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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

D. Helder e Chico Buarque


 
 
 
 
 
D. Helder e Chico Buarque
 
 
 
 
Jornal Igreja Nova - 08/99
 
Esta entrevista, foi concedida pelo cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, a Assuero Gomes, integrante do Grupo de Leigos católicos Igreja Nova, quando de sua visita a Dom Helder, no dia 16 de julho.
 
Igreja Nova - Chico, qual a lembrança mais interessante que você tem, em relação a Dom Helder Câmara?
 
Chico Buarque - Todo mundo sabia que não se podia falar em Dom Helder. Eu não era muito querido também não, mas podia fazer meus shows. Eu vim aqui fazer um show no Geraldão, o show estava indo e tinham me falado que Dom Helder estava lá assistindo. O show estava indo mais ou menos morno, uma música e outra, aí eu falei: "eu queria anunciar e agradecer a presença de Dom Helder Câmara. Eu nunca fui tão aplaudido na minha vida. Aquele ginásio veio abaixo. Foi uma coisa linda. Isso foi em setenta e pouquinhos... setenta e dois, setenta três.
 
Zezita - Sempre que você fez shows aqui, Dom Helder foi aos seus shows.
 
C.B. - Sempre. Das outras vezes eram shows mais tranqüilos. Desse, eu me lembro especialmente por causa disso. O nome dele estava inteiramente vetado, me disseram que ele estava lá, mas era segredo. E quando eu falei, o ginásio inteiro, todo mundo levantou, aplaudiu. Foi o meu maior sucesso. (risos)
 
I.N. - O que Dom Helder representa para você?
 
C.B. - Bom, para mim e para o Brasil inteiro , Dom Helder é um símbolo de luta pela justiça social. Se a gente se lembra dele no Rio de Janeiro, ainda no tempo da Favela do Pinto, nos anos sessenta, a atividade dele lá, deixou marcas até hoje. E mais adiante um símbolo de luta também, pela liberdade, pela democracia na época da ditadura, onde ele era uma das pessoas mais visadas, mais cerceadas, mais vigiadas e mais perseguidas. Eu conheço Dom Helder pessoalmente, desta época e tenho uma admiração profunda por ele. Eu e todos os brasileiros temos uma dívida muito grande para com ele.
 
I.N. - Você que sempre foi o nosso ícone de luta por uma situação melhor para o país, falando em linguagem de igreja, da "denúncia profética", o que é que você espera do Brasil para o futuro, já que, em nossa opinião, Fernando Henrique foi um grande fiasco?
 
C.B. - Bom. já que estamos falando a linguagem de igreja, vou citar Dom Mauro Morelli que diz que preferia Fernando Henrique quando ele era ateu. (risos)
Eu acho isso ótimo. Enfim, eu já não tinha grandes esperanças desde o primeiro governo de Fernando Henrique. Achava que essa aliança que o PSDB estabeleceu com o PFL, era perigosa e no fim das contas, se revelou mais perigosa do que eu imaginava, porque no governo, numa aliança de liberais e social-democratas, não sobrou para a social-democracia. E parece que a necessidade de afirmar essa aliança e de renegar o passado, falou mais alto. Enfim, nós temos aí mais três anos de espera, não sei bem do quê. Vamos pensar em 2002
 
I.N. - Arrisca uma profecia para 2002?
 
C.B. - Não, eu não sou profeta.
I.N. - Chico muito obrigado e um abraço.

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