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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A hierarquia de Deus


A hierarquia de Deus

Temos que admitir que a hierarquia é necessária, assim como o poder. Aquela para organizar este para disciplinar. Com ambos, o caos vai se transformando em cosmos, e se cria condições para a vida existir e se manter. Não há vida no caos, no entanto, preciso é, que nos lembremos sempre que o cosmos é feito de pequenos caos. A partícula elementar é sempre uma possibilidade de energia ou matéria em determinado tempo e lugar, nunca uma certeza absoluta.
Um grande discernimento, porém, se faz necessário na nossa mente e no nosso coração. Que tipo de hierarquia e que tipo de poder é necessário, e quais provêm de Deus? Qual o poder que emana de Deus e qual hierarquia é do seu agrado, filha da sua sabedoria?
A resposta sobre o poder é bem mais fácil, pois o poder de Deus é o poder do Amor disponibilizado e visível no serviço ao próximo necessitado. Quanto à hierarquia que lhe é agradável é bem mais difícil de nós aceitarmos; se os Evangelhos são verdadeiros, e creio que são, poderíamos imaginar uma hierarquia de importância no seguinte modelo pontual, em relação ao nosso mundo religioso católico:  em primeiríssimo lugar estaria a mulher mãe solteira, pobre, desempregada, grávida, negra, com Aids em fase terminal, seguida por todos os miseráveis de todas as raças, excluídos do mundo, sobrevivendo abaixo da linha da pobreza absoluta. Em terceiro lugar estariam os presos abandonados em cárceres vítimas da injustiça assim como os doentes que não têm acesso ao sistema de saúde e também às vítimas das guerras, órfãos da ganância dos países ricos. Em seguida os refugiados apátridas. Seguindo nesta subversiva hierarquia de Deus, estariam os que sofrem a perda de entes queridos e aqueles que sofrem nos leitos de hospitais e aqueles que estão em solidão profunda, em asilos e casas geriátricas.
Depois deles vêm os ateus, aqueles que são justos e procuram, por uma questão humanista, ajudar ao próximo e se engajar em movimentos de humanitários. Os leigos e as leigas também. Nesta ordem estão incluídos os missionários que a tudo largam e não pertencem às ordens religiosas, e sem segurança de espécie alguma, movidos apenas pela fé, se arriscam em terras desconhecidas para servir àqueles povos.
Mais abaixo desta lista seguem os missionários e as missionárias religiosas, que pertencendo às suas congregações e ordens, deixam as suas famílias e vão se dedicar realmente ao serviço dos pobres, respeitando a cultura de cada um.
Segue os padres, as freiras, que exercem seu ministério, de bom coração, mas que se preocupam mais com a organização das paróquias e a administração dos sacramentos, sem se preocuparem tanto com os problemas sociais do povo que foi confiado ao seu trabalho (ministério). Em seguida vêm os bispos, que por causa do fardo da administração de uma diocese, com sua burocracia e encargos, consomem o melhor de seu tempo nestes afazeres, pouco sobrando para o espírito pastoral. Em seguida, com duas vezes mais peso que os anteriores vêm os arcebispos. Na escala decrescente vêm os teólogos. Na seqüência desta hierarquia vêm os cardeais juntamente com os burocratas da cúria romana, cuja enorme responsabilidade de administrar a instituição milenar e universal, exaure-lhe o ânimo e o tempo para estar junto àquela mulher grávida, primeira da lista.
Por último vem o papa, que se reconhece como o servo dos servos de Deus.

Assuero Gomes


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