás conosco.
Há milhões que não Te conhecem.
E de que basta conhecer-Te,
de que adianta tua vinda,
se para os teus
a vida continua igual?...
Converte-nos!
Revolve-nos!
Que a tua mensagem
se torne carne de nossa carne,
sangue de nosso sangue,
razão de ser de nossa vida.
Que ela nos arranque
do comodismo,
da boa consciência!
Seja exigente,
incômoda,
pois só assim
nos trará a paz profunda,
a paz diferente,
a TUA paz!...
Recife, 29/30.11.1969
Hélder Câmara
terça-feira, 25 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
A Cruz e o ninho
A cruz e o ninho
Na estrada havia uma
cruz. Havia uma cruz na estrada. Ao longe parecia que ao encontro das margens,
onde as paralelas se encontram, ali estava a cruz. Ela parecia o centro do
caminho, mas não era. Quanto mais caminhávamos a cruz parecia maior.
Percebíamos que era fincada ao lado da estrada. De pedra. Uma cruz de pedra ao
lado do caminho.
Caminho de pedra e cruz
de pedra, e pedra de caminho e cruz.
Não era o fim da estrada,
apenas estrada. Não era no início nem no meio nem no fim. Era estrada e cruz.
Lugar seco aquele. Xique-xique, graveto, avelós para quebrar a monotonia do
cinza e do marrom.
A cruz estava lá. Imóvel.
A estrada caminhava e nós entre a estrada e a cruz. As nuvens caminhavam, a
sede não. Era eterna como a cruz de pedra. A sede é dura e eterna como a pedra.
Uma carcaça de um boi morto velava a cruz. O sol como uma vela colossal e
quente descarnava a pele e a carne de quem parava. Fervia o chão, fervia os
pés, fervia a língua e a garganta seca como a morte. Cegava.
A cruz de pedra brigava
com o caminho dos caminhantes. Tentava-os. Morrer e descansar agarrados à cruz
ou caminhar e morrer caminhando. Morrer é fácil, viver é difícil Diadorim.
Entre os braços no canto
a cruz guardava uma surpresa. Era delírio, visagem ou canto mesmo?
Um ninho. Um ninho descansando no braço esquerdo da
cruz. Um ninho feito uma coroa de espinhos. De uma coroa de espinhos.
Simplesmente um ninho perdido numa margem de uma estrada sobre uma cruz. Dentro
do ninho um ovo. Dentro do ovo uma esperança. Na esperança um depois.
Paramos incógnitos. A
paisagem nos consumia e derretia e nós consumíamos a paisagem, a única coisa
que se podia beber era a paisagem. Ali até os sonhos secam. Ali onde se começa
a ter saudade das saudades que passaram.
Estávamos nós
incorporados para sempre numa estrada de um caminho, olhando uma cruz de pedra
com um ninho pousado sobre si e dentro do ninho um ovo. Tudo isso incorporado
numa paisagem imutável, um sertão de paisagem.
Havia um ovo, um ovo
dentro de um ninho, um ninho sobre uma cruz de pedra, uma cruz de pedra
incrustada na margem da estrada. Parados ali havia três pessoas olhando para o
ninho. Esperando o pássaro brotar.
Assuero Gomes
terça-feira, 18 de novembro de 2014
De águas...
De águas...
Tão suave e espelhal
Como uma passagem para o passado....
Como uma fonte no meio do jardim
Como plantas no aquário do céu.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Pandora e Maria
Pandora e a
festa dos desesperados
Assuero Gomes
Médico e Escritor
Eu, Assuero, isolado na ilha do planalto, tive uma
visão, que a princípio me perturbou muito, mas um vento suave, como uma brisa,
me soprou um alento e disse que não me perturbasse o coração, pois tudo haveria
de passar.
Uma mulher, bela, sedutora, voluptuosa, de grandes
seios fartos, de onde escorria mel e do outro, leite, sentada numa magnífica
caixa, trabalhada em filigranas de ouro sobre marfim e ébano.
