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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Nossa ligação de cristãos com João Batista, por Marcelo Barros






Nossa ligação de cristãos com João Batista

Marcelo Barros

As festas juninas são muito antigas. Existiam antes do Cristianismo e antes que tivesse nascido João Batista. Quando o Cristianismo transformou as festas da natureza em celebrações da fé cristã, os festejos de 25 de dezembro (solstício do inverno no hemisfério norte) foram transformados na festa do natal de Jesus e os de 24 de junho (solstício do verão – aqui no sul, inverno) ganharam essa atribuição de festa do nascimento de São João Batista.
O costume da Igreja é celebrar o santo no dia de sua morte, do seu martírio ou seu nascimento no céu. No entanto, quase desde o início do Cristianismo, com São João, os cristãos celebram o nascimento (24 de junho) e o martírio (29 de agosto). Na Idade Média, foi criada uma festa da natividade de Maria (08 de setembro), mas é bem posterior. Por que São João é tão importante assim para a nossa fé?

Em um livro clássico dos anos 60, o padre Jean Danielou afirmou: “João Batista é apresentado nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas como precursor do Senhor, isso é, aquele que veio ao mundo preparar os caminhos do Senhor. O quarto evangelho prefere considerá-lo testemunha do Verbo, amigo do Divino Esposo, Lâmpada que faz brilhar a Luz que é o Cristo (por isso, o povo acende fogueiras na festa do seu nascimento). No entanto, é preciso compreender bem que João não foi somente precursor de Jesus em sua vinda histórica, uma vez por todas. É sua missão ser sempre precursor do Senhor, tanto na vinda dele a uma Igreja, como na vinda final dele (Sao Lucas mostra isso – João como o novo Elias que deve vir antes da vinda final de Jesus) e mesmo das vindas contínuas e secretas de Jesus em nossas vidas, na vida de cada um/uma de nós. João é o precursor de Jesus no nosso caminho de fé. E sendo isso, ele se torna o que diz o quarto evangelho: testemunha da Luz e do Verbo.
Uma coisa que pode nos espantar é perceber como nos evangelhos a pregação de João parece diferente da palavra de Jesus. Os dois pedem conversão. Os dois dizem: “O reino de Deus está próximo. Convertei-vos!”. Mas, João prega a ira de Deus e diz: “Raça de víboras, sepulcros caiados, quem vos ensinou a fugir da ira de Deus? Praticai a justiça. A foice já está na raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo” (Mt 3 e Lc 3). Enquanto isso, a pregação de Jesus é diferente. Não fala de ira de Deus. Fala do amor, do perdão. É tão diferente que João entrou em crise e mesmo da prisão mandou os discípulos perguntarem a Jesus: “És tu aquele que devia vir, ou vamos ter de esperar por outro?” (Mt 11). No entanto, sem um, não virá o outro.
Um teólogo alemão (D. Bonhoeffer) dizia que se não passarmos pelo Antigo Testamento, não entenderemos o Novo. Sem assumir a pregação de João e preocupar-se com a justiça, não receberemos a graça divina que Jesus oferece. A graça é de graça, mas supõe a acolhida, pede a conversão. O problema de alguns grupos cristãos de hoje (de tipo carismático) é que querem viver um Cristianismo da graça, da alegria, do aleluia, sem passar pela justiça e pelas exigências da ética social dos profetas. Assumir João Batista como caminho e precursor do Cristo para nós é aceitar a atualidade de sua mensagem profética pela justiça e incorporá-la em nossa forma de viver a fé para então sim entrar na alegria da salvação oferecida pelo Cristo.
João se tornou tão parecido com Jesus que teve de se explicar: Eu não sou o Cristo. E mesmo Herodes confundiu Jesus com João. Será ele o João Batista que eu mandei degolar? Os evangelhos trabalham essa semelhança. É também algo que João nos ensina e nos chama a viver: nos tornar semelhantes a Jesus
Uma antiga oração da festa de São João pedia a Deus a graça de acolher sua profecia, imitar sua vida consagrada e viver hoje o seu testemunho de amigo do Esposo.

Questões para aprofundarmos:
1. Dom Helder Câmara, por sua forma de ser e de cumprir sua missão foi na Igreja e no mundo uma espécie de João Batista, profeta, precursor e testemunha do Cristo. Muitas pessoas se reaproximaram do Cristo por causa do testemunho de Dom Helder.
Hoje, seja como pessoa, cada um de nós, seja como grupo (o grupo da partilha), como podemos integrar, hoje, em nossa forma de viver a fé esse testemunho e missão de João Batista, ou seja, como integrar as exigências da prática da justiça e da vivência da fé?

2 – O quarto evangelho apresenta João como aquele que se unificou a tal ponto que era o homem da única alegria. Podemos olhar a nossa vida pessoal e nos perguntar em que etapa estamos nesse caminho da unificação interior e de assumirmos essa vocação de Joao Batista, testemunha do Verbo?





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