Jesus foi
solidário, e é ainda, e será eternamente.
A solidariedade é
o contrário da solidão. A solidão é na verdade, um dos sofrimentos mais
terríveis que o ser humano pode sentir. A solidariedade transporta você para
junto do outro. Quando se está junto, dividimos nossas preocupações e nossos
problemas, é como se trocássemos os pesos nossos de cada dia por um pedaço
fraterno de pão.
A solidariedade
nos torna mais humanos, e quando somos mais humanos, mais nos aproximamos
deDeus.
Fomos feitos à
imagem e semelhança de Deus, e o Pecado deformou essa imagem, no entanto,
Jesus, solidário com nossa natureza humana, se tornou como um de nós, e nos
ensinou o caminho de regresso ao convívio amoroso do Pai.
Só chegamos ao
Pai, se formos todos juntos como irmãos verdadeiros. É a solidariedade que nos
torna irmãos.
Maria foi
solidária todo o tempo. Com sua família, com suas amigas, com sua pequena
comunidade de Nazaré, com os amigos de Jesus e finalmente com todos os que
fazem a verdadeira Igreja/comunidade de fé.
Notou que sem
solidariedade nos afastamos de Deus Pai, de Jesus, de Maria, da Igreja, de
nossos irmãos e irmãs, e ainda nos tornamos menos humanos?
Uma santa e um
santo, comuns como nós, que foram se descobrindo cada vez mais humanos e cristãos
através da solidariedade para com os pobres e miseráveis, foram Luísa de
Marillac e Vicente de Paulo, tão conhecidos de nossa comunidade. Eles nos deram
exemplos concretos de solidariedade, e através dos tempos mudaram a vida de
milhões de pessoas, mostrando a verdadeira face de Cristo no meio de nós.
Uma das maiores contradições da
religião cristã, de denominação católica apostólica, do rito romano, é a
pouquíssima freqüência dos seus seguidores à celebração eucarística. Imagino
que, se apenas 10% de todos os batizados participassem dela, não haveria nem
templos nem espaço para tanta gente. Merece um aprofundamento essa questão que
me parece crucial, tendo em vista ser a refeição eucarística o núcleo vital da
nossa vida pessoal, eclesial, espiritual e missionária. Hoje, no entanto,
gostaria de deter-me em outra questão, também vital, e que é como um
“escândalo” para nossa Igreja, ou deveria sê-lo: dos raros cristãos e cristãs
que vão à celebração, menos, muito menos da metade, participam da refeição
propriamente dita.
A missa, como comumente é
chamada, consiste basicamente de dois momentos: a partilha da palavra e a
partilha da carne e do sangue de Jesus. Toda a cerimônia se inicia com o ato
penitencial, onde individual e comunitariamente se pede perdão a Deus pelas
faltas cometidas e se recebe o perdão através desses ritos iniciais. Este
perdão é sacramental. Penso que a grande maioria de nós católicos e católicas
não acredita nesse perdão ou não o valorizam, pois, continuo pensando, não nos
aproximamos da mesa eucarística para receber o pão e o vinho consagrados, por
pensarmos não estarmos `purificados´ pelas faltas que cometemos no dia a dia de
nossas vidas. Devido a uma catequese errada que recebemos desde a infância,
onde se valoriza sobremaneira o Deus que castiga, o pecado, a tentação, o
inferno em detrimento ao Pai misericordioso, ao Filho que já sofreu por nós
tudo o que deveríamos ter sofrido, à graça plena e abundante do Espírito, ao
perdão amoroso, ao paraíso que deveríamos já estar vivenciando, ali na presença
viva de Jesus.
Outra coisa muito importante que
devemos ter sempre consciência, como cristãos e cristãs adultos que somos, é
que a instituição não é a proprietária da eucaristia, no máximo é a
depositária, da qual deveria ser uma depositária fiel, e tantas vezes foi tão
infiel, tal qual a esposa de Oséias (lembrem-se da Inquisição, da invasão e
destruição dos povos nativos das Américas, da bênção sobre a escravatura, e
tantas outras infidelidades a Cristo).
Para Jesus, para o cristão e a
cristã, o nosso templo é o nosso coração. Nossa liturgia deve ser a do
samaritano, e nossa liberdade deve ser medida pela nossa consciência.
Quando participo da sagrada Eucaristia,
imagino que aquela mesa foi posta pelos pobres para toda humanidade, e Jesus
ali presente, de braços abertos, se oferecendo amorosamente para seus irmãos e
irmãs, chegando a sussurrar ao coração de cada um:
- Vinde benditos de meu Pai, para
a festa que está preparada para vós desde a eternidade. Podeis comungar !