No centro de uma praça uma multidão acorria à mulher.
Queriam beber do leite e do mel de graça. Eram centenas de centenas. Gente de
todo tipo. Mendigos, aleijados, míopes, caolhos, prostitutas, dançarinos,
glutões, beberrões, palhaços, fugitivos, empresários, endividados, domésticos,
donas de casa, adolescentes, estudantes, domadores circenses, mambembes,
doentes, peregrinos, incautos, descuidistas, banqueiros, funcionários públicos,
padioleiros, amantes, e muita gente mais.
Como ondas, avançavam para a mulher, que lasciva,
vestida de escarlate e lábios carmim, acenava para a multidão indócil e aflita,
atrás de leite e mel de graça.
Aumentando o frenesi a mulher abria a caixa e de lá
tirava notas graúdas de dinheiro e aspergia sobre a população, dissolvendo o
pouco de povo que existia e fomentando a massa. Deliravam todos numa orgia
sufocante. Da caixa a mulher passou a retirar e espalhar palavras, muitas
palavras. Palavras de discórdia e disputa. Mentiras e calúnias. Molhava as
palavras em um pouco de leite e mel para torná-las mais palatáveis, mais
saborosas, outras vezes as colava nas cédulas.
Era uma caixa sem fundo. Quanto mais ela tirava as
palavras de lá, mais surgiam. Sem fim.
A multidão
começou a se olhar de maneira estranha. Pai desconfiando de filho, amigos de
longos anos se estranharam, namorados se agrediram, os mais ricos e os mais
pobres se engalfinhando no chão, negros contra índios e mulatos contra brancos.
O ódio foi se alimentando do próprio ódio. Lutas e ferimentos sangravam e
molhavam o chão. Impassível a mulher exibia um sorriso discreto. Como um
carnaval às avessas, as pessoas já desfiguradas na sua agonia, aflitas não
sabiam para onde ir, presas dentro da própria praça. Alguns tentavam recolocar
as palavras na caixa mas era impossível pois já tinham sido espalhadas e seu
efeito devastador se fazia presente de forma irreversível.
Pedi então ao
vento que me acordasse dessa visão tenebrosa. Pedi ao Vento...
Depois da festa dos
desesperados...
Ao final da festa de Pandora, onde a mesma havia distribuído
leite e mel de graça, junto com algumas cédulas de dinheiro, e espalhado
palavras de discórdia sobre a multidão dos desesperados, que freneticamente se
atracou entre si, restou o caos.
Irmãos contra irmãos, pais contra filhos, negros contra
mestiços, brancos contra índios, sulistas contra nordestinos, homossexuais
contra héteros, jovens contra idosos, ricos contra pobres, católicos contra
evangélicos, todos contra todos e contra si, numa diabólica cisão fratricida, um
pentecostes ao inverso, um reino de Babel.
Restaram os sobreviventes. Estrupiados, rotos, um trapo de
nação em frangalhos. Mais pobres que antes, sujeitos às esmolas prisioneiras. Almas
e corpos machucados. Ali na praça que virou uma arena, ao centro, Pandora ria
despudorada, sentada sobre sua caixa, agora vazia.
Do outro lado da praça, numa campina, uma senhora observa
serena, com olhos de mãe. Veste-se de maneira digna e singela. Não fala, não
gesticula, não se agita. Comovida, espera pelos primeiros feridos. Os famintos,
os iludidos, os doídos, que agora chegam. As chagas sociais expostas, as
promessas vãs, não cumpridas, as decepções que pesam na cruz de uma vida
difícil. Esses são os desesperados.
A senhora observa as marcas de sangue no caminho. Acolhe um
a um. Seus gestos agora são calmos, fraternos, maternais. Escuta e cuida.
Alivia e consola. Nada promete apenas trabalha, o trabalho dos inocentes que
têm as mãos limpas e podem tocar nas chagas dos pobres.
