O
Papa Francisco
Engana-se, contudo quem espera um Papa de
"esquerda", pois na verdade a esquerda, como idealizada, a esquerda
não existe mais. Alguns renitentes jurássicos sonhadores românticos, como eu
era, imaginam um "papa" revolucionário que cambiasse a estrutura da
Igreja fazendo-a um grande organismo político institucional que ideologicamente
inflamasse o planeta através das Comunidades Eclesiais de Base. Alguns
desejavam que transformasse o mundo numa grande Cuba ou ex- URSS ou uma Coreia
do Norte com sua monarquia comunista (Marx deve sentir arrepios no túmulo).
Espero desse Papa um distanciamento maior da
parte pecaminosa da estrutura do Vaticano, uma aproximação maior com os
empobrecidos do mundo, uma visão pastoral mais acentuada na ideologia da Igreja
e uma reaproximação com o mundo pós-moderno com um diálogo mais aberto e
franco, despojado do imperialismo romano, aliás um modelo falido depois de 1600
anos.
Algumas mudanças conjunturais sim, estruturais
muito poucas. Podemos chegar à abolição do celibato obrigatório para os
sacerdotes diocesanos, a questão dos métodos anticonceptivos, uma maior
participação dos leigos atuando mais a nível da sociedade na qual está
inserido, sem se clericalizar demais, menos triunfalismo e mais teologia, menos
messianismo e mais assistência concreta aos necessitados.
Algumas coisas não mudarão jamais na Igreja e
isso precisamos estar conscientes para evitar falsas expectativas. A ordenação
de mulheres, por exemplo, pois a instituição do sacerdócio cristão provem do
sacerdócio judaico segundo Aarão e segundo Melquisedec incorporado e plenificado totalmente e
definitivamente no sacrifício de Cristo, é bem anterior à Igreja, mesmo que ela
quisesse como também o Papa não teriam condições de alterar essa questão. A
celebração de casamento entre pessoas do mesmo sexo, a questão do aborto, a
consagração eucarística e o sacramento da reconciliação (confissão) serem
ministrados por leigos, a própria questão da hierarquia na estrutura eclesial.
Causou-me espanto a reação de algumas pessoas ou
grupos quando da eleição de Francisco (Jorge Mario Bergoglio), no momento quase
imediato, já o estavam acusando de ter contribuído com a tortura militar na
Argentina, isso sem uma averiguação serena e correta da História, o mesmo
acontecido na época com Ratzinger em relação à sua juventude e o hitlerismo,
quando na verdade ele fora vítima do próprio nazismo.
Resta rezar e manter viva a esperança para que
Francisco honre os anseios e a esperança do seu povo como também o nome
escolhido.
Assuero Gomes
Médico e escritor
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