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terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Igreja ereta, rui

A Igreja ereta, rui

Muitos de nós, sobreviventes do desmonte pós-conciliar, assistimos, a maioria passivamente, outros com resmungos e muxoxos entre quatro paredes, ruir a Igreja dos sonhos libertários, como um castelo construído sobre nuvens de areia à beira mar do oceano do céu.
Frustrados e atônitos, viu-se a (re)ereção do modelo tridentino como paradigma de uma Igreja perpétua, triunfante e única possível, como último bastião de uma civilização gloriosa, fora da qual não haveria salvação. Última barca de fiéis a se salvar boiando acima das águas turbulentas e das cabeças de uma humanidade perdida, num derradeiro e apocalíptico dilúvio.
Muitos se apegam ao que seriam sinais de renovação desse modelo de Igreja, tais como a ordenação de mulheres, a aceitação de padres casados exercendo plenamente o ministério, à eleição dos bispos através de voto direto do povo católico da diocese, e assim por diante. É preciso, no entanto, olhar esses sinais tão ansiados, com um olhar bem mais profundo. Até que ponto eles seriam estruturadores de um novo modelo de Igreja ou seriam apenas conjunturais e revelam simplesmente uma mudança de quem estaria no poder? Uma mulher ordenada padre seria mais democrática que um padre homem? Os padres casados não estão apenas com saudosismo do altar? Um bispo escolhido diretamente pela vontade dos fiéis, mas com a estrutura centralizadora de poder, mudaria tanto assim a face administrativa da Igreja?
Creio firmemente que estamos no limiar de uma nova Igreja. O modelo atual rui. Há que se pensar mais além. E o Espírito nos foi soprado para nos dar liberdade de pensamento, ação e desejo, pois tudo podemos naquele que nos fortalece.
O modelo atual nos dá uma imensa ‘segurança espiritual’ pois nos indica as missas dominicais, os sacramentos regulares, as contribuições pecuniárias, os ritos salvíficos, a organização do corpo social, padres formados em seminários fechados livres do mundo. Porém os templos estão vazios, as vocações para este modelo estão escassas e os escândalos, principalmente de origem sexual e monetária, explodem na base dessa construção.
Para onde, então, nos sopra o Espírito?
É necessário abrir o coração para escutar o novo, como um ‘epheta’. Lembrar que para servir aos necessitados não se precisa ser obrigatoriamente um padre ou uma freira, nem para celebrar o amor de Deus para com a humanidade ser um bispo ou uma mulher ordenada, nem se ter um templo suntuoso, nem de tantos doutores nem de tantos sábios, para que a glória de Jesus se manifeste na nossa limitação através da força de seu amor, no serviço. É hora de se pensar em erigir uma Igreja de carne e afeto, de acolhimento e partilha. Essa não rui jamais.

Assuero Gomes

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