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domingo, 22 de julho de 2012

Igreja e fé




Igreja e fé



Como os cristãos sentem a presença de Deus na Igreja?

Algumas pessoas vão à missa, não por obrigação, e sim por necessidade de se sentir menos fraco, ou ainda se fortalecer para enfrentar a vida, independente do padre ou do bispo que está pregando, como uma forma de estar mais próximo ao Cristo, e assim não perder o compromisso com o Reino. Isto é um problema psicológico a ser respondido pela ciência ou uma necessidade da criatura humana se relacionar com o Criador?

Você como uma pessoa de Fé consegue sentir isto na igreja (templo)?

A Igreja tem quatro dimensões. Uma dimensão escatológica, uma social, uma espiritual e uma física, se pudermos assim colocar para uma abordagem pedagógica. Da mesma maneira que nós temos quatro imagens/janelas: uma é a imagem que temos de nós mesmos e a refletimos para os outros, outra a imagem que os outros têm de nós e a conhecemos, outra ainda a que os outros têm de nós e não conhecemos e uma quarta imagem é a que temos de nós e nem mesmo nós a conhecemos (inconsciente).

Todas essas imagens e modelos não são estanques, ora se separam ora se confundem.

A Igreja propicia no seu ambiente físico uma aproximação física, emocional e intelectual entre pessoas, que ali procuram vivenciar sua fé, junto àqueles que lhe são semelhantes. Há um encontro de carências afetivas, econômicas, psicológicas, e espirituais. É como se por alguns momentos durante uma semana de águas atribuladas, encontrássemos uma barca (um dos símbolos da Igreja) e todos os semináufragos pudessem se tolerar uns aos outros com os seus defeitos e virtudes, limitações e aspirações (veja a questão das imagens de nós mesmos, refletidas), a fim de escaparem das turbulências.

A questão é que nessa barca há uma figura histórica, espiritual, física e psicológica, escatológica (transcendente), real, que se chama Jesus. E que faz uma refeição com todos. Que ama de maneira radical e sem limites a todos. Que acolhe a todos. Que escuta e atende a todos. Que não entende o ser humano estratificado ou hierarquizado em “psicológico”, “biológico”, “espiritual”. Todos são um e um é todos, individualmente, mas na completude um do outro, fazendo em si seu próprio Corpo. Esta é a dimensão escatológica da Igreja, na medida em que aponta para o futuro definitivo, um misterioso futuro que já iniciou agora, mas ainda não é pleno, onde se confunde em alguns momentos com o próprio Reino (que é bem mais amplo que ela).

Nessa barca o aleijado ajuda o cego que ajuda o surdo que alimenta o esfomeado que dá água ao sedento que liberta o preso que cuida do doente que acolhe o migrante que veste o nu, cada um ajudando ao outro nas suas deficiências, formando um só corpo saudável e pleno em estatura e desenvoltura, desenvolvido em todas as suas potencialidades. É nessa barca que praticamos (ou deveríamos praticar) o exercício da fraternidade, que nos torna mais e mais parecidos com Jesus e cada vez menos com nossas imagens distorcidas e anacrônicas.

A eterna busca dos amantes é parecer com o amado, é incorporar a imagem do outro, até se tornar um só. Por isso as crianças se desenvolvem mirando-se na imagem dos pais e tentando ser como eles. Os jovens procuram seus ídolos e se vestem e se portam como eles, introjetando suas imagens. As equipes esportivas com seus treinadores ou líderes, e assim por diante.

Creio que a Igreja é uma barca construída com fragmentos de várias madeiras, com remendos e imperfeições, que carrega no seu bojo, humanos imperfeitos com sua fé fragmentada e às vezes até atordoada, mas que resiste por causa do timoneiro, pois só Ele pode acalmar o mar e os ventos.



Assuero Gomes

Cristão católico leigo da Arquidiocese de Olinda e Recife

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