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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Em nome de Deus






Em nome de Deus

Em nome de Deus se mata e se morre, se derrete consciências, se mutila e se hierarquiza pessoas e instituições. Desfigura-se a Palavra, subverte-se a ordem do Reino instaurado por Jesus e se prostitui seu ensinamento, desvirtuando por preço vil, os pequeninos que deveriam estar sendo servidos e evangelizados.
Foi pelo nome de Deus, blasfemado em vão, que se destruíram civilizações inteiras e em seu nome, vilipendiados foram povos e religiões. Em nome de Deus dominaram a Terra e escravizaram seus animais e secaram suas torrentes de águas límpidas e envenenaram a alma (anima) do vento que corria livre nos campos do Senhor. Em nome de Deus cobriram de vergonha pudicas criaturas, impuseram-nas pesadas couraças de sentimentos de culpa, grilhões de pecados, para depois exibirem sua nudez em praça pública, ao calor de fogueiras inquisitoriais. Em nome de Deus se instaurou o pecado e se cobrou um preço impagável aos pobres, tornando-os dependentes de um perdão comprado a peso de suor, lágrimas, e doações, renovados a cada dia, enquanto não se movia um dedo sequer para lhes aliviar a dor, que não era sua.
Refestelando-se em poltronas e almofadas, com suas ancas gordas, comendo iguarias refinadas, os que inventaram o pecado engordam mais e mais, enquanto os famintos desfilam em magras procissões, subindo e descendo morros com suas ladainhas tristes, entoadas em nome de Deus.
Em nome de Deus a situação permanece imutável pelos séculos e a cada esquina surge uma nova capela ou templo, e os sacerdotes e pastores gritam e cantam cada vez mais alto, e pedem em nome de Deus, e ameaçam com o inferno eterno, em nome de Deus, de tal maneira que vestem roupas coloridas ou terno e gravata, e dançam e pulam e esbravejam, e vendem como mascates de antigamente com grande alarido seus produtos e poderes, tudo em nome de Deus; e galgam posições políticas de destaque no mundo dos homens, e compram e vendem favores, indulgências, redes de televisão e rádio e jornais, e administram e governam como se governa no reino de César.
Ostentando do que falta para a imensa multidão de miseráveis, constroem para si, verdadeiros ídolos de ouro e lhes rendem culto idolátrico, pois lhes sacrificam a própria decência, honestidade, os filhos e a esposa, e já não conseguem sobreviver sem o dinheiro plastificado em mil cartões atraentes, dourados e prateados, sem os carros, sem as mansões, sem os restaurantes de luxo, como gordas vacas de Basã.
Em nome de Deus se destrói um mundo tão belo e sustentado pela harmonia misteriosa de um Amor derramado em ternura e misericórdia, que sua memória, a depender das religiões e instituições, poderá ser banida do futuro e tornar-se apenas uma pintura em alguma parede desbotada, ou um pergaminho escondido nalgum museu vazio de nossa lembrança.
Em nome de Deus nos ergamos de nosso sono secular, limpemos nossa poeira, calcemos nossas sandálias e arejemos nossas igrejas e grupos de fé, deixemos o vento (pneuma) derrubar as portas e as grades e romper os cadeados, deixemos enfim a Vida respirar e se renovar, para que jamais, jamais, pronunciemos o nome dele em vão.

Assuero Gomes
Cristão católico leigo da Igreja de Olinda e Recife 

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