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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uma Nação corrompida








Uma Nação corrompida

Uma pessoa, no tempo de Jesus, era considerada legalmente morta, após o quarto dia. Daí a visita do mestre à casa do amigo Lázaro, no quarto dia de seu falecimento, ter sido achada muito tardia por parte dos familiares.
Era considerada oficialmente morta uma pessoa após o quarto dia, porque seu rosto estava já em processo de decomposição e se tornava irreconhecível. Sua identidade estava irremediavelmente perdida, era um cadáver (carne dada aos vermes). Daí o pavor à corrupção dos mortos, como algo inexplicável e não compatível com o projeto de Deus, de vida plena. Corrupção dos corpos é a síntese entranhada da morte. Daí também os antigos povos tentarem mumificar os corpos, para preservar a identidade do morto e, portanto, seu significado no nosso mundo. Daí a Igreja, num costume bem antigo, pensar em sinal de santidade àqueles corpos preservados após anos e anos de sua morte.
Uma pessoa representa sua nação. Uma nação representa seu cidadão. As instituições representam seus instituídos e vice e versa.
A corrupção entranhada visceralmente na nossa nação, em cada indivíduo e nas instituições é a causa primeira de nossa morte como um povo soberano. Muitos de nós brasileiros estamos vivendo em tumbas e entre túmulos, como o próprio Lázaro.
Quando uma criança se alimenta de lixo e bebe água apodrecida, quando não vai à escola regularmente nem brinca pacificamente como outra qualquer, quando os jovens são absorvidos pela droga e o crime, quando quem deveria zelar pela integridade dos filhos da pátria está corrompido até seu âmago, quando se dilapida o suor e o sangue do trabalhador em propinas e desvios obscuros, se cava mais profunda ainda a própria sepultura da nação.
O Brasil está decompondo sua própria face perante o restante do mundo, a nossa face, a face de cada um, que juntas formam a identidade nacional. Toneladas de maquiagem midiática se consomem para mascarar o defunto, mas seu odor já se espalha. Não adianta copas, nem olimpíadas, nem shows de samba e mulheres nuas, nem arroubos de performances políticas, pois a nação está corrompida. Crianças são ensinadas pelos pais (quando os têm) a ter vantagem sobre os colegas, meios de comunicação ensinam modelos estranhos de comportamento, alunos agridem professores, adultos subornam, idosos são maltratados, a saúde pública é aviltada pelo descaso do governo, e tudo se transforma num grande e triste e grotesco baile funk verde e amarelo.
Talvez não estejamos no quarto dia, talvez o mestre venha a nos visitar e nos converta (metanoia), e nos anime a retirar a pedra do sepulcro e desenfaixar o nosso povo para que se levante e ande com suas próprias pernas, para bem longe da morte.

Assuero Gomes
HTTP://assuerogomes.blogspot.com/

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