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domingo, 18 de março de 2012

Libertando Jesus das igrejas



Libertando Jesus das igrejas



Talvez os pregos que O pregaram na cruz não tenham imobilizado tanto quanto as instituições O imobilizam hoje. Os que O prenderam na cruz foram perdoados, pois não sabiam o que estavam fazendo, talvez os que O prendem nas igrejas saibam mais, dentro de suas limitações, o que fazem.

Os pregos institucionais, embora invisíveis, imobilizam muito mais que os de ferro, pois estes  O aprisionaram por algumas poucas e terríveis horas, os outros pregos, no entanto, O aprisionam por mais de mil e setecentos anos, e cada vez mais, O impedem de caminhar livre pelas estradas do mundo, para que possa, vestindo as roupas de cada cultura, comendo a comida de cada povo, morando onde o povo está, falando sua língua, se comunicando plenamente e expondo sua boa notícia, uma notícia de libertação, possa reavivar a esperança concreta da realização do reino.

Preso na instituição Jesus geme. Talvez clame, mas a instituição grita, brada e berra mais alto, em seu nome, mas não anuncia sua boa nova, não avisa aos necessitados que o Reino já chegou. O prisioneiro de cravos de ouro e resplendor de prata, sob o jugo de leis e interditos, proibições e ritos de tradições arcaicas, dogmas imutáveis e penitências impostas aos outros, pede para se libertar.

Sociedades religiosas medievais, conventos vazios, prédios imensos e sombrios onde jazem as ‘conquistas’ do passado, fazem sombra aos pobres que sobrevivem nas sombras da civilização.

Já passa da hora de se libertar o Cristo das igrejas, de todas as dominações e confissões, pois lá fora, na planície é onde a vida acontece e onde as respostas são esperadas pelos presos, doentes, coxos, cegos, surdos, emigrantes clandestinos, é lá que os famintos esperam pelo prato e a certeza de não mais ter fome e os sedentos de verem jorrar água em abundância.

O novo há que se mostrar e mudar a vida do mundo velho e cansado, para que os sinais de morte se mudem em vida e vida em abundância.

Precisamos urgentemente retirar a pedra da prisão, assim como foi removida a pedra do túmulo na Páscoa, libertar dos grilhões como Pedro foi libertado, fazer internamente, nas instituições, o que o Senhor fez com seu amigo Lázaro, desatá-lo das amarras e chamá-lo para fora, para que ande com seus próprios pés.

A boa nova de Jesus sempre foi um motivo e razão de esperança para os desesperados. O mundo, mais que nunca não tem respostas para eles. A Palavra precisa ser anunciada, além, muito além das paredes dos templos e de suas grades, precisa romper as barreiras dos preconceitos e limites culturais.

É preciso lhe arrancar os pregos, calçar-lhe as sandálias, vesti-lo com as cores dos povos, para que nos aponte os caminhos coletivos de solidariedade e partilha.

 Libertar Jesus das igrejas é ‘descrucificar’ e libertar os pobres em cada canto de deserto e tornar em jardim suas vidas semeadas na misericórdia.



Assuero Gomes


Cristão católico leigo da

Arquidiocese de Olinda e Recife


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