O tempo serena. O balburdio da festa aos poucos vai se
tornando silêncio. Uma sinfonia de alvorecer vai surgindo. O vento retorna seu
sopro de vida e alivia.
Logo alguns vão chegando e ajudando. Estão sofridos também,
mas resistiram e agora ajudam. A harmonia perdida vai se reincorporando ao ambiente, os
suspiros, os gemidos de dor são diluídos na alegria de servir e na esperança. A
massa disforme pelo sofrimento vai aos poucos se formando em povo.
A senhora então começa a falar palavras de alimento, de
medicamento, de trabalho digno, de escola, de carinho, de respeito, de união,
de partilha, de fraternidade, de compromisso, de ajuda, e asperge aqueles
desesperados com uma imensa chuva de misericórdia. É como uma chuva que desce
do céu, do coração de Deus.
Ali, misturado aos que ajudam, seu filho se mantém
incógnito, como se fosse um, um com os outros, um em todos. O desespero vai
dando lugar à esperança. Um novo tecido vai se refazendo, como um tecido novo
que apaga os remendos e se refaz sob a linha de sutura do serviço e da justiça.
Como um manto inconsútil. Um manto que abriga e agasalha os despossuídos, um
manto com que se faz a bandeira de uma nação. Um manto no qual se abriga os
filhos, um manto no qual se cobre a tenda da humanidade e se come o pão. O pão
da partilha.
Ao final nada restou da festa de Pandora, nem uma tênue
lembrança, nem uma saudade sequer.
Reconstruir na fraternidade sob o manto da misericórdia, recolher
o disperso, cuidar de um povo, esse é o serviço da Senhora e de seu filho muito
amado. Rogai por nós, do Brasil.
Assuero Gomes
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Depois da festa
Depois da festa...
Depois que a festa acabou, assim como a banda de Chico Buarque, tudo tomou seu lugar. A não ser pela ressaca, os pobres continuaram a ser explorados, os mesmos ladrões de sempre a roubar, a cantora sem voz tentava explicar a conta, uma vez que a luz não é de graça, nem a banda, nem o som.
Rastros da noite dos desesperados ficaram pelo chão. Os corações mais pesados, a alma mais angustiada, o vizinho mais truculento.
O dia a dia consumiu em poucas horas aquele sonho de poder e de melhoria. Tudo como dantes no reino de Abrantes, como dizia um dito popular antigo.
No posto de saúde as atendentes de enfermagem recebiam os feridos das ambulâncias precárias, dos maqueiros sonolentos. O posto à deriva faltando tudo. Por cima do ambulatório, na sala de atendimento, uma imagem de Maria parecia acolher aqueles filhos, mais uma vez. Silenciosa e meiga, como se visse em cada um seu próprio filho.
Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br
Depois que a festa acabou, assim como a banda de Chico Buarque, tudo tomou seu lugar. A não ser pela ressaca, os pobres continuaram a ser explorados, os mesmos ladrões de sempre a roubar, a cantora sem voz tentava explicar a conta, uma vez que a luz não é de graça, nem a banda, nem o som.
Rastros da noite dos desesperados ficaram pelo chão. Os corações mais pesados, a alma mais angustiada, o vizinho mais truculento.
O dia a dia consumiu em poucas horas aquele sonho de poder e de melhoria. Tudo como dantes no reino de Abrantes, como dizia um dito popular antigo.
No posto de saúde as atendentes de enfermagem recebiam os feridos das ambulâncias precárias, dos maqueiros sonolentos. O posto à deriva faltando tudo. Por cima do ambulatório, na sala de atendimento, uma imagem de Maria parecia acolher aqueles filhos, mais uma vez. Silenciosa e meiga, como se visse em cada um seu próprio filho.