INFORMATIEKCKLEINE COMPAGNIE OFFICIËLE MEDEDELINGEN VAN HET PROVINCIALAAT LAZARISTEN SEPTEMBER 2012 09/12 27 September, ST. VINCENT
Op het feest van de Verheffing van het Heilig Kruis 14 september 2003 werd door Jan Pubben en zuster
Maria Wanda in Recife een boekje uitgegeven met als titel Alegria de Servir.
Talrijke illustraties van Assuero Gomes tonen St.Vincent onder allerlei
omstandigheden. Zo was de heilige een creatieve en rijke, bijna onuit- puttelijke, persoonlijkheid. Voor de
gemeenschap van Dois Unidos, vastgelegd in woord en beeld.
Zo wordt hij gevierd over heel de wereld als de grote heilige van barmhartigheid en liefde voor de mensen,vooral voor hen die in nood zijn, maar ook als inspiratie en bemoediging voor hen die in zijn voetstappen willen treden.
Van maandag 17 tot zaterdag 22 september waren Chris Janssen en Vic Groetelaars op bezoek bij de Barmherzige Schwestern in Fulda.
Negen dagen voor het feest van St.Vincent, op 27 september, werd elke avond in een kort samenzijn het feest voorbereid.
De zusters behoren tot de federatie van congregaties die vooral in de 19e eeuw vanuit Strassbourg zijn gesticht. Bij de herbronning van hun levensorde hebben zij elkaar gevonden en bewaren zij samen de personen van Vincent en Louise de Marillac als een bron van voortdurende inspiratie. Ook wij vieren Vincent,die de wacht houdt voor het Missiehuis en die in de gang boven de deur,nog altijd de spreuk van de congregatie nog altijd duidelijk zichtbaar laat zijn:
Terremotos, vulcões, maremotos, a
Terra geme como em dores de parto. Guerras, extermínios, fome, peste, heresias,
apostasias, destruição, sinais no cosmos, infanticídio, pedofilia, corrupção,
roubo, assassinatos, tsunamis, drogas, a Terra emite sinais de exaustão e
revolta.
Muitos se perguntam se o fim do
mundo está às nossas portas.
Na teologia há um ramo de estudo
que chamamos de escatologia, e que trata exatamente do final dos tempos. Os
acontecimentos que ora presenciamos e nos angustiamos, na verdade sempre
existiram, talvez em menor grau, mas como vivemos num mundo midiático de
comunicação global em tempo real, tais eventos se apresentam mais terríveis
ainda.
Na escatologia cristã alguns
sinais são importantes. Através da leitura dos textos bíblicos, iluminados pela
experiência pascal (encontro com o Ressuscitado) podemos concluir algumas
coisas. Fica evidente que Jesus anunciou estes sinais cósmicos como
premonitórios da escatologia, seguindo a linha profética e apocalíptica do seu povo
judeu. Muito provavelmente tomou conhecimento e quiçá presenciou a destruição
de Séforis, capital administrativa e centro cultural da Galileia, quando tinha
em torno de 9 anos de idade (ficava a 7 km de Nazaré), que ficou marcada no seu
inconsciente (a cidade foi destruída pelos romanos após um levante contra sua
dominação). A pregação de Jesus, escrita somente após décadas de sua
ressurreição, pelos evangelistas, teve influência da brutal destruição de
Jerusalém pelos mesmos romanos no ano 70.
Há alguns sinais mais precisos,
no entanto, que sinalizam para o “temido” final do mundo. Três me parecem
fundamentais: o primeiro é quando todos os povos da terra tiverem ouvido a
pregação cristã. No momento atual, talvez restem uns poucos habitantes da
floresta amazônica, que estão neste grupo. O segundo é a (re)fundação do Estado
de Israel em 14 de maio de 1948.
O terceiro, e mais fundamental de
todos, seria o reconhecimento por parte dos filhos de Israel que Jesus é o
Messias esperado.
Precisamos entender também a
cosmovisão do Povo de Deus na época histórica de Jesus: a Terra seria como uma
grande bandeja sobre o mar. Este por sua vez seria o habitat dos monstros
infernais, o grande abismo. A Terra teria sobre si como uma abóboda de vidro,
aliás, em sete camadas (daí sétimo céu) donde os astros celestes estariam
dependurados (sol, estrelas, cometas, lua, etc...). Deus estaria como que
sentado no seu trono acima da mais alta das camadas celestiais. Haveria ainda
uma escada (a do sonho de Jacó) que ligaria a Terra aos céus.
Jesus reiterou algumas vezes sua
segunda vinda (parusia), desta vez definitiva e em sua plenitude de glória.
