O
Partido dos Insetos
Poderia se chamar “os insetos do
partido”, mas por respeito aos insetos mantenho o título acima. Respeito digo,
porque esses nossos irmãos menores, companheiros navegantes desta nave mãe, a
Terra, não foram dotados pelo Criador da grande e misteriosa bênção (ou seria
maldição?) da liberdade de escolha, e portanto são inimputáveis das
consequências de seus atos.
A tentação, embora incorreta, de
ler a natureza sob o prisma antropocêntrico, faz-me pensar em analogias,
especialmente neste tempo propício, sobre o mundo dos insetos e o mundo dos
humanos.
Vivendo política, comendo
política, respirando política e expelindo política, sendo governados por
políticos, pois somos animais políticos, mesmo quando dizemos que somos
apolíticos. Vejamos, pois, as semelhanças e diferenças entre os insetos e os
políticos.
Há insetos que são “intelectuais”
e sobrevivem da cultura que outros produzem, pois, como as traças, se alimentam
de letras, trechos, discursos e até de livros inteiros que outros escreveram.
Outros há que mudam de cor se adaptando ao ambiente onde se encontram. Alguns
são saprófitos como as moscas que vivem da carne de cadáveres em decomposição,
e às vezes voam tão alto, que se tornam azuis.
As baratas, que são dignas do
asco das mulheres principalmente, vivem em praticamente qualquer mundo
subterrâneo, aparecendo de quando em quando, desde esgotos fétidos, caixas de
gordura, fossas sanitárias, em cozinhas palacianas da nobreza, às festas dos presidentes
e sua coorte. Os gafanhotos invadem as
plantações alheias e devoram o que os outros plantaram, mas são petiscos
manipulados de aves vorazes. As abelhas são eficientes, porém têm um sistema
ultraconservador de administrar, já as cigarras, que cantam, cantam, cantam e
cantam mais, até morrer, alheias ao trabalho dos outros, tornando o sistema
aparentemente mais feliz e eficaz.
Há no entanto um tipo de inseto,
a Vespa Gigante, que é cruelmente perverso. Fonte de inspiração para o filme
“Alien”, ela inocula seus ovos no ventre da vítima (geralmente uma lagarta ou
aranha). O requinte é que, com os ovos injeta também pedaços de vírus que vão
bloquear o sistema imunológico do hospedeiro. As larvas que vão nascer se
alimentam das substâncias vivas do corpo da lagarta, elas então vão devorando
partes não vitais preservando o equivalente ao cérebro e ao coração da infeliz,
que serão apreciados por último. Nas tentativas de expulsão destes indesejáveis
hospedeiros entre contrações terríveis, quando notado pela vespa mãe, esta
inocula uma espécie de anestésico na cabeça da lagarta para que ela fique
imóvel, mesmo sentindo dores. Desta maneira os filhotes da Vespa Gigante se
desenvolvem e dominam todo o corpo que lhe serviu de alimento, deixando apenas
a carcaça sem vida, ao final.
Alguns políticos e seus partidos
são como os insetos, com o devido perdão dos insetos. Colocam seus pupilos
(como ovos e larvas) em todos os níveis e sistemas da nação, brigam por cargos
e comissões, fazem acordos à meia noite e à meia luz disputando desde os postos
mais simples ao mais alto do país. Essas larvas vão se multiplicando e sugando
a seiva e o corpo do país, mantendo-o vivo, para que o banquete seja mais suculento,
esvaziando seu sistema de defesa e anestesiando as consciências.
Alguns políticos e seus partidos
são como os insetos, com o devido perdão...
Assuero Gomes
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