Jesus e as forças do Mal
Tempos tenebrosos esses que estamos vivendo.
Parece que as forças do Mal estão atuando em todos os lugares. Força a gente
não vê, apenas percebe, pelos seus efeitos que aparecem nas coisas, nas
pessoas, nas instituições e nas nações. Longe do maniqueísmo fácil, mas há
forças boas e as más, as quais chamamos biofílicas e necrofílicas, nesta ordem.
Jesus conhecia bem essas forças. Sendo Deus e
verdadeiro homem, mas esvaziando-se totalmente da sua condição divina, Ele
experimentou em si a ação dessas forças. As tentações do deserto são na verdade
o aprofundamento, como uma análise, das forças maléficas que tentavam o induzir
para uma postura de poder e domínio sobre as pessoas e nações, sobre toda a
matéria, sobre todas as consciências, como um poder supremo que subjugasse a
tudo e a todos. A tentação do poder para
a autoglorificação. Essa é a atuação de uma força necrofílica que leva
invariavelmente à idolatria e à morte. É evidente que Jesus a partir do
conhecimento, da oração e da prática da caridade (Amor) superou com grande
sacrifício essa ‘tentação’ tão peculiar a todos os humanos.
Outro tipo de força é a biofílica, aquela que leva
ao cuidado com a Vida. A vida em todos os níveis, biológico, psicológico e
espiritual. Essa força gera poder também, porém um poder que conduz à elevação
do outro, à estruturação do coletivo, à transformação de uma realidade de morte
em experiência de Vida.
No tempo de Jesus as forças do Mal geraram
exploração dos pobres, uma casta de políticos e religiosos que viviam
nababescamente, uma hierarquização de poder e prestígio como se fossem deuses
os detentores delas. O grande confronto de Jesus, o grande exorcismo que Ele
realizou e ainda realiza é contra o poder do Mal, que está na natureza humana
assim como o Bem está. O joio e o trigo juntos no mesmo terreno. O que vemos
hoje é a exacerbação dessas forças malignas visíveis através da corrupção, da
violência, da idolatria ao dinheiro e à luxúria.
Engana-se quem pensa que Jesus veio trazer uma
nova religião ou uma série de preceitos e rituais e orações mágicas que
garantissem uma entrada no céu. Ele veio mostrar que a partir de uma
conscientização à vontade do Pai a força vital, que vive em cada um de nós,
pode se manifestar e vencer as forças negativas, e transformar a cada um em uma
manifestação do Espírito dele que atua na promoção da Vida, mudando as pessoas
e as estruturas, para que a sociedade (Reino) querida pelo Pai finalmente seja
uma realidade perene.
O Mal gera dor, sofrimento e morte. É muito mais
complexo que aquelas manifestações artísticas medievais onde aparece com
chifres, vermelho e rabo pontiagudo, envolto em fogo e enxofre. O Mal muitas
vezes se apresenta belo, sedutor, desejável, capaz de despertar emoções
intensas e profundas. Cheira a perfumes raros, a carros importados, a contas no
paraíso, mas paraísos fiscais... Pode seduzir uma nação inteira, mas o preço
que ele cobra ao final é a morte. Morte insidiosa através de salários parcos e
atrasados, de medicamentos que faltam, de aposentadorias tardias e inatingíveis,
de balas, de drogas, de apatia mergulhada na ignorância crônica.
Jesus venceu a morte. Resta saber a opção que
fazemos como pessoas e como nação, cultivar e perpetuar essas nuvens tenebrosas
ou limpar o horizonte para que nos venha a claridade de um novo dia.
Assuero Gomes
Cristão, católico, leigo da Arquidiocese de Olinda
e Recife
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