
Sob o abrigo de
Cristo, o Redentor.
Um dos primeiros títulos com o qual se referiram a Jesus foi
o de redentor. Ora, segundo a tradição judaica daquele tempo, quando uma
família se empobrecia a tal ponto que não conseguia saldar suas dívidas,
geralmente pela morte do patriarca, então sua terra era dada como garantia e
seus filhos eram obrigados a trabalhar para o credor até que a dívida estivesse
paga. É evidente que no ano jubilar, de cinquenta em cinquenta anos, que
corresponde ao ano seguinte de sete vezes sete anos, todas as dívidas eram perdoadas
e os filhos mandados de volta às suas famílias. No entanto, se o irmão mais
velho conseguisse juntar o suficiente e resgatasse a dívida ele era chamado de
o redentor.
Na teologia clássica, a humanidade tinha uma dívida com o Criador
por causa do pecado, consequentemente vivíamos sob o jugo da lei, como escravos
subordinados a ela; ora Jesus com o cumprimento fiel da sua missão até a
própria morte, nos resgatou dessa dívida antiga. Ele é, portanto o Redentor.
Podemos ser como que redentores de irmãos e irmãs nossos,
deserdados da vida, escravizados por um sistema social injusto e pecaminoso.
Gostaria de assinalar a instituição Abrigo Cristo Redentor,
aqui no Curado, Recife, atualmente mantida pelo Rotary Club do Recife, sob a
direção do companheiro Alfredo Correa, e que completa 70 anos.
Quando penso no abrigo, penso no resgate da dignidade da
pessoa humana, muitas vezes abandonadas pelos seus familiares e até mesmo
pessoas que nunca os conheceram. Penso nas histórias de vida, rotas,
esfarrapadas, violentadas, e que de alguma maneira, à medida do possível, foram
retomadas e restauradas no Abrigo.
Nossos velhinhos têm seus momentos felizes, como sopros do
que deveriam ter sido. São acolhidos, respeitados, tratados, assim como faz e
ensina nosso Redentor, pois Jesus só se torna visível, na medida em que seus
seguidores procuram agir como Ele, cuidando da Vida.
Nossa vida definitiva, nossa terra definitiva, não é aqui
nessa Terra, porém ela começa aqui, nesse tempo de agora. É uma vida que deve
ser partilhada, como o será na eternidade. Uma vida que resplandece no serviço,
muito mais que nas orações ou manifestações religiosas ruidosas.
No abrigo vivem e convivem muitas histórias, há lembranças e
saudades, um pouco de futuro, alegria, testemunhos de vida de quem serve ao
próximo, vários voluntários dedicados, freiras, leigos. Espaço amplo e arejado,
asseado, digno; de tal maneira que se nota a mão com a cicatriz do prego,
aspergindo uma bênção por sobre todos, invisível e salutar, benéfica e rica de
graças.
Que o sinal de serviço que emana do Abrigo Cristo Redentor
ilumine o coração de muitos homens e mulheres, e que essa história de uma
caminhada de 70 anos, continue sempre mais alargando e aplainando o caminho dos
que ainda vão chegar.
Paz e bem!
Assuero Gomes
Médico e escritor
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