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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Libertando o prisioneiro do Vaticano




Libertando o prisioneiro do Vaticano

Sonhei um sonho, desses que a gente sonha juntos. Um sonho de cinquenta anos, passado em Roma, num castelo medieval. Havia um prisioneiro, um homem bom, bonachão na verdade, um camponês feito príncipe, por essas coisas do vento propício do acaso, que alguns chamam destino e onde eu prefiro ver a providência.
Tendo ido ao encontro do seu destino, João, pois esse era seu nome, ousou mexer na coorte. E para isso, convocou os barões e duques e arquiduques, e ainda os condes e viscondes e muitos outros membros honoríficos da nobreza, para que as deliberações fossem tomadas da forma mais colegiada possível, na tentativa de tornar aquele reinado mais humano.
Não sei bem com certeza, pois os sonhos são nebulosos às vezes, houve como que uma conspiração da nobreza, para que o camponês não lograsse êxito no seu bom intento. E aconteceu, nesse sonho, uma noite escura, onde aprisionaram o homem, de maneira até sutil, pois podia vagar entre o jardim, o mausoléu, o museu e o palácio e ainda um outro palácio de verão. Jamais, porém, poderia se aventurar fora daqueles limites institucionais. E o sonho acabaria em pesadelo, não fosse permitido sonhar, mesmo que se pense impossível mudar a realidade dos sonhos.
Surge um cavaleiro, mas desses que não aparentam nada de garbo nem de poder humano. Pequeno, magro, um tanto calvo, montado em um jumentinho, sem espada nem lança nem escudo. Saído como que de um conto de um Cervantes nordestino, a investir contra as muralhas, as grades, as masmorras, os ferros de suplício, os cadeados e os grilhões, numa tentativa desesperada de salvar o camponês, suas idéias e seus ideais.
No meu sonho, o cavaleiro conseguia derrubar os muros, libertava o cativo, abria para sempre as portas e as janelas, deixava o vento livre, renovar a construção, e chamava os pobres de todas as Romas para uma grande festa, uma festa como jamais se vira em tal reino, de maneira que nunca mais houvesse senhores nem vassalos. E o pequeno cavaleiro andante, de sonhar sonhos coletivos de libertação, chamado de Helder, num dia claro de verão, desses dias que ninguém esquece, proclamava juntamente com João, os cinquenta anos desse sonho, e anunciavam em alto som, que o sonho não acabou. O sonho jamais acaba para aqueles que acreditam nos sonhos de sonhar juntos. 

Assuero Gomes
Médico e escritor  

Um comentário:

  1. Olà Assuero, Congratulaiton pelo lindo artigo. As vezes o sonho é realidade e nòs o interpretamos assim...
    O Dom continua "vivo, aberto e acordado" como o Jardim secreto.
    Um super abraço no Recife, na alegria contagiante esboçada em cada rosto.
    Amo essa terra.
    Hoje aqui em Boston està nevando e tudo fica tào claro como um algodào doce.
    Seja feliz sempre.
    Fraternalmente
    NAtividade

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