Assuero Gomes
assuerogomes@terra.com.br
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
A Festa dos desesperados III
A Festa dos desesperados III
O pessoal foi se achegando ao redor do cabaré. Ouviram o som e a notícia da cachaça de graça. Os chefes chamaram o dono do cabaré e prometendo que iam pagar depois, penduraram a conta e mandaram distribuir mesmo tudo de graça. A polícia ficou para depois. Ganharam mais um tempo e foram saindo de fininho.
Os desesperados vararam a madrugada ao som do pagode, do frevo e do axé. Continuou tudo em carnaval. A conta vai para eles mesmos, depois.
O problema é a ressaca e no dia seguinte ter que trabalhar para pagar a conta da festa no grande cabaré.
O pessoal foi se achegando ao redor do cabaré. Ouviram o som e a notícia da cachaça de graça. Os chefes chamaram o dono do cabaré e prometendo que iam pagar depois, penduraram a conta e mandaram distribuir mesmo tudo de graça. A polícia ficou para depois. Ganharam mais um tempo e foram saindo de fininho.
Os desesperados vararam a madrugada ao som do pagode, do frevo e do axé. Continuou tudo em carnaval. A conta vai para eles mesmos, depois.
O problema é a ressaca e no dia seguinte ter que trabalhar para pagar a conta da festa no grande cabaré.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
A festa dos desesperados II
A festa dos desesperados II
E o bolero, ao som deste a festa vai desenrolando. A polícia cerca já com algemas nas mãos, quer adentrar no recinto. A cantora rouca e desafinada tenta alçar a voz, não consegue. A orquestra latina ensaia uma quadrilha junina, o chefe, já não se aguentando de pé, solta impropérios.
Fingem que cantam, que se divertem, que são felizes. A luz vermelha piscando nos olhos confundem as mentes bêbadas, ora pensam que é a sirene do camburão, ou da ambulância ou da gang mesmo.
A cachaça e o rum já nem embriagam mais, as 'meninas' já não dançam nem encantam, uma festa de fim de feira.
Dali sairão para onde?
E o bolero, ao som deste a festa vai desenrolando. A polícia cerca já com algemas nas mãos, quer adentrar no recinto. A cantora rouca e desafinada tenta alçar a voz, não consegue. A orquestra latina ensaia uma quadrilha junina, o chefe, já não se aguentando de pé, solta impropérios.
Fingem que cantam, que se divertem, que são felizes. A luz vermelha piscando nos olhos confundem as mentes bêbadas, ora pensam que é a sirene do camburão, ou da ambulância ou da gang mesmo.
A cachaça e o rum já nem embriagam mais, as 'meninas' já não dançam nem encantam, uma festa de fim de feira.
Dali sairão para onde?
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
A festa dos desesperados
A festa dos desesperados
Como quem estivesse em iminência de ser preso ou degolado,
ou desempregado, juntou-se o grupo para uma festa. Uma grande festa para
mostrar normalidade. Dessas festas de encher os olhos e ser comentada pelo
bairro, e encher os salões de manicure com conversas e mais conversas.
Prostitutas de luxo e outras até banais, luz vermelha como
nos melhores cabarés de Jorge Amado, palco vermelho, olhos vermelhos. Risos
frouxos, gargalhadas como anteparos do medo. Bandeirolas vermelhas.
Uma cantora, como uma travesti, destoava entre roucas
palavras, outras vezes amaciava em falsete. Tudo era falso, até o brilho da
noite tenebrosa.
Chamem os incautos, os bêbados, as catitas, os que acham que
essa luz é melhor que o amanhã. Comam, bebam, requebrem, cantem, pois é o
melhor que conseguiram e amanhã podem perder.
A orquestra de doze tocava suas músicas caribenhas e a
rouca, entre caras e bocas, se esforçava para agradar.
A festa dos desesperados espichava a noite para que não acabasse.
Cachaça para as mesas mais afastadas da diretoria, rum para a mais perto,
whisky se chegando e na mesa central puro malte importado.
