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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um dia sem os mexicanos

                                         
Um dia sem os Mexicanos

O filme “Um dia sem os Mexicanos”  de Sérgio Arau mostra uma situação hipotética, onde uma nuvem misteriosa isolou o estado da Califórnia (talvez o estado mais rico do planeta) do restante dos Estados Unidos (metáfora da auto-suficiência capitalista) e do mundo.
A nuvem em questão, fez com que todos os imigrantes mexicanos desaparecessem, daquele lugar, como que por encanto. Vários personagens, que são estereótipos dos americanos e dos imigrantes dão vida à história.
Discriminados o tempo todo, perseguidos pela guarda de fronteira, por senadores racistas, por donos de terra e da agroindústria da fruticultura, repentinamente o estado se ver sem a mão-de-obra dos mexicanos. Aos poucos vão se dando conta de que é impossível viver sem eles, pois além da mão-de-obra essencial eles são os principais consumidores dos produtos do estado. Além de trabalharem como babás, empregados domésticos, trabalham na agricultura, nos mercados, nos escritórios, na manutenção dos serviços públicos, nos hospitais, na polícia, enfim em toda a cadeia produtiva, e mais ainda, são consumidores em muito maior escala que os americanos natos.
Ao assistir a este interessante filme, veio-me à mente e ao coração, a metáfora da eucaristia. Crendo que Deus enviou seu Filho único à Terra com a missão especial de servir à humanidade, em especial às pessoas pobres, carentes, marginalizadas, enfermas, injustiçadas, poderíamos afirmar com certeza, que é através destas pessoas que Jesus se nos apresenta. Mais ainda, são elas que preparam o banquete da Eucaristia. Penso não ainda na Eucaristia cósmica como Teillard de Chardin, mas na Eucaristia planetária.
São os pobres que acordam de madrugada para plantar e colher, são eles que lutam nas lavouras dos outros contra as intempéries e os baixos salários. São eles que carregam fardos nas costas, que sobem e descem montanhas e colinas a troco de quase nada. São eles que lavam as roupas sujas dos ricos e que limpam seus lixos, muitas vezes se alimentando deles. São eles que cuidam dos filhos dos patrões que um dia serão os patrões dos seus filhos. São eles que limpam as fossas, os prédios, que podam os jardins para que a primavera chegue mais bela.
São os pobres que limpam, escovam, varrem, pintam, consertam o planeta. São eles que respiram o ar mais poluído e bebem da água mais suja e comem da comida mais estragada.
São eles que preparam a mesa do banquete belo, misterioso e farto da mãe Terra. Preparam mas muito pouco lho usufruem.
Um dia sem os Pobres. Daria um belo filme de terror para os poucos privilegiados. O lixo se amontoaria nas cidades, os esgotos se entupiriam, os carros de luxo não seriam abastecidos, a filhinha da senhora não se arrumaria para a escola nem o almoço do deputado chegaria. Sua esposa não cortaria o cabelo, não pintaria as unhas, suas mãos estragariam com a água e o sabão na lavagem dos pratos e no recolhimento dos detritos, os sanitários sujos abalariam seu refinado olfato.
Não haveria cirurgias, nem atendimento, nem elevadores, nem nada. Um dia sem os Pobres, um dia sem Deus.

Assuero Gomes

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