Bento XVI e a pedofilia
Todo pedófilo é criminoso, segundo as leis do país. Como tal deve ser julgado, e se condenado cumprir a pena prescrita. Todo pedófilo é um doente (o que não diminui em nada sua culpa, uma vez que tem consciência do delito que comete), e como tal deve ser tratado. Todo pedófilo é um pecador e um pecador gravíssimo, uma vez que escandaliza os pequeninos, para quem a severa admoestação de Jesus soa pesada, pesada como uma pedra de moinho dependurada no pescoço.
É evidente que a pedofilia é uma prática antiga em várias civilizações e nos mostra o quanto a criança foi e é desprezada como cidadã através dos tempos. O movimento cristão desde o início passou a ver os pequenos indefesos como seres humanos merecedores de especial atenção. A prática de recolher crianças abandonadas nas ruas das cidades é tão antiga quanto o próprio cristianismo, cuidar delas e tentar dar um futuro menos cruel, faz parte da práxis dos seguidores de Jesus.
A estruturação da Igreja Católica nos moldes de hoje vem especialmente do Concílio de Trento no século XVI, onde se revitalizou as ordens religiosas e se procurou dar uma resposta eficaz ao movimento protestante na Europa. Reiterou-se práticas mais rígidas da liturgia, da vivência monástica, do centralismo papal, da rigidez na formação do clero, do fechamento eclesial em si mesmo, abrindo mais ainda o fosso entre o laicato e a elite sacerdotal.
A exigência do celibato foi reforçada, visando sobretudo evitar o surgimento de duas classes de sacerdotes, uma secular e outra de ordem religiosa, bem como a dilapidação do patrimônio da Igreja, com questões de heranças familiares.
É evidente que o celibato em si não propicia a prática da pedofilia nem do homossexualismo, nem este tem nexo causal com aquele. Porém a (de)formação que o modelo de seminários menores, fechados, assim como os seminários maiores neste mesmo modelo, e as ordens e mosteiros isolados do mundo civil, atraem pessoas com esses desvios da sexualidade. Formadores assim vão multiplicando seus atos criminosos e obscenos e formando quase como que uma rede de cumplicidade.
A pedofilia é algo diabólico no sentido pleno da palavra, uma vez que fissura, fratura, o núcleo do ser humano em formação. Há uma descomunal desigualdade de força entre o criminoso e sua vítima, uma vez que geralmente (na grande maioria dos casos) o agressor é o pai, ou um tio, ou mesmo um avô, do qual não há a menor desconfiança por parte da família e do qual a criança é totalmente dependente.
Os casos protagonizados por membros da hierarquia da Igreja Católica são verdadeiros escândalos, que graças a Deus estão sendo revelados e tornados públicos, e que apesar de toda dor que causam, estão libertando esta instituição de seus demônios internos.
O que chama a atenção é que sob o papado anterior, tão carismático e midiático, era tudo muito escondido, velado, silenciado, até mesmo com a obediência e quem sabe a anuência de Ratzinger. Com Bento XVI está acontecendo um verdadeiro exorcismo institucional, que espero perdure até que todo o Mal seja expulso, mesmo que com grande alarido e extrema penitência.
Assuero Gomes
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