Ao som desse bolero...
sábado, 11 de outubro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Aos sacerdotes, por Adriana Morais
Aos sacerdotes
Em um mundo tão conturbado, onde
acontecimentos diários nos fazem pensar que não há mais solução, a fé muitas
vezes fica abalada. Nesse momento busca-se Deus, contudo, eu me pergunto se as
pessoas encontrarão esse alento, essa fonte renovadora da fé em nossas igrejas.
Tenho receio dos rumos que a igreja segue enquanto seus representantes pensam e
agem de forma totalmente distorcida do que Jesus Cristo nos pede. Pensando nisso,
resolvo escrever a vocês padres e seminaristas.
Senhores sacerdotes, seres
humanos como todos os outros filhos de Deus, saibam que quando entramos em uma
igreja e participamos de uma celebração, queremos e precisamos nos sentir
acolhidos, afinal, estamos na casa de Deus e Ele é amor. Peço o favor de não
nos tratarem (“leigos”) como meros espectadores de suas homilias, não nos
tratem como se não soubéssemos ou pudéssemos fazer nada pela igreja, pelo
Reino. Não nos impeçam de atuar na construção deste Reino;
Não se coloquem acima dos outros
como se fossem melhores ou vão caminhar sozinhos, andem lado a lado com o povo,
assim como Jesus Cristo o fez.
Busquem ser instrumento
verdadeiro de vida, que suas palavras sejam expressão fiel de seus atos, não
precisam ser santos, mas que vivam conforme aquilo que vocês professam durante
a missa, pois, o Evangelho serve de orientação para nós e para vocês também.
Não virem as costas para o
sofrimento das pessoas, não façam das angústias, medos e dúvidas delas uma forma
de vocês mudarem de vida. Pelo contrário, acolham o sofrer do povo como sendo
de vocês, lutem, busquem, acreditem e estimulem. Pensem sempre que Deus se faz
presente na pessoa do próximo, então procurem sempre Jesus naqueles que se
aproximam e ou convivem ao seu redor.
Lembrem sempre que vocês são
referência para todos aqueles e aquelas que acreditam em Deus, que acreditam e
querem um mundo melhor. Então, que o trabalho de vocês seja de orientar e
caminhar como povo de Deus, do qual vocês também fazem parte, para que o Reino
aconteça entre nós. Não façam de suas homilias instrumento de vingança e
separação, mas que sejam momentos de fazer brotar a consciência, o amor, o
respeito, a fé. Que seus ensinamentos sejam inspirados por nosso Senhor Jesus
Cristo, afinal, é a Ele que vocês “representam”.
Lembrem que o principal é Jesus
Cristo, permitam que Ele apareça e não busquem, à custa d´Ele, se promover.
Vocês sabem que isso é errado.
Não vejam a igreja apenas como um
templo de pedras, que ela seja mais ampla, que ela seja refletida em cada
membro que dela participa e, com isso, chegue até aqueles que não acharam o
caminho.
Precisamos de sacerdotes que
queiram de verdade fazer o bem, cumprir a palavra de Deus, realizar realmente o
compromisso que assumiram para com Ele.
Aos seminaristas, futuros
sacerdotes, peço de coração, que sua vocação seja autêntica, verdadeira, que
não façam dessa decisão um meio de se promover ou sustentar. Não olhem para o
sacerdócio como “meio de vida”, não pensem em como tirar proveito da bondade
dos outros, e sim, como poderão ser sinal de bondade e justiça na vida das
pessoas.
O mundo precisa de pessoas
comprometidas e verdadeiras. Os filhos de Deus, que são confiados a vocês
esperam encontrar em vocês a acolhida e o companheirismo sério e justo para
continuarem acreditando que Deus está entre nós.
Permitam que o Deus da vida os
ilumine e os guie sempre.
