Recife, 15 de maio de 2014
Publiquei esse texto em 2008. Em 2014 as coisas não mudaram, em alguns aspectos até pioraram.
A Cidade de Lynch revisitada
A saudade
verteu em meu
coração um
pouco de nostalgia .
Deparei-me de repente
com uma visão
desesperada e silenciosa , que gritava na sua
imagem mais
que mil
gritos : como
corpos cobertos
em sacos
de lixo , plantados na areia da praia ,
assim como
se o mar os houvesse vomitado, mas o mar não aceitava estes
corpos , pois náufragos foram de uma cidade
violenta e nada
tinham a ver com
o mar , belo
mar de uma orla
que fora
lúdica e gentil
em tempos
passados .
Contradição de sentimentos cívicos, como
cidadãos do medo que se tornaram, nesta Gotham City sombria, sem heróis,
inquiri-os sobre seus sentimentos. Medo. Mais medo. Insegurança. Aprovam quando
a polícia mata sem julgamento, porém na sua contradição, a maioria não confia
nesta polícia.
Na melhor
tradição do capitão
Willian Lynch passaram a matar , eles mesmos , os
assaltantes, com o beneplácito
e a cumplicidade da população .
Estranha cidade
a qual esta se transformou. Não há mais quase ninguém à
noite , a brisa
do mar que
o poeta cantava e seus
lampiões , já
não há. Mosquitos
infectados rondam a miséria . Pululam crianças nos semáforos exibindo a degradação
social , enquanto
nas publicações e cartazes se alardeia a
melhoria de vida da população .
A periferia
que dormita, quase
inerte , a catar
restos de latinhas de alumínio e a vender suas drogas aos
mais abastados ,
sangra uma cidade que
carece de esperança . Sangra-lhe a garganta com cacos de vidro ,
em cada
moto , um
sobressalto , em
cada saída
o regresso duvidoso .
Assuero Gomes
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