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sábado, 4 de junho de 2016

Terra hostil




Terra hostil

Assuero Gomes                                  
                       

Médico e escritor




                                      
A língua inglesa tem uma expressão muito feliz para designar a própria nação. Os soldados americanos quando retornam de suas batalhas, em outros lugares, expressam com alívio: “homeland”.  Ali se sentem a salvo, seguros, bem recebidos e reconhecidos por seus atos, como um oásis definitivo.
Temo que na nossa língua não haja uma palavra que designe com tamanha propriedade essa situação. Numa tradução pobre poderíamos dizer: ‘terra do lar’; melhor seria ‘casa paterna’ ou mesmo ‘pátria’.
Fosse esse o problema apenas de linguística estaríamos até bem.
Quando os soldados penetram na terra alheia em missão de combate, a chamam de ‘terra hostil’. Ali estão em iminente perigo de vida, em condições extremas de sobrevivência e sem segurança de retorno aos seus lares.
Brasileiros que regressam para nossa terra após um período mais prolongado no exterior, ou a trabalho, a estudo ou até mesmo de umas férias mais prolongadas captam a sensação de chegarem a um lugar pouco acolhedor.
Desde o aeroporto na questão de taxis X Uber, ruas mal asfaltadas, condomínio com atritos de vizinhos por pequenas causas, medo de assaltos, conversas sobre violência e doenças transmitidas por mosquitos, estupros coletivos, alagamentos, sem contar com a grande depressão nacional em termos de economia, política, corrução e falta de esperança.
Fosse apenas a primeira impressão da volta e a linguística ainda assim estaríamos sofrivelmente bem numa terra em processo civilizatório.
Quando estamos em terra estranha (estrangeiro) a sensação de não pertença é aguçada, mas a pior e inexplicável sensação é a de se sentir estrangeiro na própria terra, essa é terrível. Aqui me refiro a levas e mais levas de brasileiros que moram e sobrevivem em condições aviltantes, até para animais.
Temos uma população inteira, equivalente a de países médios, totalmente desempregada e  vivendo à margem, sem conhecer direitos e deveres e até mesmo a própria língua. Mortes por assassinato chegando ao cúmulo de 52 milhões anuais. Torna a vida um bem banal.
Uma tocha fantasma passa, alargando a escuridão, numa terra de assombração, desalumiando para o mundo a terra brasilis, sem dúvida nenhuma, tão bela e explorada, com tanta gente boa e digna, mas transformada em terra hostil. Terra hostil.


 





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