Adriana Morais
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Filmes que você deve assistir antes de morrer
Filmes que você deve assistir antes de morrer:
O Grande Hotel
BUDAPESTE
Lançamento
|
3 de julho de
2014 (1h40min)
|
Dirigido por
|
|
Com
|
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Gênero
|
|
Nacionalidade
|
No período entre as duas guerras mundiais, o famoso gerente de um hotel
europeu conhece um jovem empregado e os dois tornam-se melhores amigos. Entre
as aventuras vividas pelos dois, constam o roubo de um famoso quadro do
Renascimento, a batalha pela grande fortuna de uma família e as transformações
históricas durante a primeira metade do século XX.
O que chama a atenção do filme além do magnífico elenco é a narrativa
cinematográfica sem igual, original, de uma plasticidade incrível, resgatando o
cinema pelo cinema.
Título original
|
The Grand Budapest Hotel
|
-
|
||
...........................................................
A Pele que Habito 93
·
Lançamento
|
4 de novembro
de 2011 (1h57min)
|
Dirigido por
|
|
Com
|
|
Gênero
|
|
Nacionalidade
|
Sinopse e detalhes
Roberto Ledgard (Antonio Banderas) é um conceituado cirurgião plástico, que
vive com a filha Norma (Bianca Suárez). Ela possui problemas psicológicos
causados pela morte da mãe, que teve o corpo inteiramente queimado após um
acidente de carro e, ao ver sua imagem refletida na janela, se suicidou. O
médico de Norma acredita que esteja na hora dela tentar a socialização com
outras pessoas e, com isso, incentiva que Roberto a leve para sair. Pai e filha
vão juntos a um casamento, onde ela conhece Vicente (Jan Cornet). Eles vão até
o jardim da mansão, onde Vicente a estupra. A situação gera um grande trauma em
Norma, que passa a acreditar que seu pai a violentou, já que foi ele quem a
encontrou desacordada. A partir de então Roberto elabora um plano para se
vingar do estuprador.
Obra prima de Almodóvar.
O filme nos leva a uma reflexão profunda sobre os nossos relacionamentos
interiores e a aparência, sobre o domínio e o poder sobre o outro,
especialmente sobre a imagem exterior e interior. Narrado com suspense digno do
mestre.
Título original
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La piel que habito
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Ano de produção
|
-
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quarta-feira, 20 de agosto de 2014
A fragilidade da vida
A fragilidade da vida
Embora vivamos mergulhados em vida, pois o universo respira
vida, há que se sentir como ela é frágil.
Trêmula, leve e fugaz qual uma chama por entre o vento, a
alegria e a solidão, a vida passageira insiste em si mesma. Às vezes a tempestade
leva o sopro e a vida se esvai abruptamente, deixando órfãos de esperança uma
família ou mesmo um povo inteiro.
Dolorosa a interrupção da vida, a saudade, o que se poderia
ter sido.
Em meio à fragilidade há que se elaborar o luto e dele tirar
forças para se constatar que a última palavra não é a da morte; por mais frágil
que seja, a Vida tem a última palavra, a última para ser a primeira.
A vida sobrevive nos pedaços das recordações amorosas de
quem fica e na memória afetiva de quem parte. Fica nos gestos, no carinho, na
perseverança. Fica na certeza que o Criador não nos fez para a morte, mas para
que tenhamos vida e Vida plena.
Na fragilidade é que a beleza e a fortaleza se manifesta.
O mistério não se mostra todo mas deixa antever como
fímbrias de luz em meio à escuridão, a certeza da plenitude da vida, sua
eternidade e sua plenitude, onde não há tempo nem dor, apenas luz e felicidade.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Luto por Pernambuco
Luto por Pernambuco
Algumas imagens valem muitas palavras, especialmente quando não conseguimos, ainda, elaborar o luto nosso de cada dia, e de um povo especial como é o pernambucano.
imagens de obras do Instituo Brennand
Algumas imagens valem muitas palavras, especialmente quando não conseguimos, ainda, elaborar o luto nosso de cada dia, e de um povo especial como é o pernambucano.
imagens de obras do Instituo Brennand
domingo, 10 de agosto de 2014
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
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