Igreja e fé
Como os cristãos sentem a presença
de Deus na Igreja?
Algumas pessoas vão à missa, não
por obrigação, e sim por necessidade de se sentir menos fraco, ou ainda se
fortalecer para enfrentar a vida, independente do padre ou do bispo que está
pregando, como uma forma de estar mais próximo ao Cristo, e assim não perder o
compromisso com o Reino. Isto é um problema psicológico a ser respondido pela
ciência ou uma necessidade da criatura humana se relacionar com o Criador?
Você como uma pessoa de Fé
consegue sentir isto na igreja (templo)?
A Igreja tem quatro dimensões. Uma
dimensão escatológica, uma social, uma espiritual e uma física, se pudermos
assim colocar para uma abordagem pedagógica. Da mesma maneira que nós temos
quatro imagens/janelas: uma é a imagem que temos de nós mesmos e a refletimos
para os outros, outra a imagem que os outros têm de nós e a conhecemos, outra
ainda a que os outros têm de nós e não conhecemos e uma quarta imagem é a que
temos de nós e nem mesmo nós a conhecemos (inconsciente).
Todas essas imagens e modelos não
são estanques, ora se separam ora se confundem.
A Igreja propicia no seu ambiente
físico uma aproximação física, emocional e intelectual entre pessoas, que ali
procuram vivenciar sua fé, junto àqueles que lhe são semelhantes. Há um
encontro de carências afetivas, econômicas, psicológicas, e espirituais. É como
se por alguns momentos durante uma semana de águas atribuladas, encontrássemos
uma barca (um dos símbolos da Igreja) e todos os semináufragos pudessem se
tolerar uns aos outros com os seus defeitos e virtudes, limitações e aspirações
(veja a questão das imagens de nós mesmos, refletidas), a fim de escaparem das
turbulências.
A questão é que nessa barca há uma
figura histórica, espiritual, física e psicológica, escatológica
(transcendente), real, que se chama Jesus. E que faz uma refeição com todos.
Que ama de maneira radical e sem limites a todos. Que acolhe a todos. Que
escuta e atende a todos. Que não entende o ser humano estratificado ou
hierarquizado em “psicológico”, “biológico”, “espiritual”. Todos são um e um é
todos, individualmente, mas na completude um do outro, fazendo em si seu
próprio Corpo. Esta é a dimensão escatológica da Igreja, na medida em que
aponta para o futuro definitivo, um misterioso futuro que já iniciou agora, mas
ainda não é pleno, onde se confunde em alguns momentos com o próprio Reino (que
é bem mais amplo que ela).
Nessa barca o aleijado ajuda o
cego que ajuda o surdo que alimenta o esfomeado que dá água ao sedento que
liberta o preso que cuida do doente que acolhe o migrante que veste o nu, cada
um ajudando ao outro nas suas deficiências, formando um só corpo saudável e
pleno em estatura e desenvoltura, desenvolvido em todas as suas
potencialidades. É nessa barca que praticamos (ou deveríamos praticar) o
exercício da fraternidade, que nos torna mais e mais parecidos com Jesus e cada
vez menos com nossas imagens distorcidas e anacrônicas.
A eterna busca dos amantes é parecer
com o amado, é incorporar a imagem
do outro, até se tornar um só. Por isso as crianças se desenvolvem mirando-se
na imagem dos pais e tentando ser como eles. Os jovens procuram seus ídolos e
se vestem e se portam como eles, introjetando suas imagens. As equipes esportivas
com seus treinadores ou líderes, e assim por diante.
Creio que a Igreja é uma barca
construída com fragmentos de várias madeiras, com remendos e imperfeições, que
carrega no seu bojo, humanos imperfeitos com sua fé fragmentada e às vezes até
atordoada, mas que resiste por causa do timoneiro, pois só Ele pode acalmar o
mar e os ventos.
Assuero Gomes
Cristão católico leigo da
Arquidiocese de Olinda e Recife
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