Jesus e a Igreja
Meu
irmão mais novo, Fernando Brito, me instiga à reflexão com algumas perguntas
(colocações) pertinentes. A primeira é a seguinte: o que Jesus deixou e pediu
para a Igreja fazer (se ela está fazendo ou como ela deveria está fazendo...)?
Caro
Fernando, creio que Jesus no âmago da missão da Igreja colocou que ela
anunciasse a presença do Reino, de forma coerente e concreta, especialmente
(não exclusivamente) e em primeiro, para os marginalizados da sociedade. Deixou
para tal anuncio e presença vivencial do Reino um poder muito grande para seus
seguidores, o poder do serviço que é a mais perfeita forma de Amor. Creio que
se nós acreditássemos um pouco no Amor de Jesus para com a humanidade (aí nós
incluídos), a plenitude do Reino já estaria bem mais próxima, afinal são mais
de 20 séculos...
A
Igreja, agora falando como instituição, está anunciando e fazendo acontecer
esse Reino? De maneira concreta, coerente e insofismável? A resposta é clara...
Fazer
memória de Jesus através da Eucaristia é de uma ousadia sem limites. É assumir
um compromisso perigoso com a história da humanidade e a transcendência. Fazer
memória de Jesus através da Eucaristia é comprometer sua vida e sua comunidade
(pois só existe Eucaristia através da comunidade) com as mesmas ações e
atitudes de Jesus perante a sociedade de cada tempo em que é celebrada, ou
seja, se estar disposto às últimas consequências na defesa do ideário do Reino
(justiça, misericórdia, igualdade, serviço, gratuidade, fraternidade, fartura
para todos). É sim, muito importante para o cristão hoje, como foi no passado e
como será no futuro, sem essa visão e essa atitude de compromisso, o discurso
de Jesus fica vazio e a Eucaristia fica sem sentido. Temo que muitos de hoje
não percebam a Eucaristia como ela realmente é, uma refeição comprometedora com
os ideais do anfitrião.
É
importante ter fé e não participar da Eucaristia? É possível até certo ponto.
Creio que a Eucaristia alimenta a fé e a fé alimenta a Eucaristia. Quando nos
alimentamos do corpo e do sangue de algum ser vivo, incorporamos sua
vitalidade, e sua proteína é incorporada e transformada na nossa que é a parte
estrutural do nosso corpo. A nível espiritual, quando o Senhor nos dá sua
própria carne e seu próprio sangue, e nos alimentamos deles, ficamos de tal
maneira unidos a Ele que nos tornamos inseparáveis, entende?
Quando
Jesus diz aos apóstolos (que estão unidos em Igreja) que perdoem os pecados, na
verdade Ele está dando um imenso instrumento de SERVIÇO para aliviar o peso do
sentimento de culpa que a humanidade carrega (esse poder jamais deverá ser
usado para manipular, oprimir, obter vantagens financeiras ou políticas, pois
quando assim a Igreja o fizer, na verdade estará traindo a finalidade primeira
desse dom magnífico, e toda culpa recairá sobre ela mesma). O sentimento de
culpa que atordoa a humanidade desde a primeira infância já foi percebido pelos
gregos na antiguidade e no mundo moderno foi magistralmente pesquisado e
encontrado na sua raiz, por Freud, que descendo à escuridão do inferno interior
deixou por lá, pelo menos, uma pequena luz. Daí a importância do serviço
“perdoar”.
O
que Jesus deixou para os doze fazerem e para o Povo de Deus?
O Reino
tem sinais bem concretos, ele não é nenhuma alienação nem exercício mental
espiritual ou filosófico. Os cegos devem enxergar, os surdos ouvir, os coxos
andar, os famintos e sedentos ser saciados, os nus vestidos, os presos
libertados, os doentes curados, os migrante acolhidos e a boa nova deve ser
anunciada a todos os povos. Com o avanço do conhecimento humano, tudo isso já pode
ser feito. Praticamente todas as pessoas da terra já ouviram falar de Jesus, de
cada quatro, uma se diz sua seguidora.
Alguma
coisa está muito errada...
Assuero
Gomes
Cristão
católico leigo da Arquidiocese de
Olinda
e Recife
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