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domingo, 9 de julho de 2017

14 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 14



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14   Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife  14



A atuação de D. José frente à arquidiocese era um verdadeiro desastre pastoral.Devemos por motivo de justiça registrar algumas coisas: ele não pediu para vir, pelo contrário, fez tudo que podia para não aceitar essa incumbência porém a cúria do Vaticano queria 'arrumar' Olinda e Recife que eles achavam uma bagunça, rezando a lenda que D. Helder só vivia viajando e não ligava para a administração, que o barco corria solto, era permissivo, os padres faziam o que queriam e muito mais dessas maledicências. Houve o dedo forte de D. Eugênio Sales, então arcebispo de Natal e muito influente no Vaticano (como ele mesmo achava, tendo doze cargos lá). Chegou a bater no ombro de D. Helder e dizer: 'não se preocupe que eu vou lhe mandar um substituto à sua altura' (queria se referir à estatura física ?). Outra coisa sobre D. José: ele acreditava piamente no que praticava e achava mesmo que estava fazendo um bem enorme à Igreja.
Começou a receber denúncias contra padres. Nós sabemos que as fofocas das paróquias de grupos que gostam mais de um padre que de outro, de gente que perde 'cargo' na paróquia, de disse-me-disse, tudo confluía para queixas nos ouvidos de D. José, além do mais, havia um grupo pequeno de padres que se sentiram desprestigiados com D. Helder e ficaram fomentando nos bastidores uma resistência contra seu pastoreio. D. José dava ouvidos a tudo isso e colecionava 'dossiês' contra esses padres. 
Começou a transferi-los de paróquias, a removê-los e até mesmo a não mais renovar as licenças de ordens e congregações para atuarem aqui na jurisdição da arquidiocese.
O grupo de Frei Aluizio e mais uns padres da Pastoral da Terra (desarticulada) atuou em favor dos sem-terra (eu mesmo fui até o acampamento em Aldeia para atender alguns deles levando medicamento) e procurando assentamento. Após longo processo e muita ajuda com coleta de alimentos, assistência jurídica e espiritual, eles conseguiram esse sonhado assentamento num trecho da BR 101 antes de Goiana.
D. José expulsou muitos padres estrangeiros que vieram aqui trabalhar no meio dos pobres desde o início da chegada de D. Helder.
Registro os padres da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, cujo fundador Pe. Dheon tinha um carisma especial pelos trabalhadores. O seminário deles é instalado no bairro da Várzea, num local aprazível, excelente para retiros (realizamos alguns por lá). Conheci padre Renato dessa congregação, quando eu ainda trabalhava no município de Paulista, perto do Recife. O primeiro contato foi numa celebração para abençoar as instalações da nova secretaria de saúde e lembro bem, o grupo cantou a Ave Maria mãe morena e Renato fez uma pregação muito forte em favor dos pobres e contra os políticos, inclusive o prefeito e vereadores presentes. depois nos tornamos amigos.
Muitos padres (creio que algo em torno de trinta) se reuniram e formaram a Associação Pe. Henrique, independente e com uma postura de resistência contra os desmandos de D. José Cardoso. Pe. Arnaldo era um dos fundadores e nós vibramos muito com isso. Elaboraram uma carta demonstrando sua posição, tudo isso dentro da estrita observação evangélica de indignação profética e defesa contra injustiça.
O olho de D. José se voltava contra os padres signatários dessa carta. Tinha em mãos, o que ele achava que era munição, uma lista do clero desobediente.
Dessa época também minha aproximação com a irmã Ivone Gebara, muito admirada por Pe. Arnaldo desde o tempo em que ela lecionava no ITER e o padre era diretor e também com Comblin. 
O raio caiu no Morro da Conceição, e veio o decreto para a expulsão do padre Reginaldo Veloso.
O tempo esquentou como numa chapa posta em um vulcão.







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