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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

38 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 38



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38 Minhas memórias da Igreja de Olinda e Recife 38



A vida de D. Helder é incrivelmente rica de detalhes, de histórias, de interações com a vida do outros. O que mais me impressiona nele (para mim ele continua vivo) é a coerência da sua pregação, da sua crença pessoal e da sua atitude de vida. Era o mesmo na intimidade como na vida pública. Extremamente pudico, praticava uma ascese toda própria ao submeter sua vida a uma rotina monacal.
Quando publiquei o livro Partindo de Emaús, certa vez sabendo que D. Helder estava na Matriz do Espinheiro com Pe. Arnaldo, peguei um exemplar e pedi para que o Dom escrevesse algo, uma espécie de dedicatória para mim mesmo para eu guardar. Ele olhou para mim, olhou para Pe. Arnaldo, olhou para o livro, olhou para cima, e depois de uns minutos escreveu apenas "+ Helder Camara".
Pe. Arnaldo depois comentou comigo 'estás pensando que o velho (o chamava assim de maneira carinhosa como a um pai) não está ligado nas coisas?' Como eu batia muito de frente com as atitudes de D. Cardoso...
Nesse dia (era de tarde) ele e padre Arnaldo ficaram esperando um casal que tinha combinado com o Dom para que batizasse o filho ali no Espinheiro. Pois bem, demoraram mais de três horas. Pe. Arnaldo já estava revoltado com a demora e o descaso do casal para com D. Helder, que nessa época já estava fragilizado. Queria suspender, mas o Dom não deixou, e com toda paciência recebeu a família e batizou a criança. Quem conhece Pe. Arnaldo sabe como era pontual. Nessa tarde ganhei um lenço que D. Helder deixou lá com Pe. Arnaldo.
Outro episódio interessante, acontecido bem antes, no qual o arcebispo argentino D. Jerónimo Podestá veio aqui ver e conversar e se aconselhar com o Dom. Veio acompanhado de Clelia, sua secretária. D. Helder chamou o Pe. Félix e pediu para que acompanhasse os dois enquanto aqui estivessem. 'Mostre a eles os mocambos e alagados, os morros. A periferia, mas mostre também o lado bonito da natureza, as praias'. Tudo bem. Félix foi com eles e assim fez. Não lembro agora qual foi a praia. Depois, quando voltaram, D. Helder perguntou ao padre se havia mostrado tudo, ao que ele respondeu que sim, mas que havia acontecido uma coisa estranha, pois no final o bispo entrou na praia com a secretária.... D. Helder não deixou ele continuar e disse, vamos rezar por eles.
Na verdade Podestá e Clelia vieram pedir conselhos ao Dom sobre o romance dos dois, ao que o Dom teria dito que iria rezar pelos três. 
Tempos depois assumiram publicamente, ele renunciou ao seu bispado na Argentina, conheci-os pessoalmente quando vieram uma segunda vez. Clelia veio outra vez e lançou um livro. 
Ele tornou-se um dos raríssimos casos de bispo casado, defendeu o movimento dos padres casados, mas além de tudo foi um grande nome na Igreja da América Latina. Morreu pobre e esquecido e o único membro da Igreja Católica que foi visitá-lo no hospital em Buenos Aires (2000) foi Jorge Mario Bergoglio. 


 





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