Os sete pecados do Capital
Durante a antiguidade, especialmente na época de ouro da
Grécia alguns “defeitos” ou fraquezas humanas foram elencados e posteriormente
classificados pela Igreja como “pecados” ou vícios, que prejudicariam a vida
dos homens e das mulheres. Seriam eles: a Gula, a Avareza, a Luxúria, a Ira, a
Inveja, a Preguiça e a Vaidade (ou Orgulho, ou Soberba).

Tive a alegria, e por que não dizer, a felicidade, de ver
uma belíssima pintura antiga de Hieronymus Bosch (1450-1516), no Museo deo
Prado em Madrid, a qual admiro desde a adolescência, que retrata de forma
magistral esses “sete pecados”.
Para contrapor a essas sete fraquezas, a Igreja orientou
seus fiéis a buscarem sete virtudes sagradas, nesse contraponto: Temperança,
Generosidade, Castidade, Paciência, Caridade, Diligência e a Humildade.
É evidente que a moderna ciência nas áreas da biologia,
medicina, filosofia, psicologia, sociologia e teologia, tem um olhar muito mais
abrangente que se tinha na Idade Média. Muitos desses “pecados” podem e devem
ser avaliados à luz dessas áreas de conhecimento humano.
No título desse artigo propositalmente refiro-me aos sete
pecados capitais, como “do Capital” para que possamos ter uma chave de leitura
baseada na sociedade moderna.
Apesar de todo esforço da Igreja e de seus teólogos mais
eminentes como Agostinho e Tomás de Aquino, e de sua catequese tridentina
maniqueísta e ainda de sua ameaça com as chamas eternas de um Inferno
claudicante ou de um Purgatório extremamente prolongado, os sete pecados estão
vencendo as virtudes.
No mundo atual pós-moderno, onde Deus passa a ser “algo”
indiferente para grande parcela da população intelectualmente mais
desenvolvida, especialmente na Europa, e onde o capital chega a ser adorado em
verdadeiro culto de latria e o mercado torna-se a grande igreja, vale a pena se
refletir sobre tudo isso e para onde se está levando o mundo e com ele as
pessoas humanas.
Mesmo em algumas religiões ou denominações cristãs a
teologia da prosperidade está grassando, o que não deixa de ser uma heresia
camuflada, uma vez que muda o foco do culto a um Deus único e libertador para o
culto de uma troca de “favores” ou um deus de mercado: se eu der uma oferta polpuda
receberei uma benção ou uma graça maior.
O que vejo é uma inversão de valores a tal ponto que os sete
pecados capitais são na verdade, hoje, tido como virtudes e as virtudes
sagradas como defeitos ou fraquezas.
Podemos analisar e refletir um a um e constataremos tal
fato, mas já a uma primeira vista, veremos que quanto mais rico se é mais se
caminha para o prazer gourmet, mais se torna mesquinho e indiferente para com o
próximo, mais se entrega aos prazeres do sexo (Porneya), mais exigente e
intransigente se é, mais se deseja que o outro tenha menos que você, mais se
entrega ao ócio e se acha infinitamente superior ao outro.
Para onde vamos?
Assuero Gomes
Médico e Escritor
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