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quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Trindade, o relâmpago e a criança...









A Trindade, o relâmpago e a criança...





Lá fora uma tempestade, com um belo e terrível espetáculo da natureza. Raios e trovões ribombavam num céu de chumbo. A floresta acendia seu verde a cada raio e a chuva, em tempestade, lavava a montanha. O vento a tudo revolvia, vento forte, impetuoso.

Na pousada, em busca de abrigo, uma família adentrou. Um homem sábio, que ali estava observando estes magníficos fenômenos naturais, refletia sobre a grandiosidade de Deus e sua criação.

Um ser supremo, tão grande e poderoso, que num minúsculo planeta como o nosso, perdido entre bilhões de anos-luz e estrelas sem fim, impressionava suas criaturas com tal demonstração de poder, e as fazia sentirem-se maravilhadas e pequeninas, quando até mesmos os descrentes se rendem à grandiosidade da natureza.

Ali, ao lado, bem pertinho, o jovem casal e seu filhinho de poucos meses de idade. Frágil criança, que incomodada chorava. O pai atento se ajoelha para trocar-lhe a fralda, num gesto espontâneo e singelo de imenso carinho. Uma criança que traz dentro dela todo o gérmen da criação, traz toda a fragilidade e a beleza da vida, cultivada e sobrevivida entre cataclismos, migrações, eras glaciais, dinossauros, guerras, catástrofes, gerações e gerações.

O ancião vislumbra, como um raio, suave raio de luz, suave sopro do Espírito, o mistério da Trindade. Ele sente o mais louco do mais louco gesto de amor de Deus para com os humanos, a sua encarnação numa criança, aquela de Belém, que é sinal e presença em todas as crianças humanas. Ele vê no gesto do pai, o cuidado de infinito amor, que Deus tem por nós, criaturas, apesar de todas as nossas fraquezas e especialmente por causa de nossas fraquezas. A mãe, que segurava seu filho num abraço, como a protegê-lo das intempéries, instintivamente, mostrava ao sábio, o lado materno de Deus, ali, tão real, tão visível, e tão humano, como aquela jovem mãe num sopro de carinho e proteção.

Doce mistério da Trindade que se revela aos corações misericordiosos, despidos de vaidade e preconceitos, despidos de dogmas e verdades absolutas.

Aos poucos a tempestade se acalma, o sol timidamente ilumina com alguns raios de luz a floresta que agora mais viva, retribui com mais verde a mais música. A criança se acalma e se aninha nos braços amorosos da mãe. O pai beija a ambas e observa que o tempo melhorou. Preparam-se para continuar sua jornada.

O sábio esboça um sorriso para aquela família humana, que lhe propiciara um profundo momento de fé e sabedoria, talvez mais importante que muitos e muitos livros que lera durante sua longa vida e as horas que passara tentando entender e compreender o inefável mistério da Trindade. Estava convencido até de que tal mistério é como o sol, quanto mais nos aproximamos dele mais cego ficamos.

Dentro dele a tempestade se acalmou, o coração e a mente serenos, em harmonia com toda natureza, compreendeu então que Deus na sua unidade-trina habita o coração de cada ser humano, e faz nele sua morada definitiva. Não é hóspede, nem passageiro, nem visitante, é habitante. Compreendeu que qualquer ser humano, em qualquer situação de vida, no alto do precipício ou nas profundezas do abismo, no gozo da paz celestial ou na amargura de um sofrimento medonho é templo irremovível da Trindade, e não há força nesta terra nem nos céus, nem religião nem doutrina, que possa separar o ser humano do amor de Deus.

Para padre Arnaldo Cabral, por sua sabedoria e juventude teológica.

Assuero Gomes – do grupo cristão O Dom da Partilha

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