Ivone Gebara, José Augusto, Comblin, Arnaldo
Arnaldo Cabral, um
padre, um amigo e mestre.
Por que não esperaste por novembro, meu amigo? Teu
mês é novembro, como o verão, como o mar que miras do Seminário de Olinda,
desde que te encantaste e te tornaste em coqueiro de alvas folhas em palmas,
guardião daquela casa e daquele mar. Pudesse eu te reter aqui colocaria no
frontispício dessa casa: “Aqui mora eternamente Padre Arnaldo Cabral”.
Certamente a Matriz do Espinheiro ficaria com ciúmes, mas aquele que tem um
coração tão grande caberia morar também naquela igreja.
Agora não importam os novembros que passarás longe
de nós, nem importa mais contar os anos de uma longeva vida dedicada à Igreja.
Agora estás fora das garras e amarras do tempo, da dor, do envelhecimento, da
limitação. Só uma mente privilegiada como a tua superada apenas por um coração
de graviola (tu bem sabes a que me refiro) de um imenso amor, é onde habita
neste instante eterno, no recôndito do Altíssimo.
Que mistério tiveste em esconder dos mais
afastados teu espírito afável e teu humor refinado, envolvendo-te numa capa
austera de implacável autocontrole, capa esta que desvencilhada pela amizade
dos que te são eternamente próximos logo mostrava um coração doce, uma amizade
sincera e uma admiração cada vez maior e mais profunda.
Tanto serviço serviste a essa Igreja desde longas
homilias que fazem falta até hoje, à formação de jovens seminaristas amedrontados
nas primeiras aulas com a severidade do professor e diretor espiritual que
depois se tornaram homens de bem, e aqueles que perseveraram espalharam
conhecimento e dedicação como padres , foste mestre de bispos e muito mais,
mestre de admiradores.
Já estás entre teus amigos e irmãos, Marcelo
Carvalheira, Miguel Valverde, Antonio Morais, Carlos Coelho, Lamartine, Helder
Camara, Pe. Henrique, Comblin, teu pai e tua mãe, e entre teus pobres, meninos
de rua do Espinheiro. O Projeto Salvação, o Cursilho de Cristandade, Iter,
Serene II, o Dom da Partilha, e tanto e tanto mais que levas contigo na tua derradeira
bagagem.
Quanto aprendi de ti?! Especialmente a amar esta
Igreja e a conhecê-la melhor, a respeitar as nossas e as limitações dos outros,
a rir com as histórias dos bastidores eclesiásticos, do passado que em nós são
presente sempre. Aprendi e não segui teu rigor na austeridade consigo mesmo,
lembro com carinho de teu alívio quando D. Saburido te dispensou (devido à
idade e saúde) de rezares o breviário diariamente como obrigação e como ficaste
alegre com sua visita.
Hoje a Igreja de Olinda e Recife está mais pobre,
o Seminário a ser reconstruído, e a Matriz do Espinheiro mais triste. Tenho
pena daqueles que não vão te conhecer mais de perto. Não gostavas de escrever,
o dom maravilhoso da oratória fez tuas palavras ficarem guardadas nos nossos corações,
mas penso quando todos formos embora... isso eu falava muito contigo.
Acabo te pedindo perdão pela minha fraqueza de não
ter ido te visitar mais vezes nos últimos tempos: doía-me muito ver o
esquecimento turvar uma mente como a tua que admiro e admirarei sempre. O
discípulo fraco não absorveu tudo do mestre. Reze por mim e por todos nós, teus
amigos, alunos e admiradores, sempre!
Assuero
Gomes
Cristão católico leigo
da Arquidiocese de Olinda e Recife
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