Aqui se fundem várias opiniões que tendem a juntar todos esses acontecimentos
num só momento, predito já pelos antigos profetas de Israel e assumido até os
dias de hoje por várias correntes do pensamento teológico. Seria o Dia do
Senhor, o Dia de Yahweh , onde e quando dar-se-ia o Juízo Final, o Julgamento
Final, e assim por diante.
Uma certeza, porém, é radical (de
raiz) para os que praticam os ensinamentos de Cristo (seguidores ou não de
alguma religião): o mundo tal como o percebemos hoje será transformado num novo
céu e numa nova terra (outra dimensão?), onde o relacionamento de Deus e os
seres humanos e todas as criaturas será pleno, pacífico, feliz, sem dor de
qualquer natureza, sem morte, sem choro, em pleno convívio com o Criador. Um
tempo de Amor manifesto e eterno.
"Isto é
o meu corpo" - quantos de nós, Senhor, admitimos ser chamados de
"isto"?...
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Há terra
suficiente para todos, assim como há alimento para todos. Mas, enquanto o
homem colocar o lucro como seu objetivo fundamental, não escaparemos jamais de
absurdos gritantes como a superprodução de um lado, e a subnutrição de outro.
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Que nenhum
problema de nenhum povo lhe seja indiferente. Vibre com as alegrias e esperanças
de qualquer grupo humano. Adote como seus os sofrimentos e humilhações de seus
irmãos de humanidade.
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Seja qual for
sua condição de vida, pense em si e nos seus, mas torne-se incapaz de
fechar-se no círculo
estreito de sua pequena família. Adote de vez, a família humana.
Hoje, 17 de agosto de 2012, na Sé de Olinda, procedemos à
exumação dos restos mortais de D. Helder. Manhã fria e chuvosa de agosto.
Depois de praticamente treze anos sepultado no chão dessa
igreja, seus restos mortais repousarão ao lado dos de D. Lamartine, bispo irmão
que o auxiliou no pastoreio da Arquidiocese de Olinda e Recife e dos de Pe.
Henrique, mártir da ditadura que se instalou no nosso país a partir de 1964.
Envolta em seu caixão ainda restava a bandeira do Movimento
dos Sem Terra, intacta, na época, um símbolo da luta de camponeses em busca de
um pedaço de terra para plantar e sobreviver com suas famílias. Lembro-me do
dia do enterro.
Confesso que nutria em meu íntimo a esperança de que o corpo
dele estivesse intacto também, tal qual a bandeira, pois no meu pensamento isso
seria um sinal poderoso para a Igreja, de que o Dom é um santo e como tal, tudo
que ele lutara e escrevera e sinalizara teria que ser aceito oficialmente.
Ledo engano. Mais uma vez o profeta surpreende! Mais uma vez
ele nos mostra que os pobres é que são os profetas de Deus.
Lentamente ele nos vai ensinando sua última lição, ou seria
a primeira na vida plena? Não importa, é uma lição importante, um ensinamento
para nós e para nossa Igreja: tudo passa, prestígio, glória, cargos, poder.
Tudo é pó e ao pó tudo retorna. Outro ensinamento: os pobres são os
destinatários primeiros da boa nova do Ressuscitado, pois só Ele é quem saiu do
túmulo com vida, e vida plena.
Pouco a pouco a morte vai mostrando aos olhos humanos o
estrago que causa, mesmo nas pessoas mais especiais e queridas. O som lúgubre,
oco, de saudade, destampa as lajes do chão da Sé. Outra surpresa, o Dom foi
sepultado como os leigos o são, com a cabeça voltada para a porta, e não ao
contrário, como os clérigos. O que o desgaste da morte não mostra é o que os
olhos da fé iluminam, como uma luz vinda do alto a nos perguntar: por que
procuram o vivo dentre os mortos?
A resposta veio-me algumas horas após. Saindo dali, deu-se à
luz uma criança, nos meus braços, saudável, chorando forte a plenos pulmões,
inspirando e expirando o sopro da vida, o pneuma que a tudo anima.
Certamente mais um sinal do Dom, ensinando que a vida é
eterna.
Os sonhos e as cirandas são para
ser vividos e celebrados. Os `sonhos sonhos são´, e serão tanto mais belos
quanto mais altos e mais profundos, até tocarem o chão por onde caminham os pés
desnudos e calejados.
Os sonhos existem para serem
sonhados e dançados como as cirandas, sem donos, sem orquestras nem maestros,
de mãos dadas, à beira-mar, ao som do vento e do balbucio dos coqueiros, no
ritmo das ondas. Serão findos, mas infinitos enquanto mudam a realidade de dor
e sofrimento; enquanto são ternura e acalanto, e terão existido mostrando que
uma realidade mais próxima de Deus é possível.
