É mais fácil e mais confortável e mais seguro, termos vivido e ainda viver num mundo organizado. As devidas coisas nos seus devidos lugares. Os cágados vivem muito, andam devagar e sempre, carregam sua casa nas próprias costas, não têm pressa, não miram o céu, mas a terra é seu chão firme e seguro.
Mais fácil seria vivermos como os cágados. Salário certo no final do mês, contas bem contadas e todas pagas no final do mês, rotina tranquila a cada mês, a terra girando ao redor do sol e a lua girando ao redor da terra, as quatro estações bem definidas, a religião quatro vezes por mês, na mesma hora, com o mesmo pastor ou padre, no mesmo templo ou igreja, sem questionamentos nem sobressaltos. Vivam os cágados!
Os pássaros voam e posam em lugares inóspitos, às vezes inseguros. Vivem bem menos que os cágados. Miram sempre para o céu. Constóem seus ninhos entre galhos e pedras inseguras. Cantam desde o amanhecer ao entardecer. Bebem a luz da aurora por suas asas e sentem a desorganização do vento por entre suas plumagens. Experimentam, experimentam e experimentam. Não têm rotina e pulam de versos em versos, de partitura em partitura, e são fogosos e inquietos. Conhecem em um dia apenas, mais lugares que os cágados em toda sua existência, longa existência.
Assuero Gomes
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