
"VAMOS TODOS SER COMUNIDADE, EM CRISTO!"
Texto do editorial do Jornal Igreja Nova
de Dezembro de 1992
O grande mistério do Natal do
Senhor, vem desafiando os homens de toda as épocas. Quem mais se aproximou de
uma fímbria de luz deste mistério, foi sem dúvida João, no prólogo de seu
evangelho, quando chama Jesus Palavra de Deus encarnada e enviada aos seus, e
vai mais além, quando diz que os seus não o receberam, que Ele armou sua tenda
entre nós, e ainda que deu poder àqueles que o receberam de se tornarem filhos
de Deus. Eis toda teologia, toda cristologia, dogmática, moral, soterologia,
missiologia, resumida em poucas linhas, que juntamente com a maior e mais
profunda definição de Deus jamais proferida por lábios humanos: Deus é amor,
fazem da reflexão joanina o essencial da reflexão do Natal!
`Quando se afirma que Jesus se
encarnou, implicitamente aceitamos que Ele assumiu em tudo a humanidade, com
exceção do Pecado, portanto assumindo uma cultura e uma época, Jesus se
inculturou. Jesus assumiu a cultura judaica, mantendo o espírito crítico, mas
sempre densamente inculturado. Quanta lição para os nossos missionários. Quanta
lição para a própria Igreja, toda ela missionária, principalmente agora nos 500
anos de celebração (de penitência, deveria) e que planeja a Evangelização
2000!
Quanto ensinamento para as
seitas e para os movimentos dentro do catolicismo, que querem prescindir das
mediações humanas para promover o bem estar físico, mental e social do Homem,
indo de encontro a pedagogia do próprio Filho, que assumiu plenamente sua
humanidade!
Gravíssima constatação de
João, quando diz que os seus não O receberam. Ele veio para toda a criatura
humana, veio e continua vindo. Com se recebe Jesus? Ele mesmo nos responde em
Mateus: "Toda vez que deixaste de receber um destes pequeninos, foi a mim que
não recebeste..."
Quanta luz para aqueles que pensam
e praticam uma religião voltada para o espiritual, achando que o homem
desnutrido, com o corpo consumindo a própria carne, pode filosofar uma religião
preocupada com a sua alma...
Ele não quis templo, palácio
catedral. Não quis o corpo de príncipe, imperador, sumo sacerdote. Ele armou sua
tenda, num carpinteiro da zona rural, da periferia. Ele resgatou o tempo da
sociedade tribal de Israel, logo após seu Pai Ter libertado o Povo da escravidão
do Egito e Ter dado a terra de Canaã, onde todos eram iguais em direitos e
deveres, em posse de terra e bens, e onde não havia templo nem exército, e a
arca de Deus perambulava entre as tribos, sob uma tenda.
Mas a àqueles que o receberam, deu
o poder de serem filhos de Deus!
Eis ai a grande lição do Natal.
Qual o resultado da fecundação da Palavra entre a Humanidade? É o nascimento da
comunidade, que é o próprio Jesus encarnado, no seu corpo místico. Toda vez que
a Palavra gesta uma comunidade, aí o Natal do Cristo se faz presente. Nada há de
mais sagrado que a comunidade! Nem religião, nem imagens, nem instituições, nem
ritos, nem celebrações desencarnadas da realidade.
Só há Natal se houver
COMUNIDADE. Fora disso é festa pagã, é comemoração, é fuga, é teatro, é
tradição, pode até ser filantropia, mas certamente não é o nascimento de
Jesus.
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