As cirandas são efêmeras como os
desenhos que fazemos na areia da praia, mas a felicidade que proporcionam é
eterna no coração de quem as ouvem e as dançam; assim a comida. Sacia no
momento. Teremos fome mais tarde, mas a plenitude da saciedade é graça, é dom,
é infinita. Deixa saudade, deixa memória, deixa presença.
Talvez seja este o último número
deste jornal. Talvez não. Sinalizamos que é possível se fazer presente no
presente do pobre faminto. Sinalizamos que é possível tornar concreto o
Evangelho e a Eucaristia. Mostramos também como é frágil e limitada nossa fé.
Somente por muito amor, muito amor, os pobres nos permitiram oferecer
estes alimentos nestes quatro anos, e somente por sua misericórdia, sua
profunda misericórdia, nos perdoarão por não podermos mais continuar.
Fev.2008 quando da despedida do restaurante do Dom da Partilha
Esta entrevista, foi concedida pelo cantor e
compositor Chico Buarque de Hollanda, a Assuero Gomes, integrante do Grupo de
Leigos católicos Igreja Nova, quando de sua visita a Dom Helder, no dia 16 de
julho.
Igreja Nova - Chico, qual a lembrança mais interessante que
você tem, em relação a Dom Helder Câmara?
Chico Buarque - Todo mundo sabia que não se podia falar em Dom
Helder. Eu não era muito querido também não, mas podia fazer meus shows. Eu
vim aqui fazer um show no Geraldão, o show estava indo e tinham me falado que
Dom Helder estava lá assistindo. O show estava indo mais ou menos morno, uma
música e outra, aí eu falei: "eu queria anunciar e agradecer a presença
de Dom Helder Câmara. Eu nunca fui tão aplaudido na minha vida. Aquele
ginásio veio abaixo. Foi uma coisa linda. Isso foi em setenta e pouquinhos...
setenta e dois, setenta três.
Zezita - Sempre que você fez shows aqui, Dom Helder foi
aos seus shows.
C.B. - Sempre. Das outras vezes eram shows mais
tranqüilos. Desse, eu me lembro especialmente por causa disso. O nome dele
estava inteiramente vetado, me disseram que ele estava lá, mas era segredo. E
quando eu falei, o ginásio inteiro, todo mundo levantou, aplaudiu. Foi o meu
maior sucesso. (risos)
I.N. - O que Dom Helder representa para você?
C.B. - Bom, para mim e para o Brasil inteiro , Dom
Helder é um símbolo de luta pela justiça social. Se a gente se lembra dele no
Rio de Janeiro, ainda no tempo da Favela do Pinto, nos anos sessenta, a
atividade dele lá, deixou marcas até hoje. E mais adiante um símbolo de luta
também, pela liberdade, pela democracia na época da ditadura, onde ele era
uma das pessoas mais visadas, mais cerceadas, mais vigiadas e mais
perseguidas. Eu conheço Dom Helder pessoalmente, desta época e tenho uma
admiração profunda por ele. Eu e todos os brasileiros temos uma dívida muito
grande para com ele.
I.N. - Você que sempre foi o nosso ícone de luta por
uma situação melhor para o país, falando em linguagem de igreja, da
"denúncia profética", o que é que você espera do Brasil para o
futuro, já que, em nossa opinião, Fernando Henrique foi um grande fiasco?
C.B. - Bom. já que estamos falando a linguagem de
igreja, vou citar Dom Mauro Morelli que diz que preferia Fernando Henrique
quando ele era ateu. (risos)
Eu acho isso ótimo. Enfim, eu já não tinha grandes esperanças desde o
primeiro governo de Fernando Henrique. Achava que essa aliança que o PSDB
estabeleceu com o PFL, era perigosa e no fim das contas, se revelou mais
perigosa do que eu imaginava, porque no governo, numa aliança de liberais e
social-democratas, não sobrou para a social-democracia. E parece que a
necessidade de afirmar essa aliança e de renegar o passado, falou mais alto.
Enfim, nós temos aí mais três anos de espera, não sei bem do quê. Vamos
pensar em 2002
Não passaram pela Terra pessoas
que pensaram mais nos outros que em si própria, nem passaram pela Terra pessoas
que acreditaram visceralmente na palavra de Cristo mais que nas suas próprias
convicções, nem que se deram sem limites para que os mais necessitados tivessem
alguma chance.
