Podeis comungar!
Uma das maiores contradições da
religião cristã, de denominação católica apostólica, do rito romano, é a
pouquíssima freqüência dos seus seguidores à celebração eucarística. Imagino
que, se apenas 10% de todos os batizados participassem dela, não haveria nem
templos nem espaço para tanta gente. Merece um aprofundamento essa questão que
me parece crucial, tendo em vista ser a refeição eucarística o núcleo vital da
nossa vida pessoal, eclesial, espiritual e missionária. Hoje, no entanto,
gostaria de deter-me em outra questão, também vital, e que é como um
“escândalo” para nossa Igreja, ou deveria sê-lo: dos raros cristãos e cristãs
que vão à celebração, menos, muito menos da metade, participam da refeição
propriamente dita.
A missa, como comumente é
chamada, consiste basicamente de dois momentos: a partilha da palavra e a
partilha da carne e do sangue de Jesus. Toda a cerimônia se inicia com o ato
penitencial, onde individual e comunitariamente se pede perdão a Deus pelas
faltas cometidas e se recebe o perdão através desses ritos iniciais. Este
perdão é sacramental. Penso que a grande maioria de nós católicos e católicas
não acredita nesse perdão ou não o valorizam, pois, continuo pensando, não nos
aproximamos da mesa eucarística para receber o pão e o vinho consagrados, por
pensarmos não estarmos `purificados´ pelas faltas que cometemos no dia a dia de
nossas vidas. Devido a uma catequese errada que recebemos desde a infância,
onde se valoriza sobremaneira o Deus que castiga, o pecado, a tentação, o
inferno em detrimento ao Pai misericordioso, ao Filho que já sofreu por nós
tudo o que deveríamos ter sofrido, à graça plena e abundante do Espírito, ao
perdão amoroso, ao paraíso que deveríamos já estar vivenciando, ali na presença
viva de Jesus.
Outra coisa muito importante que
devemos ter sempre consciência, como cristãos e cristãs adultos que somos, é
que a instituição não é a proprietária da eucaristia, no máximo é a
depositária, da qual deveria ser uma depositária fiel, e tantas vezes foi tão
infiel, tal qual a esposa de Oséias (lembrem-se da Inquisição, da invasão e
destruição dos povos nativos das Américas, da bênção sobre a escravatura, e
tantas outras infidelidades a Cristo).
Para Jesus, para o cristão e a
cristã, o nosso templo é o nosso coração. Nossa liturgia deve ser a do
samaritano, e nossa liberdade deve ser medida pela nossa consciência.
Quando participo da sagrada Eucaristia,
imagino que aquela mesa foi posta pelos pobres para toda humanidade, e Jesus
ali presente, de braços abertos, se oferecendo amorosamente para seus irmãos e
irmãs, chegando a sussurrar ao coração de cada um:
- Vinde benditos de meu Pai, para
a festa que está preparada para vós desde a eternidade. Podeis comungar !
Assuero Gomes
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