Macunaíma funda um partido
Com o apoio dos trabalhadores e do sindicato e de parte da Igreja e de alguns intelectuais e de alguns artistas, e tendo vista grossa e condescendência das elites, especialmente do dono da siderúrgica e do banqueiro e dos militares e do delegado, finalmente embaixo de uma mangueira no pátio da igreja foi elaborado o estatuto do Partido de Macunaíma.
Nosso herói era analfabeto, tinha preguiça de estudar, nunca valorizou o estudo e até debochava de quem estudava. Os intelectuais que lho rodeavam começaram a ensinar e preparar suas falas.
Macunaíma não largava nem a cachaça nem a safadeza com mulheres, mas era inteligente e foi adquirindo um discurso, hoje chamaríamos de narrativa, de líder dos metalúrgicos, dos pobres, dos negros, dos índios, dos nortistas e dos nordestinos, das prostitutas, dos gays, das lésbicas e mais tarde das travestis e das trans que naquela época eram deveras excluídos e discriminados.
Naquela época o pai dos pobres não flertava com empreiteiros e construtores, porém tinha uma admiração pelos coletores de lixo.
Assim nasceu o Partido de Macunaíma praticamente com o apoio explícito ou velado de todos. E assim ele tornou-se o primeiro e único, cuja palavra era dogma e lei, e assim também ele começou a introjetar o desejo de ser muito rico, pois antes só almejava ganhar dinheiro sem trabalhar, retomar seu amuleto e voltar para sua tribo à margem do rio e viver na rede.
(livre adaptação da obra de Mário de Andrade. Imagens do Google).
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