Não passaram por este tempo da
história pessoas que encontraram sua razão de ser na vida dos pobres, nem que
se esvaziaram a si mesmas para que pudesse nascer e crescer a fraternidade
entre as pessoas e os povos. Estas pessoas não passaram por nós. Estas pessoas
não passaram.
Estas pessoas estão conosco,
estão na Terra e na história para sempre. Estão além do tempo e do espaço, além
da lembrança e da gratidão. Estão inseridas no Amor, que a tudo contempla e
plenifica.
É difícil, para algumas gerações
incrédulas, acreditarem que pessoas assim existam. Para estas gerações, tais
pessoas habitam no imaginário, nas lendas e nos contos sacros e piedosos. Não
imaginam que suaram, sangraram, verteram esperanças e consolo por todo o seu
caminhar. É Francisco, é Vicente de Paulo, é Helder Câmara e tantos outros.
O eterno Dom de Olinda e Recife
perpetua-se nas suas obras e inspirações. Patrimônio humano, do sagrado e do
social, continua gerando atitudes e ações em prol dos mais necessitados, dos
injustiçados, dos renegados, dos órfãos da sociedade.
Com a aproximação do
centenário de nascimento de Dom Helder Camara em fevereiro próximo e o afã de
seus admiradores e outros ligados à estrutura da Igreja em prestar-lhe uma
justa homenagem, me vêm à mente duas coisas: a primeira é a parábola dos
trabalhadores de última hora e a segunda é um pensamento de Padre Arnaldo
Cabral.
Na parábola
identificamos o pai de família que vai buscar trabalhadores para sua vinha na
praça da cidade. Contrata-os por uma diária estipulada para a época (1 denário)
e à medida que o dia vai passando ele retorna à praça e vai chamando os
desempregados e a todos dá o mesmo pagamento, mesmo com diferenças
gritantes de horários de trabalho.
Em analogia vejo o
IDHeC (Instituto Dom Helder Camara) como os trabalhadores de primeira hora,
aqueles que sempre estiveram ao lado do nosso arcebispo nos momentos mais
tenebrosos quando era perigoso e maldito estar junto de um profeta “chamado”
vermelho.
A CNBB seria os
trabalhadores de segunda hora: entidade idealizada e fundada pelo próprio Dom,
para dar mais autonomia e liberdade aos nossos bispos e principalmente uma
maior resolutividade aos problemas gritantes do Povo de Deus.
A Arquidiocese de
Olinda e Recife seria os trabalhadores da undécima hora (última hora).
A parábola segue
contando que muitos são chamados...
Dom Helder no seu
espírito imenso e imerso na generosidade e misericórdia de Deus, certamente
ficará feliz e agradecido por toda e qualquer manifestação em memória de seu trabalho,
no espaço de tempo que o Senhor lhe permitiu. Ficará um pouco constrangido com
as loas à sua pessoa, mas as perdoará, pois terão sido manifestações, as
sinceras, do carinho de intelectuais, dirigentes, assessores, funcionários. Não
julgará intenções, pois seu coração infantil não conjuga este verbo.
Apreciará, sem dúvida,
celebrações da santa missa, celebrações ecumênicas, manifestações culturais,
livros, artigos, memoriais, procissões, simpósios, semanas, jornadas, cultos,
seminários, etc.
Nada dirá, no entanto,
pois seu espírito nunca foi esse, sobre o esquecimento dos trabalhadores de
todas as horas, acerca dos Pobres. Sua fome e sua miséria. Seu
subdesenvolvimento, seu perambular nas ruas e calçadas, desnudos e sedentos.
Suas prisões sem visita. Ficará triste e pedirá ao Pai, “perdoe-lhes, eles não
sabem o que fazem”.
A segunda coisa que me
veio à mente, foi o pensamento de Padre Arnaldo Cabral, que certa vez o
expressou na frente do Dom com os padres de nossa arquidiocese naquele tempo “o
problema, Dom Helder, é que todos nós o admiramos, mas nenhum de nós o imita”.
E a parábola em dado momento diz: ... encontrou ainda outros que estavam
desocupados, aos quais disse: Por que permaneceis aí o dia inteiro sem
trabalhar? – É, disseram eles, que ninguém nos contratou. Ele então lhes disse:
Ide vós também para a minha vinha.
Talvez nossa Igreja
demore mais cem anos para dimensionar, com justiça, o homem e sua obra, a obra
que Deus realizou no seu povo através dele. Certamente Olinda e Recife, como
cidades impenitentes que são, não mereceram Dom Helder. Continuam sem merecer,
pois excluindo os Pobres e negando-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus,
se dizem cristãs. O Dom se alegrará mais com cada copo d´água oferecido a um
destes pequeninos...